Condenado

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O corpo hospedeiro da Buscadora chamava-se Naomi; um nome suave, gracioso e feminino. Naomi. Tão inadequado quanto o tamanho dela, na minha opinião. Como chamar um pit bull de Fofo.

Naomi era tão estridente quanto a Buscadora — e continuava sendo uma pessoa lamuriosa.

— Vocês vão ter de me perdoar por não parar — insistia ela, sem nos permitir
qualquer outra opção. — Eu estive gritando lá dentro por anos sem nunca conseguir falar por mim mesma. Tenho um monte de coisas acumuladas a dizer.

Que sorte a nossa. Eu quase consegui ficar feliz por ela estar indo embora.
Em resposta à pergunta que eu tinha feito a mim mesmo antes, não, o rosto não era menos repulsivo com a outra consciência por trás. Porque a consciência não era tão outra, afinal.

— É por isso que não gostamos de vocês — disse-me ela naquela primeira noite,
sem mudar o tempo presente ou o pronome no plural. — Quando ela percebeu que você estava dando ouvidos a Gabriel exatamente como ela estava me ouvindo, ficou assustada. Achou que você poderia desconfiar. Eu era o seu mais profundo e obscuro
segredo. — Uma risada estridente. — Ela não conseguia fazer com que eu me calasse.Foi por isso que se tornou Buscadora, porque estava procurando uma maneira de lidarmelhor com hospedeiros resistentes. E então pediu que fosse designada para o seu caso,
para poder ver como você fazia. Ela estava com ciúme de você; não é patético? Queria ser forte como você. Foi um verdadeiro golpe para nós quando pensamos que Gabriel
tinha ganhado. Mas acho que não foi o que aconteceu. Então, por que você veio para cá? Por que está ajudando os rebeldes?

Eu expliquei contrariado que Gabriel e eu éramos amigos. Ela não gostou.

— Por quê? — perguntou ela.

— Ele é uma boa pessoa.

— Mas por que ele gosta de você?

A mesma razão.

— Ele diz que pela mesma razão.

Naomi bufou.

— Fez lavagem cerebral nele, foi?

Nossa, ela é pior do que a primeira.

--É, concordei Dá para ver por que a Buscadora era tão odiosa. Pode imaginar ter um troço desses na sua cabeça o tempo todo?

Eu não era a única coisa contra a qual Naomi se opunha.

— Vocês têm algum lugar melhor para viver do que essas cavernas? É tão sujo aqui.Não há uma casa num lugar qualquer, quem sabe? O que você quer dizer com temos de compartilhar quartos? Cronograma de tarefas? Não compreendo. Eu preciso trabalhar?
Acho que você não está entendendo...

Bob fez o passeio habitual com ela no dia seguinte, tentando explicar, através de dentes cerrados, o modo como todos vivíamos ali. Quando passaram por mim — comendo na cozinha com Dean e Jack —, ele me deu uma olhada que claramente me perguntava por que eu não tinha deixado Benny dar um tiro nela enquanto ainda era uma opção.

A turnê dela estava muito mais cheia de gente que a minha. Todos queriam ver o milagre com seus próprios olhos. A maioria não parecia se importar minimamente que ela fosse... difícil. Ela era bem-vinda. Mais que bem-vinda. Outra vez, senti uma ponta
daquele doloroso ciúme. Mas era bobagem. Ela era humana.

Representava esperança. Ela
era dali. Estaria ali muito depois de eu ter partido.

Sorte a sua, sussurrou Gabriel sarcasticamente.

Falar com Dean e Jack sobre o que tinha ocorrido não foi tão difícil e doloroso quanto eu havia imaginado.

Isso porque eles, por razões diferentes, não tinham ideia do que estava acontecendo.
Nem percebiam que este novo conhecimento significava que eu estava de partida.

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora