Julgado

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Eu gemi. Minha cabeça girava, inteiramente desconexa. Meu estômago estava nauseantemente embrulhado.

— Finalmente — murmurou alguém em tom de alívio. Dean. É claro. — Está com fome?

Pensei sobre isso e então produzi um som involuntário de engasgo.

— Ah. Não tem importância. Sinto muito. De novo. Nós tínhamos de fazer o que fizemos. O pessoal ficou completamente... paranoico quando levamos você lá para fora.

— Tudo bem — dei um suspiro.

— Quer um pouco d’água?

— Não.

Eu abri os olhos, tentando focalizar na escuridão. Pude ver duas estrelas pelas frestas no alto. Ainda de noite. Ou de novo, quem sabe?

— Onde estou? — perguntei. As formas das frestas não eram familiares. Eu poderia jurar que nunca tinha olhado para aquele teto antes.

— No seu quarto — disse Dean.
Procurei o rosto dele no escuro, mas só pude distinguir a forma escura que era sua cabeça. Com meus dedos, examinei a superfície onde estava deitada — um colchão de verdade. Havia um travesseiro sob a minha cabeça. Minha mão tateante tocou a dele, e
ele pegou meus dedos antes que eu pudesse retirá-los.

— De quem é realmente este quarto?

— Seu.

— Dean...

— Era nosso... de Adam e meu. Adam está sendo... mantido na ala hospitalar até as coisas poderem ser decididas. Eu posso ficar com o Kevin.

— Não vou ficar com o seu quarto. E o que quer dizer com até as coisas poderem ser decididas?

— Eu lhe disse que ia haver um julgamento.

— Quando?

— Por que quer saber?

— Porque se vocês vão mesmo fazer isso, então eu preciso estar presente. Para explicar.

— Para mentir.

— Quando? — perguntei.

— Assim que clarear. Eu não vou levar você.

— Então eu vou sozinho. Eu sei que vou poder andar assim que minha cabeça parar de girar.

— Você iria, não iria?

— Iria. Não é justo não me deixarem falar.

Dean deu um suspiro. Ele deixou minha mão cair e se endireitou lentamente. Pude ouvir suas juntas estalando enquanto ele se levantava. Quanto tempo ele teria ficado sentado no escuro, esperando que eu acordasse?

— Eu volto logo. Você pode não estar com fome, mas eu estou faminto.

— Você teve uma noite longa.

— Tive.

— Se clarear, eu não vou ficar sentado aqui esperando por você.

Ele deu uma risadinha sem humor.

— Tenho certeza de que é verdade. Então, eu volto antes disso, para ajudá-lo a chegar aonde você estiver indo.

Ele se recostou em uma das portas para liberar a entrada da caverna, contornou-a e depois a deixou voltar ao lugar. Franzi o cenho. Aquilo devia ser difícil de fazer com uma perna só. Torci para que ele voltasse mesmo.
Enquanto esperava por ele, fiquei olhando para as duas estrelas que eu podia ver e deixei minha cabeça ir parando devagarinho. Eu realmente não gostava das drogas humanas.

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora