Libertado

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Bob deixou-me chorar profusamente sem interromper. Ele não fez nenhum comentário ao longo de todas as fungadas que se seguiram. Só depois que fiquei completamente silencioso por uma boa meia hora é que ele falou.

— Ainda está acordado?

Não respondi. Estava habituado demais ao silêncio.

— Quer dar uma chegadinha aqui fora para se esticar? — ofereceu ele. — Minhas costas estão doendo só de pensar nesse estúpido buraco.

Considerando minha semana de silêncio insano, ironicamente, eu não estava com ânimo para companhias. Mas a oferta dele era algo que eu não podia recusar. Antes que pudesse pensar sobre isso, minhas mãos estavam me alçando pela saída.
Bob estava sentado de pernas cruzadas sobre o colchonete. Observei a reação dele enquanto agitava meus braços e minha pernas e fazia girar os ombros, mas ele estava de olhos fechados. Assim como na vez que Jack me visitara, parecia adormecido.
Quanto tempo havia se passado desde que eu vira Jack?
Como estaria ele agora?
Meu coração já aflito deu uma disparadinha dolorosa.

— Está melhor? — perguntou Bob, os olhos se abrindo.

Dei de ombros.

— Tudo vai dar certo. — Ele deu um sorriso amplo de esticar a face. — Aquilo que eu disse ao Sam... Bem, eu não diria que menti, não exatamente, pois é totalmente verdade se você olhar de um certo ângulo, mas de outra perspectiva, não era tanto a
verdade quanto o que ele precisava ouvir.
Apenas o encarei, não entendia uma palavra do que ele estava falando.

— De qualquer maneira, Sam precisa descansar. Não de você, filho — acrescentou rapidamente —, mas da situação. Ele vai adquirir um pouco de perspectiva enquanto estiver longe.

Eu me perguntei como ele parecia saber exatamente quais palavras e frases me afetariam. E, mais que isso, por que Bob haveria de se preocupar se suas palavras me feriam ou mesmo se minhas costas estavam doendo e latejando?
Sua amabilidade para comigo era a seu modo assustadora, pois era incompreensível. Pelo menos as ações de Sam faziam sentido. As tentativas de assassinato de Adam e de Dean, a ânsia satisfeita do doutor de me machucar — esses comportamentos também eram lógicos.
O que Bob queria de mim?

— Não fique tão triste — recomendou Bob. — Há um lado bom em tudo isso.
Sam estava muito teimoso em relação a você, e agora que ele está temporariamente em segundo plano, as coisas vão ficar mais confortáveis.

Minhas sobrancelhas se vincaram enquanto eu tentava decidir o que ele estava querendo dizer.

— Por exemplo — continuou ele. — Este espaço geralmente era usado como depósito. Agora, quando Sam e os rapazes voltarem, vamos precisar de lugar para guardar todas as coisas que eles vão trazer. Assim, a gente pode muito bem procurar um lugar novo para você. Alguma coisa um pouco maior, talvez? Que tenha uma cama?
— Ele sorriu novamente ao balançar a cenoura na minha frente.

Esperei que ele reconsiderasse, dissesse que estava brincando.
Em vez disso, seus olhos — da cor de calças de brim desbotadas — tornaram-se muito, muito gentis. Algo na expressão deles trouxe o caroço de volta à minha garganta.

— Você não precisa voltar para aquele buraco, querido. A pior parte já passou.

Achei que não dava para duvidar da expressão determinada no rosto dele. Pela segunda vez em uma hora, pus meu rosto entre as mãos e chorei.
Ele se levantou e me afagou desajeitadamente no ombro. Parecia não ficar à vontade com lágrimas.

— Pronto, pronto — murmurou ele.
Eu me controlei mais rapidamente desta vez. Quando limpei a umidade nos meus olhos e lhe sorri, hesitante, ele balançou a cabeça em aprovação.
— Bom garoto — disse, dando-me tapinhas outra vez. — Bom, precisamos ficar aqui até termos certeza de que Sam foi realmente embora e não pode mais nos pegar.— Ele me lançou um sorriso conspirativo. — Depois, vamos nos divertir um pouco!

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora