the orange room

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“Melhores amigos!” – Eu respondi, rapidamente.

Mary me olhou desconfiada, parecia que já me conhecia bem. Eu tinha medo de descobrir que o que sinto pelo Ed, na verdade era carência ou eu não sabia diferenciar amizade. A maneira que ele trata as pessoas é tão diferente, deixa seu coração confuso e apaixonado. O meu agora estava confuso, a um passo do caminho sem volta. Mary decidiu voltar para casa e a acompanhei. Mal nos sentamos no sofá, para assistir um filme que passava na tv a cabo, Ed tocou a campainha. Abri a porta e ele estava com seu violão pendurado no ombro direito. Nos sentamos no chão da sala e Mary não tirava os olhos da gente.

“Não vai te incomodar?” – Ele perguntou para ela.

“De forma alguma! A menos que eu atrapalhe vocês.” – Disse Mary.

“Claro que não! Pode ficar!” – Disse Ed. –“Pera, a casa é sua, eu não posso... ah...”

Mary riu do confuso e envergonhado Ed.

“Bom, vou procurar mais trechos aqui no meu caderno.” – Eu disse.

“Me diz que eu anoto.” – Disse o Ed, pegando a caneta.

Li várias páginas e poucas coisas absorvi. “Com outro grito, eu vou procurar outro lugar para eu morrer”. Não aguentava meus pais gritando comigo o dia todo. “Você jogou a minha vida no lixo”. Trechos que escrevi ainda no Brasil. Ed começou a tocar seu violão em busca de um ritmo. O ajudei a juntar as palavras, mas ele fez grande parte sozinho.Foram precisos quarenta minutos, para ele enfim dizer:

“Acho que está pronta!” – Disse ele, olhando para o caderno.

Ed começou a cantar a música a qual ele deu o nome de “Folhas de outono”, porque nos conhecemos no outono. Ele começou a cantar e um filme passou pela minha cabeça. A música definia tudo o que já me aconteceu até este momento. Minha vida não era exatamente como na música, mas grande parte dela estava presente, como verdade ou como metáfora.  

“Por que tem ‘Miss you’ na música?” – Perguntei.

“Não é uma música nossa? É tudo o que sentiria se você fosse embora.” – Ele disse.

Acho que meu coração parou por alguns segundos e não era uma sensação ruim. Queria poder ouvir Ed dizer isso novamente, mas ele poderia sentir minha falta com relação a amizade. Eu tenho mesmo que parar de confundir as coisas, isso não faz bem. Eu não conseguiria dizer que essa é a música mais perfeita dop Ed porque ele escreveu outras em minha presença tão lindas quanto. Mary aplaudiu a música e a acompanhei. A história de Ed estava apenas começando, agora eu tinha certeza.

A música não saia da minha cabeça, passei todo o domingo, sem Ed, cantarolando a música.  Ele foi para Londres com sua mãe, resolver coisas sobre seu primeiro EP. Pela primeira vez, decidi entrar na internet. O computador ficava em um pequeno quarto, o qual Mary denominou como escritório. Inúmeros livros em três estantes, completamente cheias. O computador estava localizado ao lado da menor estante próxima a janela. Ao entrar na internet, decidi procurar notícias do Brasil. Tinha minhas dúvidas se meus pais ainda estavam presos. Não deveria temer nada, afinal, por segurança, não disseram onde estou. Vi algumas notícias recentes sobre o que aconteceu no país e cada vez mais ficava feliz por agora estar na Inglaterra. Só notícias de violência, roubo, morte. Meu celular tocou enquanto eu lia uma matéria de um jornal do Rio. O nome de Ethan piscava na tela.

“Ethan?” – Perguntei ao atender.

“Oi, Yolanda. Tudo bem? É que, não tenho nada para fazer hoje e queria saber se aceita ter aula de violino.” – Ele disse.

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