Onde estamos?

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“Solte a garota.” –Disse Luiz para Quilômetro.

Corri até Camilla, me ajoelhando a sua frente, levantei sua venda e Camilla recuou com os olhos fechados.

“Camilla?” –Eu disse, esperando ela abrir os olhos.

Por reflexo ao meu chamado, ela arregalou os olhos e  seu abraço foi tão apertado que a dor que eu sentia em meu corpo por causa da queda do buraco do ar condicionado, havia voltado. Olhei para Luiz e ele não parava de rir.

“Por que a trouxe?” –Perguntei, ainda ajoelhada abraçando Camilla.

“Uma companhia para você.” –Ele disse.

“O que?!” –Perguntei assustada. –“Ela vai ficar trancada aqui comigo?”

Luiz afirmou e fez um sinal com a cabeça para que Quilômetro nos levasse para o porão. Quando nos sentamos no colchão, Camilla voltou a chorar e depois que ela se acalmou um pouco, resolvi tentar entender o que havia acontecido.

“Como ... o que aconteceu?” –Perguntei.

“Foi tão rápido.” –Ela disse, secando as lágrimas.

 Não insisti mais em saber e fiquei encarando Camilla, que logo voltou a chorar. Ela deitou sobre minhas pernas, abraçando meu braço direito. Agora, além de mim, eu teria que cuidar de uma criança. Por um momento, eu tinha esquecido que era seu aniversário e não havia mais hora certa para lhe desejar “parabéns”. Quando pensei em quebrar o silêncio para falar sobre seus nove anos, vi Camilla dormir. Com toda cautela do mundo, ajeitei-a no colchão e cobri com o fino lençol, fui me sentar em um degrau na escada e eu tinha tanta coisa para pensar, que acabava não pensando em nada enquanto olhava para a frágil criança. Queria eu ter um plano, mas eu não tinha. “O basculante!”, pensei. Camilla era magra o suficiente para passar por lá com facilidade, mas eu não poderia simplesmente jogá-la por lá sem saber o que havia do outro lado e para onde ela conseguiria fugir. Poderia acabar caindo na mesma emboscada que eu.

Acordei com Camilla me chamando, abri os olhos e eu estava dormindo encostada na parede da escada. Ela se sentou ao meu lado e parecia estar tentando dizer algo. Eu olhava para ela e logo disfarçava com um sorriso enquanto balançava os pés no degrau abaixo.

“Ahm...um tal de Eddy ligou para Mary ...semana passada.” –Ela disse.

“O QUE?”-Levantei. “Eddy? Tem certeza que era Eddy?” –Me agachei a sua frente.

“Sim. Mary não disse que você tinha sido sequestrada, disse que estava na praia e não poderia falar com ele.” –Ela disse amarrando seu cabelo.

“O que ele disse?” –Perguntei.

“Ele sabe que estamos escondendo alguma coisa.” –Sussurrou Camilla.

Teddy era inteligente o bastante para perceber que meu tom de voz não era o mesmo que ele conhecia. Como eu queria poder ligar para ele, poder chorar, gritar, dizer que sou apaixonada por ele, mas mais importante, agora, era ligar para a polícia e eu nem ao menos sabia onde estava.

“Você conseguiu ver alguma coisa do caminho? Você conhece a cidade melhor do que eu.” –Perguntei a Camilla.

Ela negou com a cabeça e parecia que Camilla não entendia muito bem o que estava acontecendo. Talvez, o fato de estar comigo fazia parecer que tudo estava bem. Não estava. Me levantei e sussurrei para Camilla.

“Vou ao banheiro.” –Eu disse.

Caminhei até a porta, dei três batidas na porta e Quilômetro abriu-a. Tínhamos um código. Esse era para banheiro. Eu não queria ficar gritando sobre as minhas necessidades. Quilômetro ficava sentado no inicio do corredor e dava para ver a porta. Segurando meu braço direito, me conduziu até o banheiro. No caminho, pude ver o telefone na sala, próximo a televisão. Entrei no banheiro e fiz o que tinha que fazer, mesmo não estando com vontade. Depois, analisei cada detalhe do basculante e parecia impossível quebrar aquilo sem fazer barulho, além de ser muito alto para Camilla. Quilômetro bateu na porta, anunciando que já se passara cinco minutos. Durante o caminho de volta, decidi conversar com ele.

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