Há quanto tempo?

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"Você perdoou sua mãe."

"Mas é minha mãe." —ela deu de ombros.

"E ele é meu noivo."

"O que não significa muita coisa."

Camilla desviou, rapidamente, a atenção para a sua barriga.

"Ai! Meu Deus!" —Ela disse, passando a mão pela barriga.

"O que foi?" —Perguntei, preocupada.

"Ela tá..." —Ela parou de falar, em reação a algo que sentiu. — "Mexendo!" —Ela puxou minha mão.

Encostei em sua barriga e, o sorriso que ela tinha no rosto, foi transformado em decepção pelo fato de Penny ter parado.

"Não gostou da tia Yolanda." —Eu disse, rindo. —"Pode ir para o seu quarto, com sua mãe. Vou ficar bem."

Fiquei sorrindo, acompanhando, com os olhos, Camilla caminhar em direção ao seu quarto e, assim que a perdi de vista, relaxei. Eu tinha tanta coisa na minha cabeça, mas não conseguia pensar em nada, me perdendo em um olhar fixo para o chão. Eu estava confusa e sozinha, abraçando minhas pernas, sentada no meio do sofá. Cada pequeno barulho parecia tão alto naquele silêncio, principalmente dos carros que ainda passavam na rua. Do chão, meus olhos foram atraídos para a janela e por lá viajaram também, até que ouvi um celular tocar. Voltei a minha atenção ao som que vinha do corredor dos quartos e na quarta vez que tocou, me lembrei que o som era do celular de Pedro, o que me fez levantar do sofá rapidamente. Quando cheguei no quarto, procurei onde ele tava e o encontrei na mesa de cabeceira no lado da cama que era de Pedro.

"Martina..." —Eu li na tela e pensei se atenderia ou não. —"Alô?"

"Não achei que você fosse atender."

"Não achei que você teria coragem de pisar na minha casa."

Martina ficou em silêncio.

"Bom, eu queria falar com Pedro e, pelo visto, tenho que desligar."

"Não. Não." —Disse antes que ela conseguisse desligar. — "Quero você na minha casa amanhã. Pra eu olhar na tua cara e falar tudo o que estou pensando de você!"

"Não acho que seja necessário."

"Não?"- Gargalhei, ironicamente. "Do nada ficou com vergonha de sair de casa? Não tem problema, eu vou ai."

Martina desligou tão rápido quanto eu havia dito a frase. Com raiva, joguei o celular de Pedro sobre a cama e gritei, sem me importar que já era madruga e todos estavam dormindo, mas isso não fora o suficiente. Eu ainda sentia uma enorme angústia presa na garganta e, agora consciente, eu ameaçava a gritar, mas não fazia. Me joguei na cama e reparei cada detalhe do teto na esperança de conseguir dormir sem perceber, mas meus olhos não pareciam querer fechar e a hora demorava a passar. O barulho dos carros começou a diminuir e o silêncio era quase pleno, tanto que consegui ouvir a baixa TV, ainda ligada, no quarto de Camilla. Minha mente buscava algo com o que se distrair, mas a atenção não durava muito. É com os tropeços que aprendemos a nos manter firmes, com as quedas, aprendemos nos levantar e só apanhando, para aprender amar.


Acabou que não dormi e fiquei, da janela, assistindo o dia nascer, enquanto eu tomava café. Os pássaros começaram a cantar nas árvores, quando Camilla passou correndo para a cozinha.

"Bom dia." —Ela disse, assim que retornou.

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