Esquecido

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— Bella? — perguntei. — Ellen? Theresa? Qual é o seu nome? Diga. Eu sei que você sabe. 

O corpo da Curandeira ainda estava flácido sobre o catre. Muito tempo havia se passado — quanto, eu não tinha certeza. Horas e horas. Eu ainda não tinha dormido, embora o sol já estivesse bem alto no céu. Doc tinha escalado a montanha para retirar
os encerados, e o sol passava radiante pelos buracos no teto, quente na minha pele.

Eumudei a mulher sem nome de posição para o sol não ficar no rosto dela.

Toquei sua face então, levemente, ajeitando seus sedosos cabelos vermelhos entremeados de fios brancos para tirá-los de seu rosto. 

— Julie? Nala? Katherine? Clarissa? Estou me aproximando? Fale comigo. Por favor? 

Todos exceto Doc — que ressonava calmamente num catre no canto mais escuro do hospital —, tinham ido embora horas atrás. Alguns para enterrar o corpo hospedeiro que tínhamos perdido. Eu me encolhi todo, pensando na sua pergunta
perplexa e na maneira súbita como seu rosto havia se tornado sem energia. 

Por quê?, ele havia me perguntado. 

Eu queria tanto que aquela alma tivesse esperado por uma resposta, de modo que eu pudesse ter tentado explicar... Ele talvez até tivesse entendido. Feitas as contas, o que
era mais importante, afinal, do que o amor? Para uma alma, não era isso o núcleo de tudo? E amor teria sido a minha resposta. 

Talvez, se tivesse esperado, ele pudesse ver a verdade disso. Se tivesse realmente entendido, tenho certeza de que teria deixado o corpo humano viver. 

Porém, uma tal solicitação provavelmente teria feito pouco sentido para ele. O corpo era o corpo dele, não uma entidade separada. Seu suicídio era apenas isso para ele,
não um assassinato também. Só uma vida tinha terminado. E talvez ele estivesse certo.

Pelo menos as almas haviam sobrevivido. A luz vermelho-escura do seu tanque brilhava ao lado do tanque dela; eu não podia pedir prova maior que esta do compromisso dos meus humanos: pouparem a vida dele. 

— Mary? Margaret? Susan? Jessica? 

Embora Doc dormisse e, não fosse por isso, eu estivesse sozinho, podia sentir o eco da tensão que os outros tinham deixado para trás, que ainda pairava no ar.

A tensão se prolongou porque a mulher não tinha despertado quando o efeito do clorofórmio passou. Ela não se mexera. Ainda estava respirando, seu coração ainda estava batendo, mas ela não respondera a nenhum dos esforços de Doc para reanimá-la.

Seria tarde demais? Ela estaria perdida? Já teria partido? Estaria tão morta quanto o seu colega?

Estariam todos eles? Haveria somente uns poucos, como a hospedeira da
Buscadora, Naomi, e Gabriel — que gritavam, que resistiam —, que podiam ser trazidos de volta? Todos os demais teriam morrido? 

Seria Naomi uma anomalia? Voltaria Gabriel como ela havia voltado... ou até isso estava em questão? 

Eu não estou perdido! Estou aqui. Mas a voz mental de Gabriel estava na defensiva. 

Ele também estava preocupado.

--Sim, você está aqui. E vai continuar aqui, prometo.

Com um suspiro, voltei aos meus esforços. Esforços condenados? 

— Eu sei que você tem um nome — disse à mulher. — É Rebecca? Alexandria? Olivia? Alguma coisa mais simples, talvez... Jane? Jean? Joan? 

Era melhor que nada, pensei melancolicamente. Pelo menos eu lhes tinha dado um meio de se socorrerem se um dia fossem apanhados. Pudera ajudar os resistentes, se não
a ninguém mais. 

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora