O passado e o violino

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Entramos na escola de braços dados e vimos que haviam recados no quadro de avisos e eles informavam que deveríamos nos inscrever em atividades extracurriculares, como esportes e outras atividades não físicas.

“Nunca passei nesses testes!” – Disse Eddy, lendo as opções no quadro.

“Pensei que jogasse de futebol!” – Falei, sem tirar os olhos dos papéis.

“É legal, mas os treinos atrapalhariam minhas tardes tocando violão.” – Ele respondeu.

Nós fomos até a mesa de inscrições e uma garota do último ano nos entregou os papéis para preenchermos. Olhei de rabo de olho e vi o Eddy marcar a opção música e revolvi marcar também. Além disso, decidi marcar um esporte que não sei jogar, já para não passar. Hockey sobre a grama. Voltamos a mesa e devolvemos os  papéis para a mesma garota. Fomos para a sala e assim que eu entrei, todos me olharam. Talvez tinham me encontrado na internet. Mas não me olharam por muito tempo e logo voltaram a fazer o que estavam fazendo. Me sentei nas últimas carteiras, ao lado de Eddy e nossa conversa foi interrompida por uma garota que estava na nossa frente.

“Como você conseguiu viver?” – Ela perguntou.

“Esse assunto se encerrou ontem.” – Disse Eddy se preocupou em responder por mim.

“Não, tudo bem” –Eu disse para Eddy. –“Eu não vivia, eu descobri o que é isso quando eu cheguei aqui!” – Respondi para ela.

“Podemos ser amigas?” – Ela perguntou.

Fiquei olhando para ela, pensativa e assustada.

 “Claro... mas, por que?” – Perguntei.

“Gosto de pessoas sinceras e que se sacrificam pelos amigos.”- Ela disse e olhou para Eddy.

Olhei para ele também e sorri. Voltei a olhar para ela e reparei seu rosto. Ela, ao contrário da maioria, era morena. Não porque havia pego sol, ela era assim.

“Seu nome é...?” – Perguntei.

“Samiya. Sou filha de indiano.” – Ela disse, tímida.

Pude notar pelo tom sua voz, que ela esperava algum tipo de comentário preconceituoso sobre seu pai.

“Indiano? Que legal! Quero ir um dia na sua casa para poder conhecer sua cultura!” – Eu disse.

Samiya me olhou surpresa e feliz. Parecia que, o fato de ter sangue indiano era pior do que o que aconteceu em minha vida. Não que minha história seja motivo para tal crueldade mas sofrer porque seu pai é indiano era horrível. Eu queria conhecê-lo, de verdade, a sua cultura era diferente e incrível. As pessoas conseguem ser injustas por motivos banais.

Ela ficou o intervalo inteiro com a gente. Eddy, como sempre, tocando seu violão.

“Vocês são namorados?” – Ela perguntou, sussurrando perto do meu ouvido.

“Não. Somos melhores amigos!” – Eu disse.

Fiquei observando ele tocar uma música nova que ele escrevera para o The Empty Room. Samiya parecia vidrada no violão e não parava de olhar Eddy tocar.

“Posso te chamar de Sam?” – Perguntei.

“Claro! Me chamam de Samy também.” – Ela disse. –“Posso te chamar de que?”

“De Landy!” – Eddy respondeu por mim.

Olhei para ele, que não parou de tocar seu violão. Sam agora desenhava um lindo pássaro em sua folha pautada. Eu estava cercada por gente talentosa e até hoje não descobri o meu talento. Havia muitas pessoas no pátio externo e todos estavam sentados em grupos de, no mínimo, três pessoas. Avistei Lori, que estava sendo perseguida por Beth, ela dizia alguma coisa e Lori parecia incomodada e andava tapando seus ouvidos. Fiquei curiosa para saber da conversa, mas ambas sumiram por trás do prédio.

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