Indecisos

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Bob limpou a garganta ruidosamente. Sam deu meia-volta e olhou para ele
novamente. 

— O que foi? — perguntou ele. — Você estabeleceu a regra, Bob.

— Bem, ora, é verdade. 

Sam virou-se de volta para mim. 

— Dean, saia do caminho. 

— Bem, bem, espere um segundo — prosseguiu Bob. — Se você se lembra, a regra era que a decisão caberia àquele a quem o corpo dissesse respeito. 

A veia na testa de Sam pulsou visivelmente. 

— E? 

— Parece-me que há uma pessoa aqui com uma reivindicação tão forte quanto a sua. Talvez até mais. 

Sam olhou fixamente para a frente, processando a informação. Após um demorado momento, a compreensão vincou sua fronte. Ele olhou para baixo, para o garoto pendurado em seu braço.
Toda a alegria havia desaparecido do rosto de Jack, deixando-o pálido e
aterrorizado. 

— Você não pode, Sam — sufocou ele. — Você não o faria. O Castiel é bom. Ele
é meu amigo! E Gabe?! E quanto a Gabe? Você não pode matá-lo! Por favor! Você tem
de... — Ele parou abruptamente, a expressão angustiada. 

Eu fechei meus olhos outra vez, tentando bloquear em minha mente a imagem do garoto sofrendo. Já era quase impossível não ir até ele. Travei os músculos no lugar, jurando a mim mesmo que não ajudaria em nada se me movesse agora. 

— Então — disse Bob, o tom demasiadamente sociável para o momento — você pode ver que Jack não está de acordo. Acredito que ele tenha tanto a dizer quanto você. 

Não houve resposta por um tempo longo demais, que tive de abrir os olhos
novamente. Sam estava encarando o rosto angustiado e receoso de Jack com seu tipo próprio de horror. 

— Como pôde deixar isso acontecer, Bob? — sussurrou ele. 

— Olhe, há mesmo necessidade de conversa — respondeu Bob. — Mas por que você não descansa um pouco primeiro? Talvez tenha mais disposição para conversar depois de um banho. 

Sam olhou sinistramente para o ancião, os olhos tomados pelo choque e pela dor de ter sido traído. Eu só tinha comparações humanas para tal expressão. César e Brutus, Jesus e Judas.
A tensão insuportável perdurou mais um longo minuto, e então Sam afastou os dedos de Jack de seu braço. 

— Adam— gritou Sam, virando-se e saindo a passos largos do aposento. 

Adam fez uma careta de despedida para o irmão e seguiu-o.
Os outros integrantes sujos da expedição o seguiram silenciosamente, Laila encolhida em segurança sob o braço de Victor.
A maior parte dos outros humanos, todos aqueles que abaixaram a cabeça
envergonhados de terem me admitido em sua sociedade, arrastaram os pés atrás deles.
Só Jack, Bob e Dean a meu lado, e Anna, Amara, Kevin e Joshua ficaram.
Ninguém falou, até os ecos dos passos se dissiparem em silêncio.

— Ufa — respirou Dean. — Foi por pouco. Bem pensado, Bob.

— Inspiração do desespero. Mas a gente não saiu do atoleiro, ainda — respondeu Bob.

— E eu não sei?! Você não deixou a arma em nenhum lugar óbvio, deixou?

— Negativo. Achei que algo desse tipo podia estar vindo pela frente.

— Já é alguma coisa, pelo menos.

Jack estava tremendo, sozinho no espaço deixado pelo êxodo. Cercada por aqueles que eu tinha para contar como amigos, senti-me capaz de andar até perto dele. Ele jogou os braços em volta de minha cintura, e eu lhe afaguei as costas com as mãos
trêmulas.

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora