Parados

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As luzes vermelhas e azuis giravam em compasso com o grito da sirene. 

Antes que as almas tivessem vindo para este lugar, essas luzes e sons só haviam tido um significado. A lei, os guardiães da paz, os punidores dos transgressores e criminosos. 

Agora, mais uma vez, as cores reluzentes e o barulho ameaçador só tinham um significado. Um significado muito semelhante. Sempre os guardiães da paz. Sempre os punidores. 

Buscadores. 

Não era uma visão ou um som tão comum quanto fora antes. A polícia só era necessária para ajudar em casos de acidentes ou outras emergências, não para impor o cumprimento das leis. A maior parte dos servidores públicos não tinha veículos com
sirenes, a menos que o veículo fosse uma ambulância ou um carro de bombeiro. 

O carro baixo e lustroso atrás de nós não estava ali por algum acidente. Era um veículo feito para perseguições. Eu nunca vira uma coisa precisamente como aquela antes, mas sabia exatamente o que significava. 

Sam estava paralisado. Seu pé ainda apertando fundo o acelerador. Pude ver que ele estava tentando encontrar uma solução, um meio de superá-los no furgão decrépito ou um jeito de fugir deles — esconder o nosso grande perfil branco no mato baixo e ralo
do deserto — sem levá-los ao restante do grupo. Sem entregar todo mundo. Nós estávamos tão perto dos outros agora. Eles estavam dormindo, inconscientes...
Quando desistiu, após dois segundos de reflexão desenfreada, ele deu um suspiro. 

— Sinto muito, Cas — sussurrou ele. — Eu estraguei tudo. 

— Sam? 

Ele pegou minha mão e tirou o pé do acelerador. O carro começou a diminuir a velocidade. 

— Trouxe a sua pílula? — perguntou ele, sufocado. 

— Trouxe — sussurrei. 

— O Gabe pode me ouvir? 

Sim. O pensamento foi um soluço. 

— Sim. — Minha voz mal escapou de ser um soluço, também. 

— Eu amo você, Gabe. Desculpe-me. 

— Ele também ama você. Mais que tudo. 

Um silêncio curto, doloroso. 

— Cas, eu... eu gosto de você, também. Você é uma boa pessoa, Cas. Você merece coisa melhor que o que lhe dei. Melhor que isso. 

Ele tinha uma coisa pequena, demasiado pequena para ser tão mortal, entre seus dedos. 

— Espere — arquejei. 

Ele não podia morrer. 

— Cas, nós não podemos arriscar. Nós não podemos correr mais que eles, não
nisto aqui. Se tentarmos correr, milhares deles virão como um enxame atrás de nós. Pense em Jack. 

O furgão estava diminuindo, indo para o acostamento. 

— Deixe-me tentar uma vez — implorei. Eu procurei a pílula rapidamente no meu bolso. Coloquei-a entre o polegar e o indicador e levantei-a. — Deixe-me tentar
mentir para nos tirar desta situação. Eu a engulo imediatamente se algo der errado. 

— Você nunca vai conseguir enrolar um Buscador! 

— Deixe-me tentar. Depressa! — Eu tirei meu sinto de segurança e me arrastei até ele, tirando o dele. — Troque de lugar comigo. Rápido, antes que eles estejam bastante
perto e possam ver. 

— Cas... 

— Uma tentativa. Rápido! 

Ele era o melhor em decisões em fração de segundo. Suave e rápido, ele saiu do
assento do motorista e passou sobre o meu corpo abaixado. Eu rolei para o lugar dele enquanto ele se sentava no meu. 

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora