Gasparzinho

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Me questionei se eu deveria me preocupar com isso ou não. E, juro que tentei, mas não senti nada com essa notícia. Claro que, apesar de tudo, continua sendo um ser humano e que não devo desejar mal a ninguém, mas é fácil falar quando não se passa pelo o que eu passei.

"Ahn..." –Notei que Camilla parecia mais nervosa do que eu. –"E por que está assim?"

"Ué?" –Ela ficou em silêncio. –"É seu pai, afinal. Eu não sabia como você ia reagir, estando assim, tão longe. Fiquei com medo..."

"Está tudo bem."

"Yolanda? Seu pai que morreu."

"Eu entendi, Camilla." –Procurei o que dizer. –"E lamento muito por isso. Mas a gente sente a morte de alguém quando é importante. Pra mim, foi mais uma pessoa que morreu."

"Nossa..." –Ela deu uma risada, nervosa. –"Há quanto tempo ficou tão fria assim?"

"Eu sempre fui, não?" –Sorri. –"Aliás, como foi?"

"Ah!" –Ela se lembrou do que estávamos falando. –"Bom, ele foi assassinado e..."

"Demorou, até." –A interrompi.

"Pois sim." –Ela riu. –"Ahn... desculpe por ter rido."

"Tudo bem." –Sorri em resposta.

"Continuando." –Ela respirou fundo. –"Ele foi assassinado ainda na cadeia. Sabe como é, bandidos tem suas leis, e uma delas é: matar qualquer preso que tenha abusado e/ou matado crianças e idosos. Você se encaixa na lei deles, parece."

"Isso me isenta de alguma coisa?" –Descontraí.

"Será que eles tem sua foto na parece? Tipo: essa menina não podemos assaltar, já sofreu."

E então, nós duas estávamos gargalhando ao telefone, apesar de todo drama que a notícia tinha que carregar.

"E Marcela, como está?"

"A sua mãe?" –Ela colocou toda ênfase necessária em "mãe".

"Sim." –Revirei os olhos.

"Não está. Foi reconhecer o corpo."

E, de repente, eu não tinha mais assunto. O fato de Antony estar morto não me interessava."

"Devo dizer que sua mãe está muito abalada. Chorou, até."

"Era de se esperar." –Eu disse. –"Trouxa, como sempre."

"Olha, acredito que eles tenham passado por muitas coisas juntos. Talvez, ela só fazia o que fazia com medo de perder o homem que ama."

"Acho que já ouvi isso." –Eu disse. –"Isso não justifica. Se Ed mandar eu matar uma pessoa, como prova de amor, devo matar? Sinto muito, mas que fique sem o amor."

"Ed fez o que?" –Matt perguntou, sem entender o português.

"Que susto, garoto!" –Eu disse, tirando o celular do ouvido e o colocando contra meu ombro, para Camilla não ouvir. –"É minha irmã no telefone."

"Não sabia que tinha irmã." –Ele disse, parecendo pensativo. –"Ela já era nascida quando você morava aqui?"

"Ela não..." –Parei de falar com ele. –"Camilla? Tem mais algo para falar?

"Acho que não."

"Então eu vou desligar, tá? Vai começar a ficar caro."

"Ah! Sim" –A ouvi sorrir – "Tudo bem, então."

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