Primeiro dia no hóquei

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   Pude ouvir os aplausos das outras meninas e eu simplesmente não acreditava. Continuei olhando para Lori, que tinha um sorriso irônico em seu rosto. Passei por ela e a ouvi sussurrar.

  “Sabia que não ia gostar de passar.” –Ela sussurrou para mim.- “Marie!” – Gritou.

  Agora tudo fazia sentido. O fato de eu ter repetido inúmeras vezes de que ficaria feliz em não passar, ela fez com que eu passasse e supostamente, isso me deixaria triste. Como sua mente era cruel e ao mesmo tempo patética. Lori poderia trabalhar esses seus cálculos mentais em prol de algo bom, ela parece ser tão inteligente. Fui tomar banho para encontrar Ed, que pelo horário, ainda deveria estar em aula. Quando sai do vestiário e fui levar o uniforme para Lori, ela me entregou o papel de aprovação. Li meu nome escrito a mão e um texto digitalizado abaixo e a assinatura da Lori e de outra menina do time.

   Fui até a sala em que Ed estava e ele ainda não havia saído. Esperei em um banco e peguei meu caderno, para anotar tudo o que passava em minha mente a respeito de Lori. Vinte minutos depois e duas folhas completamente escritas, Ed saiu da sala com seu violão e sorriu ao me vê. Contei a ele detalhes do jogo e o por quê de eu ter passado.

“Não me surpreendo mais com a Lori.” – Ele disse.

“Eu vou continuar alimentando isso, fingir que estou triste. Mas na verdade, estou feliz comigo mesma, por ter conseguido passar mesmo sendo armado, de certa forma, adorei o jogo.” – Eu disse, empolgada.

  Ed tinha que treinar “Wonderwall” do Oasis para tocar na próxima semana. Essas práticas, normalmente são abertas ao público e verei Ed tocar, nem que eu falte o Hóquei. Talvez irritar a Lori, me divirta mais ainda. Fomos embora andando, como de costume, eu já nem me cansava mais. Dessa vez, ao invés de jantarmos na minha casa, jantei na casa do Ed. Sua mãe me recebeu tão bem quanto Mary recebe ele. Eu me sentia a vontade na casa dele, assim como pude notar que ele se sentia a vontade comigo. Como dizem, nossa vida é como uma montanha-russa, com início, meio e fim. Com seus altos, baixos, de cabeça para baixo. E posso dizer que a minha vida estava agora subindo. 

Quando cheguei a escola, Lori logo me recebeu com uma bolsa, que tinha o nome da escola e abaixo escrito “hóquei”. Segundo ela, eram dois uniformes do time. Não abri a bolsa para verificar e deixei a bolsa no meu armário. Esbarrei Ethan no caminho para aula e vi que ele não carregava seu violino, apenas um livro de artes na mão esquerda. Era dia de aula e confesso que passei duas noites inteiras lendo a folha de notas, até entender melhor.

“Pronta para a aula de hoje?” – Ele perguntou.

“Sempre pronta!” –Respondi. –“Mas confesso que tenho medo de demorar para aprender e te atrapalhar de alguma forma.” – cocei a cabeça.

“Jamais me atrapalharia, me sinto feliz te ensinando!” – Ele disse, colocando a mão no meu ombro.

Desviei o olhar e olhei para baixo, com a minha mão esquerda, tirei a mão dele do meu ombro e a segurei.

“Como estão?” – Era a voz de Ed vindo do meu lado esquerdo.

Olhei para ele e Ed olhava diretamente para nossas mãos. Me afastei de Ethan e abracei o braço direito de Ed. Ethan se despediu, um pouco sem graça com o momento que ele também achou um pouco constrangedor, e foi para sua aula. Ainda segurando o braço do Ed, virei meu rosto para ele.

“Você me segue? Porque você meio que some e do nada aparece, principalmente, quando estou com Ethan.” – Eu perguntei, rindo

“Você inventa cada coisa!” – Ele respondeu..

Eu comecei a rir, com ele isso acontecia naturalmente, mesmo que ele não se esforçasse para que eu desse um sorriso, acontecia. Assim como você respirar sem notar, até que você para e sente falta. Na sala, eu quase não prestei atenção na aula, apenas escrevi no meu caderno de pensamentos. Quem pegasse-o para ler, nada entenderia, as vezes eu mesmo me perco no meio de tantas palavras. Nunca citei nomes, apenas pronomes. Nunca separei as histórias, juntei todas, afinal, minha cabeça é uma mistura de sentimentos difíceis de serem decodificados e talvez o amor fosse o mais complicado dentre eles. Arrisquei desenhar um violino em uma folha inteira. Quem lesse este caderno, saberia de toda minha vida, porém não saberia que de tudo sabia. Confuso? É assim que é feito o meu mundo

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