Thomas Mills

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"Eu..." – Desviei o olhar e me afastei de Ed. – "Só queria que fosse especial."

"E vai ser!" –Ele se aproximou de novo. –"Te prometo."

"Claro que vai ser." –Eu cruzei os braços. –"Eu nem sei o que estou sentindo mais."

Respirei fundo e meus ombros caíram em sinal de decepção. Eu estava confusa, de fato. Nada mais, nada menos do que uma crise de pensamento acelerado que costumo ter. Eu apenas gostaria de parar de imaginar coisas futuras, mas não consigo.

"Estou exausta." –Me joguei na cama.

"Tenho uma ideia." –Ele disse. –"Vem!"

Ed estendeu sua mão para mim, parado no pé da cama, na minha frente. Pensei em resistir e perguntar qual era sua grande ideia, mas quando notei, já estava com ambos os braços erguidos, esperando por Teddy para me ajudar a levantar.

"Ótimo." –Eu disse, assim que fiquei de pé, ajeitando minha roupa.

Em silêncio, Sheeran sorriu e destrancou a porta do meu quarto, logo dando espaço para que eu saísse antes dele.

"Mais uma de suas surpresas?" –Perguntei, enquanto seguíamos pelo corredor.

"Quer uma surpresa ou não?" –Ele perguntou. –"Posso contar, se quiser."

Fiquei em silêncio.

"Só tenho medo de rejeitar o passeio antes mesmo de começar." –Ele disse, dando de ombros.

"Algo que envolve..."

"Thomas Mills." –Sheeran me interrompeu.

"Espera." –Eu parei de andar. –"Sério?"

"É!" –Ele disse, parando mais a frente. –"Me passou agora pela cabeça."

"Claro!" –Eu disse, passando por ele. –"Vamos!"

Agora, a animada da história, era eu. Puxei Ed pelo braço até a porta, sem dar satisfações para Imogen que tricotava no sofá.

"Vamos à pé?"

"Agora tem ônibus aqui perto." –Ele apontou para o lado oposto.

"Ed..."

"Ta bom!" –Ele bateu com as mãos na lateral do corpo, como uma criança contrariada. –"Vamos à pé!"

Bati as mãos por três vezes, em comemoração, e começamos a andar de braços dados em direção à escola. Não me lembrava o quão longe era ir por aquele caminho no meio do mato.

"Ainda tem as vacas." –Eu comentei.

A brisa ia ficando cada vez mais gelada, mas eu não me importava.

"Não pegamos casacos suficiente." – Disse Ed.

"Desculpe por isso." – Eu disse. –"Acho que era melhor ter sido surpresa."

Olhei Sheeran de cima a baixo, seu braço direito envolvia o meu esquerdo e suas mãos repousavam, estrategicamente aquecidas, dentro dos bolsos da frente de sua calça jeans. Ele usava uma blusa preta, de manga comprida, que parecia maior que seus braços.

"Com calma, teríamos pego os casacos pendurados próximo à porta."  -Continuei dizendo.

"Está tudo bem." –Ele riu. –"Bem congelante."

Por sorte, não ventava, mas Teddy estava com o rosto queimado pelo frio.

"Chegamos!" –Ele disse, com um sorriso no rosto.

Eu, que olhava para Ed, me virei para ver a fachada da escola. O silêncio do recesso das festas de fim de ano, se misturava com as diversas imagens que passavam em minha cabeça. Parecia que eu estava de fora, assistindo ao meu passado.

"Estou orgulhoso do que se tornou, meu filho." –Disse um senhor. –"Sou Wesley. Cuido da escola quando vazia."

Com a voz carregada, a coluna um pouco arqueada, um impecável uniforme da escola, ele se apresentou para nós, sem apertar nossas mãos. Teddy e eu nos entreolhamos, surpresos com o depoimento do senhor.

"Vocês devem não se lembrar de mim, mas estou há trinta anos cuidando da escola de vocês." –Ele disse, ajeitando as calças. –"Eu sempre observava o senhorzinho dos cabelos de fogo tocado seu violão pelos pátios da Thomas."

Wesley ria, como se tivesse acabado de contar uma piada, e o acompanhamos, felizes por termos encontrado alguém do passado.

"O senhor só lembra do Ed?" –Arrisquei perguntar.

"Não mesmo." –Ele foi interrompido pela própria tosse. –"Você era do time de hóquei."

"Como esquecer de uma moça bonita assim?" –Ed disse, apertando meu braço, que ainda estava preso ao seu.

"Eu ia dizer isso, meu jovem." –Wesley sorriu. –"Gravo todos os rostos. Posso não me lembrar de nomes."

"E Lori, Susan e sua gangue?" –Perguntei.

"Ele acabou de falar que não lembra nomes e..." –Ed ia dizendo, quando Wesley o interrompeu.

"Sempre me lembro dos mals rapazes." –Disse Wesley. –"Não porque são legais, e sim, para não correr o risto de me relacionar com eles."

"Eles podem mudar." –Disse Ed. –"Lori se tornou uma menina legal após a formatura."

Sheeran me olhou, para ver minha reação, e eu só conseguia pensar que estava esquecida em outro país durante a formatura.

"Você não se formou aqui?" –Wesley perguntou.

"Longa história." –Sorri, sem graça.

"Verdade." –Wesley quase sussurrou. –"Você é a menina perdida."

"Ahm..." –Eu pensei em dizer algo, mas não tinha o que dizer.

"Não vamos tocar nesse assunto." –Sheeran sugeriu.

"Não..." –Eu disse. –"O que diziam sobre mim, quando sumi?"

Olhei para Wesley e, em seguida, olhei para Ed, pensando que ele nunca havia me dito, exatamente, como minha história repercutiu pela escola.

"Sequestro." –Ele disse. –"Sua mãe estava desesperada."

"E as pessoas?" –Perguntei.

"Comentaram por alguns meses, mas uma aluna, pouco conhecida, morreu atropelada em fevereiro, e você já não era mais assunto."

"Uau." –Eu disse. –"Disputa por tragédias?" –Ri, irônicamente.

"É o que os jovens fazem." –Disse Wesley.

"Mas lembraram de você na formatura." –Ed pareceu tentar amenizar algo.

Com um leve sorriso, fiz carinho no ombro dele, tentando dizer que estava tudo bem não lembrarem de mim. Talvez, fosse até melhor mesmo não ser comentada pelos corredores como a "perdida", "sequestrada".

"Acho melhor a gente ir." –Teddy sugeriu.

"Tão cedo..." –Wesley lamentou. –"Bom vê-los por aqui."

Com um aperto de mão, ele se despediu de Teddy.

"Fico feliz que o senhor saiba quem eu sou."

"Meu filho..." –Wesley gargalhou. –"Cada canto dessa cidade se orgulha do ex morador famoso."

Ed assentiu com a cabeça e Wesley se virou para mim.

"Espero que tenha uma vida melhor, moça." – Ele disse, estendendo sua mão para mim.

Apertei sua mão fria e ele a sacudiu, em cumprimento.

"Está ótima." –Olhei para Ed. –"Eu diria."

Ambos sorriram pra mim, e com isso, Wesley voltou à seu posto na escola.

"Vamos para onde, agora?" –Me virei para Ed.

"Acho que conhece aquele caminho." –Sheeran apontou para a rua que eu costumava entrar para ir pra casa.

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