Marcela

752 52 4
                                    

Suas mãos sujas tocaram meu rosto, eu estava tão presa a seu rosto que nem consegui evitar que esse toque acontecesse. Vi que Teddy se aproximou pelo lado esquerdo, talvez tentando impedi-la e, sem tirar os olhos dela, levantei meu braço pedindo para que ele deixasse. Ela tocava em cada pequena curva do meu rosto. Passou a mão em meu cabelo e foi quando, finalmente, sorriu. Seus dentes ainda tinham boa aparência, tirando um pouco do amarelado. Eu não tinha certeza se era ela, poderia estar cometendo um grande erro, mas era exatamente como eu lembrava de minha mãe, só que agora, mais velha.

"Yolanda..." -Ela disse, em meio ao sorriso.

Certo, então é ela mesmo. Pensei.

"Mmm..." -Tirei as mãos dela do meu rosto e me virei para Joana. -"Leva a Camilla para o apartamento, por favor."

Antes que Camilla falasse algo, Joana fez "shh" para ela, a puxando pelo braço em direção ao apartamento.

"O que está fazendo aqui?"- Me voltei para ela. -"Achei que estivesse presa."

"Eu estava..." -Ela disse, aparentemente lamentando por isso ter acontecido. -"Tive um bom comportamento." -Ela sorriu.

"Mas o que faz em Copacabana?" -Perguntei.

"Bom, eu andei por todos os bairros que eu costumava a frequentar antes de tudo acontecer. Estou há quase um ano nisso..." -Ela disse, pensativa. -"Não tinha para onde ir. Maior parte da minha família está na Itália, agora. E eu não ia atrás do seu pai."

"Você não falou com ele?" -Perguntei.

"Não! Claro que não!" -Ela disse. -"Não o vejo desde o julgamento."

"Desculpa interromper." -Ed começou a dizer, com um sorriso sem graça. -"Mas não querem sentar em algum lugar?"

Olhei ao redor e seguimos em direção a praça, para nos sentarmos no banco que estava livre. Teddy parecia tão perdido, mas não saia de perto. Claro que ele não entendi nada sobre o Português que estávamos usando, mas ele sabia quem era ela, mesmo sem eu dizer.

"Apesar de tudo, lamento por não ver seu pai." -Ela disse.

"O ANTONIO não vale tal lamentação." -Quis enfatizar que era Antonio e não pai.

"Ele havia me prometido que não ia arrumar mais crianças, adolescentes, para pedófilos." -Ela disse. -"Nós mesmo nunca tocamos nessas crianças, apenas precisávamos do dinheiro."

"Isso não muda muita coisa." -Eu disse.

"Eu sei..." -Ela abaixou a cabeça. -"Mas estávamos desesperados pelo dinheiro."

Marcela olhava para Ed, notoriamente constrangida por estar falando sobre isso na frente dele. Ela não tinha reparado que ele havia falado comigo em inglês, logo, não estava entendendo nada do que estava sendo dito. Eu queria poder apresentá-los, mas ainda não estava me sentindo confortável com isso.

Toda hora ela tocava meu rosto e, para a minha terrível surpresa, eu conseguia sentir o sentimento que ela estava tentando me passar e que eu só havia sentido com Mary, o carinho de mãe. Ou eu estava tão desesperada por isso que conseguia até sentir através de seus olhos.

"Mas me conte!" -Ela disse, evitando chorar. -"Como anda sua vida? E esse bonito rapaz?"

Olhei para Ed, sorri para ele, que pareceu aliviado com a minha reação e pensei em tudo o que poderia contar, ali, para ela. Eu queria poder começar dizendo que ela não encontrou Antonio, mas eu, sim.

"Bom, eu me livrei de vocês e fui para Inglaterra, onde conheci ele." -Apontei para Ed com a minha cabeça, mas evitei dizer mais. -"Fui adotada por uma local e ela era a minha verdadeira mãe. Estudei, joguei hóquei, aprendi violino e voltei para cá."

Folhas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora