A explicação

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"Ahn..." –Leigh não sabia se olhava para mim ou para Ed. –"Filha?"

Ela se levantou e foi de encotro à sua filha, que tentava desviar de sua mãe para enxergar Ed.

"Eu quero falar com ele..." –A ouvi lamentar.

"Vai para seu quarto!" –Leigh disse, se agachando em frente a filha. –"Depois, se ele quiser, eu te chamo. Ok?"

Vi a expressão da menina mudar da pagua para o vinho. A empolgação e curiosidade que a havia feito aparecer na cozinha, sumira. Demorou, mas a criança concordou com a mãe e subiu as escadas, correndo.

"Ela é uma grande fã sua." –Leigh disse, se voltando para Ed.

"Depois falo com ela." –Ele disse.

"Isso é ótimo!" –Ele juntou as mãos, em forma de agradecimento.

"Mas agora..." –Teddy deu um gole do chá. –"Queremos explicações."

"Claro!"

Leigh se aproximou da ponta da bancada, ficando entre mim e Ed, e parecia não saber por onde começar.

"Antes de começar, quero dizer que sim, eu guardo sua história, Yolanda." –Ela disse, se virando para mim. –"Está tudo lá no porão, caso queira ver."

Com o polegar direito, ela apontava para trás, em direção a porta da cozinha, por cima do ombro.

"Certo." –Eu disse, apoiando ambos os cotovelos sobre a bancada. –"Você se aproveitou da minha história para chegar até ele?"

Leigh franziu o cenho antes de arregalar seus olhos, espantada. Ela parecia confusa, alterando seu olhar entre mim e Ed.

"N-não!" –Ela gaguejou, ainda sem saber para quem olhar. Como se quisesse se desculpar com ambos. –"Falando assim..."

"Tudo bem." –Eu disse, abaixando a guarda. –"Dê sua versão."

Olhei para Teddy e ele deu um leve sorriso, sem mostrar os dentes.

"Eu estava na sala, quando minha filha desceu as escadas gritando e..."

"Tem como resumir?" –Perguntei.

"Yolanda!" –Ed me reeprendeu.

Respirei fundo, percebendo que eu ainda não estava com o controle da situação.

"Me desculpe." –Eu disse para Leigh. –"Continue."

"Enfim..." –Ela esfregou as mãos, pensativa e parecendo desconfortável. –"Eu não acreditei que Ed havia retornado à cidade e quando olhei pela fresta da cortina da sala, reconheci você, Yolanda."

Ela voltou a gaguejar, buscando as palavras certas.

"Antes de querer convidar Sheeran para entrar, eu queria conhecer você!" –Ela falava olhando para mim. –"Quantas vezes me peguei revirando aquelas caixas, achando que poderia ter morrido tudo daquela família e..." –Ela gargalhou de nervoso. –"Você está aqui! Viva!"

Agora, quem estava confusa, era eu.

"Duas grandes histórias, do outro lado da calçada, olhando para minha casa! Eu tinha que conhecer vocês." –Ela sorriu. –"Me desculpe, não ter manifestado que conhecia o incrível Ed Sheeran... Tive medo que fossem embora, sem eu saber mais sobre as caixas no porão."

E, de repente, o silêncio tomou o lugar da explicação.

"Eu entendo." –Teddy quebrou o silêncio. –"Faria o mesmo, para conhecer essa pessoa incrível."

Ed esticou seu braço direito sobre a bancada, buscando pela minha mão esquerda.

"Eu..." –Apertei a mão de Ed. –"Nem sei o que dizer.

Fiquei encarando os olhos esperançosos de Leigh.

"Por que você não me leva até sua filha?" –Ed sugeriu. –"Enquanto vocês vão até o porão?"

"Eu não..."

"Parece uma boa ideia." –Interrompi Leigh.

Sua feição, de espanto, logo se transformou em um sorriso. Eu poderia fazer isso. Mesmo que eu não quisesse. Por mais que, que ótimo poder voltar a ter um contato físico com o passado, aquilo só me feria mais ainda. Porém, parecia muito mais importante para ela do que para mim.

"Tori!" –Leigh gritou ao pé da escada.

Teddy e eu nos levantamos da bancada e paramos atrás dela, esperando a menina aparecer.

"Por que não mostra ao Ed onde você guarda suas coisas?" –Leigh perguntou.

"Sério?" –Tori abraçava seu equal com toda felicidade que lhe cabia.

Com pressa, Tori desceu as escadas.

"Venha!" –Ela disse, puxando Teddy pela mão. –"Fica no meu quarto! Tenho uma gaveta só sua!"

Enquanto subia as escadas, sendo arrastado por uma criança, ele olhou para mim e dei de ombros, rindo da situação.

"Bom." –Leigh disse, assim que ouviu a porta do quarto se abrir. –"Acredito que ainda saiba o caminho."

Ela abriu passagem, para que eu fosse na frente até a porta do porão, atrás da escada. Antes do primeiro passo, olhei para ela e para o corredor vazio.

"Costumava ter uma mesa aqui." –Eu comentei.

"Está no porão." –Ela sorriu. –"Tori acabou quebrando uma das pernas e não conseguimos consertar."

Enfim, estava eu, indo em direção ao meu passado que, em instantes, cairia sobre mim, novamente, assim que eu abrisse aquela porta branca. Eu não estava preparada para ver o rosto de Amy novamente. O rosto que eu já quase não me lembrava mais, mas ainda o refletia em meus mais esperançosos sonhos. Lá estava eu, nem um pouco preparada para levar aquelas lembranças comigo para o novo ano. Eu só conseguia pensar que 2013 se aproximava e, junto com ele, ia carregar novas partes de 2005. O lado bom, se temos um lado bom, é que eu poderia admirar tudo de uma nova perspectiva.

"Desistiu?"

Quando me desliguei de meus pensamentos, vi que eu segurava a maçaneta da porta e Leigh aguardava ao meu lado.

"Tudo bem se não quiser..." –Ela disse.

"Tarde demais." –Eu disse, enquanto a porta rangia se abrindo.

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