Disparos

862 40 7
                                    

Não demorou muito, quando Camilla acordou e não olhou para mim, sem dizer nada, permanecendo na mesma posição que estava. Dei um leve sorriso para ela, que tinha o olhar perdido. Resolvi subir a escada e falar com Rafael.

“Luiz ainda está ai?” –Perguntei.

“Está na sala.” –Ele respondeu.

“Me leve ao banheiro.” –Eu disse.

Tudo ficou em silêncio, Rafael parecia ter hesitado, mas abriu a porta e fez o que pedi. Passei por Luiz na sala e ele estava deitado no sofá, vendo um canal de esportes. Eu não queria ir ao banheiro, fiquei dando voltas, andando de um lado para o outro para passar o tempo, até que bati na porta para voltar ao porão com Rafael.

“O que você fez com Camilla?” –Perguntei indo em direção a Luiz

Rafael havia me dado liberdade e nos observava atrás do sofá. Ainda deitado, Luiz começou a rir, como se quisesse ganhar tempo e buscar palavras para me responder. Sem me olhar e vidrado na televisão, Luiz continuou rindo.

“Você deve se lembrar muito bem daquela vez.” –Ele disse.

Olhei ao redor e vi um jarro com flores murchas, não pensei duas vezes, o peguei e joguei em Luiz. Para sua sorte, o jarro era de plástico e ele ficou todo molhado por causa da água. Luiz, rapidamente, já estava de pé levantando sua mão para bater em meu rosto, mas Rafael segurou braço.

“Já não basta trancá-la no porão sem comida?” –Ele perguntou.

Nunca imaginei que Rafael fosse me defender algum dia, ainda mais contra Luiz. Rafael ficava encarando ele, enquanto segurava a mão a qual Luiz me bateria e foi soltando aos poucos. Luiz se voltou para mim e ficou me olhando aqueles olhos que me davam calafrios.

“Volte. Ao. Porão.” –Luiz disse, pausadamente entre dentes.

Antes que Rafael me levasse até lá, cuspi na cara de Luiz, que não reagiu, e eu mesma fui na frente.

“Você não trancou.” –Eu disse, entrando.

Rafael fechou a porta atrás de mim e pude ouvir a chave rodar. Desci as escadas e Camilla não estava mais lá. Procurei em cada esconderijo possível e nada de eu achar Camilla.

“Rafael! Camilla sumiu!” –Eu disse, batendo na porta.

Ele rapidamente destrancou a porta, acreditando no que eu havia dito, e fomos procurar por ela. Fui até a cozinha e quase cai no chão, escorregando ao passar pela porta, devido ao susto em ver Camilla parada no meio da cozinha com uma enorme faca em sua mão, seu rosto estava para baixo, coberto pelo cabelo.

“Camilla?” –Perguntei, me aproximando devagar.

Ela levantou a cabeça e parecia determinada a fazer algo. Ainda com a faca na mão, andou em minha direção e a segurei pelos ombros, tentando impedir que saísse da cozinha, mas Camilla parecia estar em transe e forçava sua caminhada rumo a sala. Ela conseguiu se soltar de mim e sumiu pela porta. Gritei por Rafael, que foi para os fundos procurar por ela, enquanto eu corri atrás de Camilla. Ela entrou na sala apontando sua faca para Luiz.

“Solte a gente.” –Ela disse.

Luiz largou as flores no chão e ficou olhando para a faca na mão de Camilla.

“Me passa o telefone!” –Disse Camilla.

Luiz caminhou em direção ao telefone, pegou lentamente, com toda cautela possível, e ofereceu ele para Camilla. Na hora que ela foi pegar, Luiz recuou, se arrependendo de ser mandando por uma criança e, por reflexo, Camilla fez um corte no antebraço de Luiz. O grito dele chamou a atenção de Cristina, que apareceu com duas mulheres e logo tomaram a faca de Camilla com um golpe rápido. Do porão, conseguíamos ouvir os gritos de Luiz.

Folhas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora