Enterrado

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Sam projetou-se à frente, afastando-se de mim. Com um barulho alto de pancada, seu punho acertou o rosto de Adam. 
Os olhos de Adam reviraram na cabeça e sua boca abriu-se, solta.
O cômodo ficou muito quieto uns poucos segundos. 

— Hum... — disse Doc em voz branda. — Falando em termos clínicos, não sei se esse era o melhor tratamento para a condição dele. 

— Mas me sinto melhor — respondeu Sam, taciturno. 

Doc deu o menor dos sorrisos. 

— Bem, talvez uns minutinhos mais de inconsciência não o matem. 

Doc começou a examinar sob as pálpebras de Adam novamente, tomar seu pulso... 

— O que aconteceu? — Kevin estava à minha cabeceira, falando num murmúrio.  

— Adam tentou matar a coisa — respondeu Sam antes que eu pudesse fazê-lo. — E nós estamos realmente surpresos? 

— Não tentou — resmunguei. 

Kevin olhou para Sam. 

— O altruísmo parece ser mais natural para ela que as mentiras — observou Sam. 

— Você está tentando ser desagradável? — reclamei. Minha paciência não estava cedendo, tinha acabado completamente. Quanto tempo havia se passado desde que eu
dormira pela última vez? A única coisa que estava doendo mais que a minha cabeça era a minha perna. Cada respiração fazia meu flanco doer. Compreendi, sem surpresas, que eu
estava realmente de mau humor. — Pois se estiver, pode ter certeza de que conseguiu.(N/A: Ainda bem! Não aguento mais o Sam )

Sam e Kevin olharam para mim com olhos aturdidos. Tive certeza de que se pudesse ver os outros, suas expressões seriam idênticas. Talvez não Bob. Ele era mestre em rosto impenetrável. 

— Eu sou um homem — queixei-me. — Essa história de me chamar de "coisa" está realmente me dando nos nervos. 

Sam piscou de surpresa. Então seu rosto se recompôs em traços duros. 

— Por causa do corpo que você está vestindo. 

Kevin lançou-lhe um olhar penetrante. 

— Por minha causa — protestei eu. 

— Por definição de quem? 

— Que tal essa: Na minha espécie, sou eu quem gera filhos. Isso não é importante o bastante para você? 

Isso o fez parar imediatamente. Eu me senti quase presunçoso. 

E devia mesmo, aprovou Gabriel. Ele está errado e está sendo muito arrogante quanto a isso.

--Obrigado. 

Nós, homens, temos de ficar unidos, mesmo isso vindo de outros homens. 

— Eis uma história que você nunca nos contou — murmurou Kevin, enquanto Sam lutava para encontrar uma resposta. — Como é que funciona? 

O tom oliváceo do rosto de Kevin ensombreceu, como se houvesse acabado de perceber que tinha falado alto. 

— Quer dizer, creio que você não precisa responder, se eu estiver sendo rude. 

Eu ri. Meu humor estava oscilando barbaramente, fora de controle. Bobo de tanto apanhar, como o Gabe tinha dito. 

— Não, você não está perguntando nada... impróprio. Nós não temos um esquema tão complicado, tão... elaborado quanto a sua espécie. — Eu ri novamente, e então senti uma quentura no rosto. Lembrei-me com toda a clareza até que ponto podia ser
elaborado. 

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora