Epílogo

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A vida e o amor continuaram no último assentamento humano do planeta Terra, mas as coisas não permaneceram exatamente as mesmas. 

Eu não era o mesmo. 

Era o meu primeiro renascimento num corpo da mesma espécie. Achei a
transferência muito mais difícil que mudar de planetas, pois tinha muitas expectativas enraizadas quanto a ser humano. Além disso, eu herdara muitas coisas de Jimmy, e nem todas elas eram agradáveis. 

Eu tinha herdado uma grande quantidade de pesares por Fiandeira de Nuvens. Eu sentia falta da mãe que nunca conhecera, e agora pranteava os sofrimentos dela. Talvez
não pudesse haver felicidade neste planeta sem um peso igual de dor que deixasse tudo equilibrado em alguma balança desconhecida. 

 Eu estava habituado a um belo rosto, mas um rosto que as pessoas foram capazes de olhar com
temor, desconfiança e até ódio. Meu novo rosto desafiava tais emoções. 

Mesmo Karen e Becky, embora tentassem não olhar para mim, não conseguiram manter sua antiga rigidez na minha presença. 

Meu corpo não era a única mudança. As monções tinham chegado havia pouco no deserto, e eu gostei.
Por uma coisa em particular: eu nunca tinha sentido o cheiro da chuva nos
creosotos antes. Só conseguia me lembrar vagamente dele das minhas memórias das memórias de Gabriel, um vestígio muito apagado de lembrança, sem dúvida, e agora o
odor inundou as cavernas bolorentas, deixando-as com um cheiro fresco e quase perfumado. O odor se agarrava em meus cabelos e me seguia em toda parte. Eu o sentia nos meus sonhos. 

Além disso, Jimmy tinha vivido em Seatle toda a sua vida, e as
extensões ininterruptas de céu azul e calor abrasador eram tão perturbadoras — quase
entorpecedores — para o meu equilíbrio quanto a pressão escura de um céu pesado,sobrecarregado de nuvens, teria sido para qualquer um desses habitantes do deserto.
As nuvens eram fascinantes, uma mudança em comparação com o suave azul-claro sem traços marcantes. Elas tinham profundidade e movimento. Faziam figuras no céu. 

Houve um bocado de rearrumações a fazer nas cavernas de Bob, e a mudança para a sala de jogos — agora o dormitório comum — foi uma boa preparação para os arranjos
mais permanentes a seguir. 

Todo espaço era necessário, por isso os cômodos não podiam ficar vazios. Ainda assim, somente as recém-chegadas, Rowena — que finalmente tinha se lembrado do
próprio nome — e Naomi, puderam suportar ficar no antigo espaço de Kevin. Eu fiquei com pena de Rowena por causa da sua futura companheira de quarto, mas a Curandeira
nunca deixou transparecer qualquer contrariedade com a perspectiva. 

Quando as chuvas acabassem, Jack se mudaria para um canto livre na caverna de Benny e Victor. Gabriel e Sam tinham mandado Jack sair do quarto deles para o de Dean antes de eu renascer no corpo de Jy; Jack não era tão criança a ponto de eles
precisarem lhe dar alguma desculpa. 

Adam vinha trabalhando na ampliação da pequena fissura que fora o lugar de dormir de Joshua para ficar pronto quando o deserto secasse outra vez. Realmente, não era
grande o bastante para mais de um, e Adam não ia ficar lá sozinho. 

À noite na sala de jogos, Sunny dormia encolhida como uma bola no peito de Adam,como um gatinho cheio de amizades por um grande cão — um rotweiller em que
confiasse de modo tácito. Sunny estava sempre com Adam. Não conseguia me lembrar de tê-los visto separados desde que abrira esses olhos azuis-prateados pela primeira vez. 

Adam parecia constantemente fora da realidade, tão distraído pela relação impossível que não conseguia desviar a mente para prestar atenção em muito mais. Ele não estava desistindo de Sarah, mas como Sunny se agarrou a ele, ele a manteve ao seu lado com
delicada atenção. 

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora