Castelo de Framlingham

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Peguei o papel, era impressão de um site de viagens aéreas e conforme fui lendo, pude notar que Mary havia comprado passagens, de ida e volta, para o Rio de Janeiro na época do Reveillon. Olhei para Mary e senti meus olhos acumularem água e por impulso, a abracei. Seus braços me apertaram e me senti acolhida. Demorei para soltá-la.

“Isso... isso é verdade?” – Perguntei, soltando-a.

“Claro que sim, sei o quanto gosta dessa época do ano e sua cidade.” – Ela disse.-“Você pode vir conosco, Ed.” – Ela completou.

“Creio que eu não possa ir, mas obrigado pelo convite.” – Ele disse.

“Uma pena...”- Mary lamentou.

Eu apenas conseguia pensar na minha volta para o Brasil e que eu poderia conhecer melhor minha cidade, a qual eu apenas fui mantida presa. Queria tanto que Teddy pudesse desfrutar dessa felicidade comigo, mas sabia que seria difícil. Pelo o que li no papel, passaremos uma semana no Rio. Eu nasci e fui criada no bairro da Glória e nunca andei em outra região, só conheço bairros próximos.

Os pais de Ed estavam em Londres e ainda não haviam chegado em Framlingham. Mary não queria que ele ficasse sozinho em casa, por mais que ele já estivesse acostumado. O telefone de casa tocou e Mary atendeu logo passando para Ed falar com sua mãe. Eles ficaram conversando por, aproximadamente, dez minutos, até que Teddy desligou e foi conversar com Mary. Os observei e ela negava com a cabeça. Enfim, voltaram para falar comigo.

“Diz pra ele que ele vai dormir aqui!” – Disse Mary.

“Mas por que?” – Perguntei.

“Os pais dele só voltam amanhã, agora diz pra ele ficar.” – Ela disse.

Olhei para Ed, que estava em pé do lado esquerdo de Mary. É lógico que eu queria que ele ficasse, mas não o obrigaria a nada, sei o quanto é importante a livre decisão de escolha.

“Bom, queria muito que ficasse, mas ele é quem sabe. Por mim, ele dorme aqui!” – Eu disse.

Mary olhou para Ed, que parecia estar pensando em uma resposta e olhava para Mary confuso.

“Olha, te levo na sua casa, espero lá fora, você arruma algumas coisas para trazer para cá, combinado?” – Sugeriu Mary.

“Boa ideia, vamos!” – Eu disse, me levantando.

“Você fica.” – Disse Mary. –“Sem se despedir dele, assim ele vai ficar. Aposto.”

Teddy e Mary saíram e eu fiquei na sala, esperando. Até que meia hora depois, Mary entrou pela sala e logo em seguida, apareceu Teddy com uma mochila nas costas e com uma cara de “vocês venceram”. Mary forrou o sofá para que ficasse mais confortável para Ed, afinal, o quarto que seria para hospedes, virou o escritório de Mary. Ela foi dormir, mas deixou biscoitos e leite, na mesa do centro, para Ed e eu comermos. Nós ficamos acordados até as 1 A.M, assistindo a um filme de comédia que passava na TV à cabo. Teve uma hora que cheguei a cochilar em seu ombro e logo acordei, porém fingi que ainda dormia para ter a desculpa de permanecer deitada. Eu não conseguia acreditar que ele estava ali comigo, a noite inteira.

Acordei sozinha no meu quarto a noite para beber água e ao chegar na sala, lá estava Teddy dormindo. Por um momento, eu havia esquecido que ele ficou ali. Fui para a cozinha, na ponta dos pés evitando fazer barulho. Peguei a garrafa d’água na geladeira e a fechei. Assim que me virei, Teddy estava entrando na cozinha, coçando o olho esquerdo. Levei um susto e quase larguei a garrafa.

“Que susto, Teddy!”- Eu disse.-“Te acordei?” – Perguntei, colocando a garrafa na mesa.

“Desculpa. Não, acostumo acordar no meio da noite.” – Ele disse.

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