Tomás
É estranho pensar que existe toda uma parte da minha vida que desconheço. Eu reencontrei minha mãe, o ensino médio não passa de um borrão em minha mente. Consegui a carreira dos sonhos. De repente me dou conta de que já tenho vinte e cinco anos completos, para minha total surpresa estou casado e tenho uma filha. Observando o quarto na casa de Leila, pude ver porta-retratos que se dividiam entre fotos minhas em tempos diferentes, com a bebê, com Carla, minha família parece gostar muito dela, nas paredes estavam emoldurados recortes de revistas, jornais que eu havia sido citado, prêmios juntamente com uma banda chamada RBR durante os anos de 2013, 2014, e em 2015 vieram os prêmios solo. Encontrei também um álbum de fotografias tiradas em viagens, turnês.
Me parecia uma vida boa até demais, por que minha memória apagou tudo? Por que algo no fundo da mente dizia para não confiar plenamente em nada que for dito pela mulher que escolhi como esposa? Por que estar perto dela me causava uma perturbação enorme?
Decidi ficar aqui para fugir dessa agonia que surgia cada vez a olho. Sim, a amnésia me transformou em um covarde.
Passam-se três dias e continuava evitando contato.
— Meu filho, o Mauro, seu produtor e empresário está aqui querendo conversar com você. Eu liguei para a Carla e ela e a Marilu estão vindo. Não acho bom, conversar com ele sozinho.
Assenti sem entender o motivo de encontrar e conversar com a pessoa, a qual cuidava da minha carreira seria um problema. Respirei fundo, sabendo que a partir de agora será difícil de controlar a vida com toda essa falta de memória.
Deitado na cama, fiquei encarando o teto enquanto os minutos se arrastavam. Carla e a tal Marilu chegaram depois de uma hora, reuni minhas forças para enfrentar aquele mar de desconhecidos.
Estamos os quatro reunidos na mesa de jantar, Carla está sentada á minha direita, a expressão de seu rosto é cansada e abatida, os cabelos presos em um coque folgado, vestindo um vestido azul florido que marcava bem a barriga e tem o costume de vez ou outra tenta segurar minha mão, mas eu desvio, a Marilu, que é uma garota baixinha e gordinha com cabelos castanhos na altura dos ombros, óculos de grau redondos, bochechas rosadas, um moletom violeta e uma calça da mesma cor está sentada á minha esquerda concentrada em seu celular.
Na cadeira a nossa frente está um homem branco, quase pálido, trajando um terno cinza, seu rosto é quadrado, a expressão de seu rosto é fechada e a barba recém-feita o deixa assustador. Seus olhos azuis transmitem ganância. Presumo que esse seja o Mauro.
— Eu compreendo perfeitamente que você está doente, mas temos trabalho a fazer. Os patrocinadores estão cobrando publiposts, a presença de vocês em eventos e o público do canal está começando a suspeitar de divórcio ou que há algo errado e não é uma boa ideia divulgar essa história de amnésia trará uma publicidade negativa.
Não fui capaz de compreender 1% do que ele falava, mas se tem a ver com o trabalho, eu infelizmente não poderei fazê-lo.
— Ele não pode, Mauro! O médico foi claro, sem trabalho! Precisa descansar o máximo possível. Seja razoável, dessa vez
— Carla está certa, não podemos arriscar a saúde do nosso artista, se o submetermos a mais trabalho pode piorar a situação. Sobre os publiposts a maioria feitas com fotos. Podemos fazer uma sessão de fotos informal, deixando esses conteúdos prontos. O que acha, Tomás? Consegue tirar algumas fotos junto com a Carla hoje? – Malu tomou a palavra, apesar de sua voz baixa e contida, era boa de argumentação.
O nervosismo me consumiu. Eu não queria passar tanto tempo próximo dela, mas também não podia prejudicar ninguém.
— Você não precisa fazer isso, se for desconfortável, ok?
— Eu acho.... Que posso tentar – Digo, incerto e contrariado. Levanto da cadeira
Não me lembro de deixar que alguém me conhecesse tão bem, mas só pela forma que falei, Carla entendeu que não estava totalmente convicto da minha decisão só de olhar detalhadamente pra mim e aquilo me desorientou ainda mais.
Essa mulher deve conhecer cada ponto forte e fraqueza minha enquanto eu, não sei nada sobre ela. O melhor que faço é me manter longe dela.
De repente, uma forte dor de cabeça me atinge, tudo escurece cambaleio para trás, caindo sentado na cadeira, aos poucos a visão vai voltando meio turva, pisco repetidas vezes para ter certeza de que estou acordado. No fundo da mente consigo ouvir uma gargalhada desconhecida ou talvez esquecida.
— Tomás? – Uma voz me chama. Abro a boca para responder, mas nenhum som é emitido.
A risada alta é substituída por um grito saído da minha própria boca num momento distante:
'' DEIXE A MINHA FILHA FORA DAS SUAS LOUCURAS '' e o eco de uma porta sendo fechada com força.
Pisco os olhos mais uma vez e um flash de imagens se reproduzem diante dos meus olhos. Uma troca de alianças, uma corrida de jet ski na praia.
Minha voz soa longe novamente:
'' Uma noite para você se arrepender de ter... ''
Uma voz feminina me chama no presente interrompendo os lapsos de memória.
— Tomás? O que aconteceu? Você está bem? – Era Carla.
— Eu vou ficar. Quando estiver longe de você – Fui ríspido o bastante para deixa-la chocada.
Ainda tonto, me levanto e subo as escadas em direção ao meu quarto.
Se algo, eu entendi do que acabou de acontecer é que eu preciso proteger a minha filha de alguém, não sei o motivo, porém, as suspeitas apontam para a própria mãe.
Todos ao meu redor dizem que eu amava a dançarina desesperadamente ao ponto de permitir que mandasse e desmandasse em minha vida. Então por que agora meus instintos dizem para desconfiar de qualquer coisa que venha dela?
Assim que o meu detestável produtor, a assistente fofa e a aprendiz de medusa foram embora, minha mãe encheu meu ouvido:
— Não deveria tratar a Carla assim, ela está.... Sofrendo tanto quanto você.
O Modo como ela falou me deixou ainda mais desconfiado '' sofrimento '' parecia não ser a única razão para aquela proteção toda, tinha bem mais ali e se eu for corajoso o suficiente vou descobrir o que.
— Ah e amanhã tem sua primeira consulta com a Poliana e não vai faltar! O tratamento psicológico é muito importante e não esqueça de tomar os remédios.
Darei um jeito de fugir dessa consulta, os remédios vou tomar, me dão sono e passo a maior parte do tempo dormindo.
O que é melhor do encarar a realidade.
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nota autora: Peço desculpas pela lerdeza para atualizar os capítulos, quero fazer nossa mudança para o blog o mais rápido possível, o wattpad está ruim pra mim. no Mais, eu to muito nervosa com o começo da história.
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Todo Dia
Fiksi PenggemarUm músico e uma bailarina que namoram há 7 anos começam a enfrentar problemas para conciliar a carreira e o relacionamento. Uma viagem à Salvador e a chegada de uma filha pode ser a solução para tudo ou o início do fim