Abandonado

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— Quem é a Buscadora de preto? Por que ela continua procurando? — O grito de Sam foi ensurdecedor, ecoando de todos os lados.

Eu me escondi atrás de minhas mãos, esperando o primeiro golpe.

— Ah... Sam? — murmurou Dean. — Talvez você pudesse me deixar...

— Fique fora disso!

A voz de Dean se aproximou de repente, e a pedra rilhou quando ele tentou seguir Dean entrando no pequeno espaço que já estava cheio.

— Não vê que ele está assustado demais para falar? Deixe-o em paz um seg...

Ouvi alguma coisa raspar o chão quando Sam se moveu, e então uma pancada. Dean xingou. Olhei entre os dedos e vi que Dean não estava mais visível e que Sam mantinha-
se de costas para mim.

Dean cuspiu e gemeu.

— É a segunda vez — resmungou ele, e compreendi que o soco que era para mim tinha sido desviado pela intervenção de Dean.

— E estou pronto para a terceira — disse Sam, mas virou-se de costas para me encarar, trazendo a luz com ele; agarrou a lâmpada com a mão que tinha batido em Dean.

A caverna parecia quase brilhar depois de tanta escuridão.
Sam falou comigo novamente, examinando meu rosto na nova iluminação, fazendo de cada palavra uma sentença:

— Quem. É. A. Buscadora.

Baixei as mãos e olhei fixamente para seus olhos impiedosos. Incomodava-me que alguém mais tivesse sofrido por meu silêncio — mesmo alguém que tivesse tentado me matar. Não era assim que a tortura deveria funcionar.
A expressão de Sam hesitou enquanto avaliava meu rosto.

— Eu não preciso machucar você — disse calmamente, já não tão seguro de si. —Mas realmente tenho de saber a resposta para essa pergunta.

Essa nem sequer era a pergunta certa, não era um segredo que de algum modo eufosse obrigado a guardar.

— Diga-me — insistiu ele, seus olhos cerrados de frustração e profunda
infelicidade.

Eu era uma covarde, de fato? Eu teria preferido acreditar que sim, que meu medo da dor era mais forte que qualquer outra coisa. A verdadeira razão pela qual abri minha boca e falei foi muito mais patético.
Eu queria agradar-lhe, esse humano que me odiava tão raivosamente.

— A Buscadora — comecei, minha voz áspera e rouca; eu tinha passado muito tempo sem falar.

Ele interrompeu impaciente.

— Já sabemos que ela é uma Buscadora.

— Não, não apenas uma Buscadora — sussurrei. — A minha Buscadora.

— O que você quer dizer com sua Buscadora?

— Designada para mim, seguindo-me. Ela é a razão... — Eu me segurei pouco antes de dizer a palavra que teria significado nossa morte. Pouco antes de dizer nós. A verdade derradeira que ia parecer a mentira derradeira, jogando com seus anseios mais íntimos, suas dores mais profundas. Ele nunca reconheceria que era possível seu desejo virar realidade. Ele só veria um mentiroso perigoso vigiando através dos olhos que ele amara.

— A razão? — instou ele.

— A razão pela qual eu fugi — disse baixinho. — A razão pela qual vim para cá.

Não era inteiramente verdade, mas não era inteiramente mentira, tampouco.
Sam me encarou, a boca meio aberta, enquanto tentava processar a informação.
Com o canto dos olhos, pude ver que Dean estava olhando pelo buraco outra vez, seus brilhantes olhos verdes grandes de surpresa. Havia sangue escuro sobre seus lábios
claros

— Você fugiu de uma Buscadora? Mas você é um deles! — Sam lutava para se recompor, para voltar a seu interrogatório. — Por que ela o seguiria? O que ela quer?

Engoli em seco; o ruído foi anormalmente alto.

— Ela queria você. Você e Jack.
A expressão dele se fechou.

— E você estava tentando trazê-la até aqui?

Balancei a cabeça.

— Eu não... eu... — Como podia explicar? Ele jamais aceitaria a verdade.

— Você o quê?

— Eu... não queria dizer a ela. Eu não gosto dela.

Ele piscou, confuso novamente.

— Vocês não têm todos que gostar de todo mundo?

— É o que se espera — admiti, ruborizando de vergonha.

— Quem lhe falou desse lugar? — perguntou Dean por cima do ombro de Sam, que olhou contrariado, mas manteve os olhos em meu rosto.

— Eu não saberia dizer... eu não conhecia. Só vi as linhas. As linhas no álbum. Eu as desenhei para a Buscadora... mas não sabíamos o que era. Ela continua pensando que
são de um mapa de estrada. — Parecia que eu não conseguia parar de falar. Tentei fazer as palavras saírem mais devagar, para me proteger de algum deslize.

— Como assim, vocês não sabiam o que eram? Você está aqui. — A mão de Sam veio em minha direção, mas abaixou antes de cobrir a pequena distância.

— Eu... eu estava tendo problemas com a minha... com a... memória dele. Eu não estava entendendo... não conseguia acessar tudo. Havia paredões. Foi por isso que me designaram a Buscadora, a fim de que aguardasse que eu desvendasse o resto.

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora