Aproveitado

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— Isso é fácil demais. Já não é mais divertido de verdade — queixou-se Adam. 

— Você quis vir — lembrou-lhe Dean. 

Ele e Dean estavam na traseira sem janelas do furgão, separando os alimentos não perecíveis e os artigos de higiene que eu tinha acabado de recolher numa loja. Era a metade do dia, e o sol brilhava sobre Wichita. Não estava tão quente quanto no
deserto do Arizona, mas era mais úmido. O ar fervilhava de pequeninos insetos voadores. 

Sam dirigiu rumo à estrada para fora da cidade, mantendo-se cuidadosamente abaixo do limite de velocidade. Isso continuava a irritá-lo. 

— Já cansado de fazer compras, Cas? — perguntou Dean. 

— Não. Eu não me importo. 

— Você sempre diz isso. Há alguma coisa com que se importe? 

— Eu me importo... de ficar longe de Jack. E me importo de ficar aqui fora, um pouquinho. Durante o dia especialmente. É o oposto da claustrofobia. Tudo é aberto
demais. Isso incomoda você também?  

— Às vezes. A gente não sai muito durante o dia. 

— Pelo menos ele pode esticar as pernas — resmungou Adam. — Não sei por que você quer ouvir as queixas dele.  

— Porque é muito incomum. O que é uma bela mudança de ficar ouvindo você se queixar. 

Eu me desliguei deles. Uma vez que Dean e Adam começassem, eles continuavam um bom tempo. Consultei o mapa. 

— A próxima cidade é Oklahoma? — perguntei a Sam.

— E umas poucas cidadezinhas no caminho, se você estiver a fim — respondeu ele,
os olhos na estrada. 

— Estou, sim. 

Sam raramente perdia a concentração quando numa incursão. Ele não ficava à vontade com brincadeiras, como Dean e Adam faziam todas as vezes que eu completava mais uma missão bem-sucedida. Eu sorria quando eles usavam a palavra — missão.
Soava tão formidável. Na realidade, era apenas uma viagem até a loja. Exatamente como eu havia feito uma centena de vezes em San Diego, quando só alimentava a mim mesmo.
Como disse Adam, era fácil demais para provocar alguma empolgação. Eu empurrava o meu carrinho de um lado para o outro pelas aleias. Sorria para as almas que sorriam para mim e enchia o meu carrinho com coisas que durassem. Geralmente pegava umas
poucas coisas perecíveis, para os homens escondidos na traseira do furgão. Sanduíches
pré-preparados da delicatessen — coisas assim para as nossas refeições. E talvez um regalo ou dois. Dean era apaixonado por sorvete de creme com lascas de chocolate com
menta. O que Adam mais gostava eram bombons de caramelo. Sam comia qualquer coisa que lhe oferecêssemos; parecia que tinha aberto mão de suas coisas favoritas havia muitos anos, adotando uma vida em que vontades não eram bem-vindas e mesmo
necessidades eram cuidadosamente avaliadas antes de serem satisfeitas. Mais uma razão pela qual ele era bom nesta vida — ele via prioridades, não se deixando contaminar por
desejos pessoais. 

Ocasionalmente, nas cidades menores, alguém me notava, falava comigo. Eu dizia as minhas falas tão bem que provavelmente poderia ter enganado até um humano naquela
altura dos acontecimentos. 

— Olá. Novo na cidade? 

— Sim. Novinho em folha. 

— O que a trouxe a Byers? 

Eu sempre tinha o cuidado de olhar o mapa antes de sair do furgão, para ficar
familiarizado com o nome da cidade. 

— Meu companheiro viaja muito. Ele é fotógrafo. 

A Hospedeira/DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora