Pode ficar para você

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Não demorou muito e logo Pablo e Pedro estavam descendo do táxi, olhando em volta, muito provável que nos procurando, mas sem sucesso. Eles se dirigiram até a porta do prédio e o porteiro apenas os cumprimentou, talvez por reconhecer Pedro, os deixando subir, sem mais delongas. Nos entreolhamos, um tanto quanto chocadas com a suposição de Sara está, aparentemente, certa. Martina se escondia no apartamento e só aceitava visitas de Pedro. Levamos um susto, quase que sincronizado, quando o celular de Sara tocou.

"Você tinha razão!" —Ouvi a voz de Pablo no viva voz. —"Martina está aqui."

Pude ouvir Pablo xingar a mulher que se escondia, como se o traído fosse ele.

"Ótimo!" Disse Sara. —"Podem sair daí!"

"Ah!" —Falei, assim que ela desligou. —"Como eu queria poder subir..."

"Mas não vai!" —Disse Sara, parecendo impaciente apertando o volante com ambas as mãos. —"Os meninos estão vindo."

Pablo vinha na frente, bufando, seguido por Pedro que, as vezes, olhava para trás, para se certificar se ninguém aparecia na janela.

"Quando chegamos, o porteiro logo reconheceu Pedro, mas fez questão de perguntar seu nome por duas vezes, nos permitindo subir." —Contou Pablo, entrando pela porta de trás do carro de Sara. —"Pedro pediu para avisar que subia sozinho."

"Como eu te falei." —Sara inclinou a cabeça em minha direção.

Ficamos em silêncio e, da minha parte, eu estava pensando se seria o correto invadir aquele apartamento e falar o que preciso dizer para ela, mas meu pensamento e coragem foram interrompidos por Sara.

"A verdade é que..."-Ela começou e olhou pelo espelho retrovisor. —"Eu estou decepcionada com você, Pedro."

Por mais que eu estivesse com vontade, me recusei a me virar para olhar Pedro, ou olhar pelo retrovisor do lado direito.

"Se vocês..."- Sara se virou para mim e logo se virou para Pedro. —"Não se entenderem, você terá que assumir a Martina, ou não volta para o meu apartamento para dormir, como combinado."

Não aguentei e vi, pelo retrovisor, Pedro negar a cabeça.

"Quero falar com Martina." —Eu disse, assim que Sara colocou a chave na ignição. —"Vamos, Pedro!" —Me virei para ele. —"Diga que está subindo."

Percebi que Sara e Pablo se olharam, mas não tirei meu foco que Pedro.

"Tudo bem." —Ele disse, antes de sair do carro.

Quando eu abri a porta, para sair também, Sara segurou meu braço.

"Se controla lá em cima." —Ela disse.

Afirmei com a cabeça e segui meu caminho até o prédio, ao lado de Pedro, sem dizer uma palavra.

Novamente, o porteiro deixou Pedro subir, sem avisar que havia outra pessoa.

"Só tem você desta vez?" —Ouvi Martina perguntar atrás da porta.

Pedro estava parado em frente ao olho mágico, com os braços abertos, dando a entender que aquilo era um "sim". Quando ouvi a porta ser destrancada, sai de meu esconderijo e acelerei meu passo para poder entrar junto com Pedro.

"Mas!" —Disse Martina, assim que me viu passar.

Parei no meio da sala, olhando para Martina que, assustada, trancou a porta.

"Você!" —Apontei para Pedro. —"Retire-se."

Espantado, Pedro não sabia se olhava para mim ou para ela, e se deveria seguir meu pedido.

"Vai para o quarto dela." —Continuei. —"Deve muito bem saber o caminho."

Sem dizer nada, novamente, ele se retirou da sala e Martina se sentou em seu sofá vermelho, me aguardando para ouvir o que eu tinha a dizer.

"Sabia que Pedro era noivo?" —Me sentei ao seu lado.

"Sim." —Assentiu com a cabeça.

"E por que aceitou fazer isso?"

"Ele quem aceitou." —Ela disse. —"Eu fiquei atrás dele por meses, mas sempre recusou."

"Mas por que ele? Sabia que ele era comprometido."

"Já tive muitos amantes por trás do meu ex marido Sérgio, nenhum fixo e eu quase não os via na semana seguinte."

Ela deu uma pausa e, pela primeira vez naquela conversa, me olhou nos olhos.

"Com Pedro foi e é diferente, pois eu o vejo sempre na boate e comecei a gostar dele de verdade." —Ela abaixou a cabeça.

"Eu olho para você e eu só consigo sentir pena."-Falei.  —"Se casou por dinheiro, nunca amou, traiu o marido, fez um cara incrível, como Pedro, trair a noiva."-Contei nos dedos. —"Qual a sua função na vida? Ocupar espaço?"

Martina ficou espantada com minhas palavras e, rapidamente, se levantou, me fazendo ficar de pé também. Ela se aproximou e ameaçou me bater, mas por sorte, segurei suas mãos a tempo.

"Quando eu acho que você não pode ficar mais desprezível, você vai lá e tenta bater em mim, com essas mãos sujas." —Eu disse, soltando suas mãos com força.

"Saia do meu apartamento!" —Ela disse.

"Agora é a vítima?" —Ironizei. —"Pode ficar com o Pedro pra você!"

Com isso, ele apareceu na sala.

"Está falando sério?"

Nos viramos para ele e me recusei a responder. Ainda não sabia dizer se ele parecia feliz ou triste com tal declaração. Passei por ele e girei a chave a porta, para seguir meu caminho até o elevador, que nunca que chegava ao andar.

 "Você vai me deixar mesmo?" —Ele perguntou, parando atrás de mim.

"Feliz?" —Perguntei, me virando. "Pedro, eu não aguento mais nada nessa minha vida. Sabe o que é acordar todos os dias se perguntando quando vai se sentir feliz novamente? Você devia se sentir bem todas as noites, enquanto eu preparava a janta para quatro e apenas três estavam a mesa."

Pedro ficou parado me olhando nos olhos, até que desviei minha atenção para o barulho que anunciava que o elevador havia chegado. Entrei e fiquei observando Pedro, do outro lado, enquanto a porta se fechava.

"Eu teria espancado ela." —Disse Sara, no carro, após eu ter contado a história. —"O Pedro também.

Pablo não deu sua opinião, enquanto Sara fazia o trajeto para nosso prédio. Quando cheguei em casa, ouvi uma movimentação vinda do meu quarto e fui atraída até lá.

"Já arrumei tudo pra você." —Disse Camilla.

As roupas e alguns pertences de Pedro estavam jogados na cama, separados por tipos (camisas, casacos, calças, etc).

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