Contagem Regressiva

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Nos soltamos assim que Pedro beijou minha bochecha. Camilla pulou no colo dele enquanto eu abraçava Consuelo. Assim que todos os votos foram desejados, Consuelo deu um pequeno embrulho para Pablo. Notei que Pablo ainda possuía algum tipo de rancor da família, talvez por eles, claramente, preferirem Maurício. Ele fez pouco caso do relógio que havia ganho da mãe, porém agradeceu. Já o presente o pai, ele nem ao menos abriu, o deixando sobre o sofá. Sem cerimônias, Pablo pegou o saco com o presente dos pais que estava sobre a mesa de centro.

“O vermelho é da senhora e o outro é ele.” –Disse Pablo, entregando o saco para a mãe.

Sem esperar qualquer resposta, ele se dirigiu a mesa da ceia e se sentou, aguardando que todos fizessem o mesmo.

Após a ceia, em duplas, cada um foi para um canto, me deixando sozinha no sofá com Roberto.

“Então, onde estão seus pais agora?”

Ele notou meu espanto com a perguntar, e aguardou mais ansioso ainda. Eu não queria mencionar a palavra “prisão” naquele ambiente, então só pensei em Mary.

“Minha mãe está morta.”

“E seu pai?” –Ele perguntou, sem nenhum “eu sinto muito” antes.

Roberto não me dava uma chance. Eu queria muito responder também, mas novamente, “prisão” martelava em minha cabeça. Senti uma mão tocar meu ombro direito por trás e, por reflexo, olhei e vi Camilla me chamando para o quarto de Consuelo.

“Licença.” –Eu disse para ele, com o sorriso mais amarelo que eu tinha.

Me levantei acompanhei Camilla até o quarto, que era enorme, com roupas espalhadas sobre a cama.

“Escolhe quantas quiser. São de vocês.”

Consuelo estava sendo muito gentil. Eu queria levar todas, mas minha educação não deixava. Escolhi uma blusa dourada com algumas purpurinas e um shorts branco.

“Não seja modestas, pegue mais!”

Realmente, acabamos ficando com todas as roupas, que Consuelo se deu ao trabalho de colocar em uma velha sacola de papelão de uma loja de sapatos.

Eram 03:53 da manhã quando decidimos ir embora, para a felicidade de Pablo, que só pensava em dormir. Roberto já havia ido para seu quarto quando nos despedimos da gentil Consuelo. Pablo passou seu braço esquerdo por trás da minha nuca e se apoiou em mim até o carro. No caminho de volta, ele abaixou o vidro do carro e começou a gritar “feliz natal” para quem ele encontrasse próximo ao carro. A reação das pessoas era interessante e engraçada. A grande maioria se assustava, mas logo começava a rir, alguns outros desejavam feliz natal também.

Acordamos meio dia e, bom, eu acordei meio dia, eles continuaram dormindo, vi Pablo caído sobre Pedro e Camilla dormindo no chão gelado, dispensando os lençóis. Apesar de não ter ingerido álcool, Camilla parecia tão bêbada quanto eles. Me levantei e acabei pisando em uma pequena bola da árvore de natal, fazendo um grande barulho ao quebrá-la. Não sei como, mas a árvore estava totalmente no chão. A levantei e o barulho dos enfeites acordou Pedro.

“Você caiu?” –Ele perguntou assustado.

“Não, mas alguém derrubou a árvore.”

“Acho que foi na hora que Pablo foi ao banheiro. Não lembro muito bem, só sei que eu não conseguia parar de rir dele tentando se levantar.”

Pedro começou a rir se lembrando do fato ocorrido, me fazendo querer rir também.

“Vamos acordar eles.” –Disse Pedro, assim que coloquei a árvore no lugar.

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