Cardeal Arco Verde

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Antônio ficou me olhando, com ambas as sobrancelhas levantadas, e nada respondeu. Ele olhou para seu relógio, resmungou alguma coisa e saiu de casa, sem dar explicações. E nada de Pedro aparecer. Cristina fez pouco caso da gente e nos deixou permanecer na sala. Camilla parecia tranquila e se importava mais com um programa na TV. Resolvi pensar em relaxar, acreditando que tudo ficaria bem, até que ouvi um assovio, parecido com o usado por Rafael, e me levantei para ir na janela. Era sim, o menino, mas sozinho. Sem Pedro. Chamei Rafael a pedido do garoto e eles conversaram baixo, não me deixando ouvir. Assim que terminaram, segui Rafael até a cozinha.

“Cadê Pedro?’ –Perguntei.

Rafael pegava um pacote de biscoito recheado no armário, quando Camilla também entrou na cozinha. Ela pegou o pacote da mão dele, virou para cair três biscoitos e passou o pacote para mim.

“Você ainda tem aquele celular escondido?” –Rafael me perguntou.

“Sim.” –Respondi com a boca cheia. –“Mas faz tanto tempo que não uso. Ainda funciona?”

“Vamos até o porão.” –Ele disse.

Fui na frente e Rafael me esperou na porta do porão. O celular estava tão empoeirado e fui tentando limpá-lo enquanto subia a escada. Ao chegar no topo da escada, dei de cara com Pedro, me esperando ao lado de Rafael. Minha vontade era de gritar, mas Cristina estava por perto. Me apressei em abraçá-lo com força e por muito tempo.

 “Nunca desisti de te procurar.” –Ele disse enquanto me abraçava.

Senti as mãos de Camilla me procuraram para me envolver no abraço que ela dava pelas costas de Pedro, o que deixou ele entre a gente.

“Você não mudou nada!” –Ele disse, se soltando do abraço e passando suas mãos pelo meu rosto.

Ele se virou para ver quem o abraçava por trás e ficou admirado com a nova Camilla.

“Meu Deus! Eu quase não te reconheci!” –Ele disse, enquanto se abraçavam. -“Agora, vamos embora daqui! O garoto que me trouxe, vai levar a gente.”

Pela emoção, segui Pedro sem me despedir de Rafael, até que ouvi o barulho da porta do porão sendo trancada e resolvi voltar. Rafael demorou para retribuir meu abraço apertado e ficamos assim por alguns poucos segundos. Ele foi tão importante para mim durante esses dois anos e se agora eu estava indo embora, foi graças a ele. Quando o soltei, ele sorriu. Finalmente, Rafael sorriu. Camilla não deu a devida importância e saiu com Pedro. Me despedi, me sentia um pouco triste com relação a isso. Quando sai, notei que o filho de Rafael estava conversando com dois capangas de Luiz em outra casa, sem nem ao menos notarem que o carro de Pedro. Não perdemos tempo e já estávamos na estrada.

“Não podemos voltar para a pousada.” –Ele disse.

“Vão achar a gente lá.” –Completei.

“Luiz também sabe o endereço da minha casa em Botafogo.” –Ele disse enquanto dirigia.

“Vamos morar na rua?” –Perguntou Camilla.

“Eu posso pegar um dinheiro no banco e alugar um lugar. Mas nem minha mãe pode saber onde estamos.” –Ele disse.

“Quero saber se...” –Eu dizia.

“Mary está morta?” –Pedro Perguntou, me olhando rápido e voltando atenção a estrada. –“Sim. Ela está morta. E Ana está com câncer.”

“Ela... O QUE?” –Camilla perguntou se posicionando entre os bancos da frente.

Agora sim, ela parecia preocupada com tudo que estava acontecendo e ficou angustiada por todo caminho. Quando chegamos na cidade do Rio de Janeiro, Pedro nos levou até uma delegacia e eu fiz um resumo de toda a história após tomar um copo com água gelada. Os policiais não estavam acreditando muito na nossa história, mas anotava tudo o que dizíamos. O delegado fez pouco caso e disse que não poderia resolver nosso problema naquele momento, mas ligaria para a gente. Desconfiado e um pouco decepcionado com a situação, Pedro deu o número do seu celular.

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