Tem mais para oferecer

815 57 4
                                    

A mulher afirmou com a cabeça, enquanto se levantava, com sua bolsa vermelha pendurada no ombro esquerdo.

“Eu não...”-Ela pigarreou. –“Tenho onde dormir. Juro que parei de beber, estou sem dinheiro e não tenho onde dormir. Soube que Camilla está morando aqui.”

Apesar de, grande parte do prédio nos conhecer por outros nomes, os porteiros e o sindico estão cientes de nossa história, somente o necessário.

“Aposto que parou de beber por estar sem dinheiro.” –Eu disse.

Ela não disse nada, assim como eu, que fiquei olhando para ela sem saber o que fazer.

“Poderia interfornar para o Pedro, pedindo para ele descer? Por favor.” –Disse ao porteiro. Não demorou muito, e Pedro já estava na porta do elevador, chocado com a figura daquela mulher. Então, era ela mesmo.

“Me dê um abraço.” –Ela disse, sorrindo sem graça. –“Sou eu. Joana.”

“Vai embora.”

“Eu não tenho para onde ir...” –Ela começou a chorar.

Fiquei observando, de braços cruzados, toda aquela cena dos dois e vi que Joana estava suja, realmente parecia que não tinha onde dormir há alguns dias já.

“Vamos subir.” –Eu disse.

“O que?” –Pedro se virou para mim. –“Está... está maluca?”

Seu tom de voz estava, irritantemente, alto, enquanto eu tentava anter minha calma e controle da situação.

“Vamos conversar lá em cima.” –Eu disse, quase que sussurrando, a um passo de me estressar.

Sozinho, Pedro foi sozinho no elevador, no obrigando a esperar.

“Ele está...”

“Não fale comigo, Joana.” –Falei, sem me virar para ele.

Quando abri a porta do apartamento, a conversa entre Camilla e Pedro se calou assim que Joana passou por mim e entrou na sala. Tão assustada quanto Pedro lá embaixo, Camilla não disse nada e se trancou no quarto.

“É simples.” –Pedro começou a dizer. –“Você não pode ficar.”

“Mas eu não tenho para onde ir!” –Rebateu a mulher.

“E desde quanto isso me importa?” –Pedro voltou a perder o controle de sua voz. “Você nunca se importou com Camilla e agora, se lembra de nós porque não tem onde morar? Você já é uma mulher adulta! Tem trinta e poucos anos. Sabe se virar!”

Joana teve Camilla aos dezesseis anos, a mesma idade a qual Camilla terá seu primeiro filho. Ela parecia doente e acabada com seus 30 anos, muito magra demais, cabelo sem vida, sem brilho, fedia a cigarro, mas parecia que ela não fumava.

“Eu segui Camilla após a aula.” –Confessou Joana. –“Sempre fui atrás de vocês na pousada, mas ela não existe mais.”

Nessa hora, Camilla saiu de seu quarto, parecendo convicta de ter uma séria conversa com Joana. Notando o que estava para acontecer, puxei Pedro pelo braço que, no início, relutou por permanecer na sala, mas logo me acompanhou. Conseguíamos ouvir grito abafado pelo choro, e mais e mais gritaria. Resolvi que era hora de intervir, pois poderia afetar a saúde do bebê, então levei um copo com água gelada para Camilla, que suava e estava vermelha. “Essa conversa, acaba aqui.” –Eu disse.

Levei Camilla para o seu quarto e, ofegante, se sentou na cama.

“Ela não pode ficar.” –Disse Camilla.

Folhas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora