Está roubando ele

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“Na boate.”-Ele disse, sem pensar muito. –“O marido dela estava interessado em se tornar um sócio, mas o assunto foi encerrado quando eles se separaram.”

“Tudo bem.” –Falei, nada empolgada. –“Vocês parecem tão amigos...”

“A gente mantêm contato desde então.”-Ele disse, sorrindo. –“Ela sempre vai à boate.”

Pedro decidiu mudar o assunto falando sobre Sérgio, que era um senhor de quase setenta anos e Martina afirmou que estava com ele por dinheiro, querendo sair de Santanter, pois ela não tinha dinheiro nem mesmo para ir à Barcelona. Contou que estavam casados por oito anos, não tiveram filhos, mas Sérgio tinha três com duas mulheres diferentes. Martina contou que já dormiu com seu enteado mais velho, Matias, de vinte anos e ela tinha vinte e três na época. Agora, com vinte e seis, estava sem marido e sem pensão. Eu não estava conseguindo digerir o fato de Pedro ter “escondido” tanto ela e, agora, a traz em casa.

“Meu Deus” –Ouvi Camilla dizer. –“Você é de outro país mesmo! Quero presentes da Espanha!”

Parecia que, todos ali, haviam se dado muito bem com Martina, até mesmo a Joana. Eu que enxergava o problema em tudo nela. Fiquei um tempo, sozinha, no quarto, quando resolvi ligar para o Ed.

“Alô?”

“Ed?”
“Ah...” –A pessoa do outro lado, riu. –“É o Stuart.”

Tirei o celular do ouvido, para eu ver se havia ligado para o número certo, e quando retornei a ouvir, perdi o inicio do que Stu estava dizendo.

“...não é? Ele está dormindo.”

Deduzi que ele estava esperando que eu confirmasse.

“É a Yolanda, do Brasil.” –Eu disse.

“Certo.” –Ele disse. –“Aqui apareceu Landy.”

Fiquei em silêncio, admirando o nome do meu contato no celular do Ed.

“Okay então.” –Lembrei que Stu ainda me esperava. –“Mais tarde eu ligo. Ou ele me liga.”

Assim que desliguei, Camilla entrou no quarto, aparentemente, rindo de algo que Martina havia dito.  

“Você gostou mesmo da Martina.” –Eu disse.

“Sim.” –Ela foi parando de rir. –“Ela parece bem legal. Adorei as unhas delas.” –Ela se sentou ao meu lado.

Ficamos em silêncio por algum tempo, até que em um sinal com a cabeça, Camilla me chamou para o quarto e a acompanhei.

“Ah!” –Ela disse, assim que pegou uma roupa no berço. –“Ela amou o nome do bebê.” Ajudei Camilla a dobrar as pequenas roupinhas, sem comentar sobre nada.

“Você não gostou dela, né?”

Neguei com a cabeça e isso fez com que Camilla perdesse alguns minutos rindo.

“Isso é inveja das pernas grossas dela!”

“O...o que?” –Eu estava, realmente, confusa com aquilo.

Confesso que, nem reparei muito nisso, pois meus olhos ficaram reparando em cada detalhe da conversa entre ela e Pedro, que pareciam tão íntimos, tanto quanto eu estava parecendo com Teddy.

Acordei com o som da campainha tocando e logo peguei meu celular na cabeceira para verificar as horas, eram dez para as oito da manhã. Me virei para ver se Pedro ainda dormia e parecia que ele não estava na cama há algum tempo. Ouvi vozes vindo da sala e me levantei. Do corredor, vi Martina, sentada no meu sofá, gargalhando alto. Assim que me viu, ela se levantou para falar comigo, me deu dois beijos nas bochechas e eu não retribui seu abraço.

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