Capítulo 18 - lembre de mim

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Tomás

Catarina dormia em sua cadeirinha, Michelle lia em voz baixa uma versão em espanhol de cem anos de solidão, Carla cochilava com a cabeça apoiada em meu ombro. Os primeiros raios de sol do dia entraram pela janela do carro rumo à fazenda reservada por Maria Luiza.

Embora, minha esposa não tivesse revelado a razão da viagem, bastou alguns cliques no celular para descobrir o que estava acontecendo. Prints, fotos, áudios, vídeos com Mauro sendo extremamente abusivo, grosseiro com ela, com minha banda, com outros artistas da agência e até mesmo comigo. Era apavorante pensar que entreguei minha música e imagem nas mãos daquele porco.

O carro estaciona em frente a um casarão cinza desbotado, com janelas de madeira e uma porta de vidro empoeirada. O cheiro ao redor é de grama molhada e cocô de cavalo.

Talvez eu esteja exagerando porque odeio natureza, mas só talvez.

— Vou colocar suas malas no quarto dos meninos, Tomás – Malu avisou.

— Ah...Malu... Eu acho que prefiro ficar com a Carla mesmo – admito, meio encabulado.

— Tudo bem, a Michelle vai ficar comigo e as garotas da Girlband da agência, preparei um quarto para a Catarina e outro para os bebês que vão nascer. – Explicou, seguindo para dentro. 

Vamos ficar por aqui tanto tempo assim?

— É só até o processo acabar, eu espero, se nenhum de nós se adaptar, podemos mudar para uma chácara aqui perto – Como se lesse meus pensamentos, Carla apareceu segurando Catarina adormecida nos braços.

Peguei Catarina com cuidado para não acorda-la, porque eu sabia que Carla não podia carregar peso, embora ela ficasse com nossa filha nos braços o tempo inteiro.

— Eu sei, tudo bem – Respondi subindo as pequenas escadas na entrada da casa.

Mal entramos na sala e todos correram para cumprimentar Carla com abraços e sorrisos, carinhos em sua barriga. Porque, pelo que parecia, a mãe das minhas filhas era como um raio de sol. Não existia alguém presente aqui que não gostasse dela.

eu que ainda me sentia deslocado perto dos meus antigos amigos logo subi para acomodar Catarina na cama. Nem percebi que Michelle tinha me seguido.

—Tomás, eu tomei uma decisão e não quero que Carla saiba ainda, também não espero que você concorde, mas...

— Pode parar de fazer rodeios e ir direto ao ponto? O que você decidiu e sobre o quê? – coce

— Sobre o meu bebê, sobre o que deve ser feito quando ele nascer. Eu pensei bem e não suportaria ver vocês juntos sendo uma família de comercial de margarina sem sal, então depois do nascimento, vou embora do Brasil definitivamente, mas não quero perder o contato com meu filho, venho visitá-lo quando tudo estiver menos confuso. — Seus olhos verdes me encaravam tristes — E por último, eu gostaria que o menino recebesse o meu sobrenome e o dela.

Eu ia abrir a boca para protestar, mas, acabei desistindo.

— Eu a amo, Tomás, porém, ela escolheu você por mais que eu tenha tentado convencê-la do contrário. Se ao menos, o bebê tiver nossos sobrenomes, vai ser como se ele fosse apenas nosso e metade do meu sonho estará completo, por favor... — Michelle segurou minhas mãos e percebi que as dela estavam geladas.

— Por mim, tudo bem desde que Carla também concorde, afinal é o nome dela e...Nem sabemos se ela quer ficar com esta criança.

Nos últimos dias, por mais que enfim, estivesse me contando toda a verdade, as reações de Carla desde que resolvi trazer Michelle para nossa casa são uma incógnita. Ela está silenciosa e afastada de nós. Talvez seja o estresse de todo esse caso de Mauro. Não sei o que pensar. 

 Por isso, a abracei e nesse exato momento, Carla entrou no quarto com uma expressão enfurecida no rosto e gritou:

— O que tá acontecendo aqui? esqueçam, eu não quero saber. Se sua única condição para que você suma das nossas vidas é que esse bebê tenha meu nome, que assim seja feito, Michelle, mas a partir do momento em que ele nascer, eu não quero mais ver você, eu não quero mais nem mesmo respirar o mesmo ar que você. Então, VAI EMBORA E NUNCA MAIS NOS PROCURE, ENTENDEU? Não haverão visitas e nem nada que faça essa criança desconfiar da sua existência, esqueça qualquer tipo de contato.

— Carla, não precisa ser desse jeito! — Intervi, porque era o certo e também porque nunca a vi tão alterada assim.

— Cale a boca, Tomás, isso é exatamente o que VOCÊ queria que fosse feito antes de perder a memória, meu Deus, por que eu não te ouvi? NADA DISSO ESTARIA ACONTECENDO, NADA

— Porque você quer ter alguém para culpar pelas consequências das suas escolhas, Carla Ferrer, VOCÊ SE ENVOLVEU COMIGO, VOCÊ ME FEZ ACREDITAR QUE ESTAVA APAIXONADA POR MIM, VOCÊ QUIS ESCONDER ISSO DO TOMÁS ATÉ COMEÇAR A SE CORROER DE CULPA! VOCÊ DECIDIU NOS EXPOR NAQUELA DROGA DE VÍDEO PRA SE VINGAR DO MAURO E OLHA ONDE A GENTE VEIO PARAR ? — Michelle também perdeu o controle, gritando e indo na direção de Carla, tentei segurá-la, mas ela passou rápido demais.

— E Por último, me deixe te lembrar que eu nem estaria grávida, SE VOCÊ NÃO TIVESSE ME CHAMADO PARA AQUELA PORCARIA DE BARCO NAQUELA NOITE, VOCÊ CAUSOU TUDO ISSO, VOCÊ E SEU EGOÍSMO, CARLA FERRER.

Acho que ser chamada de egoísta foi o ápice da raiva borbulhar no sangue da minha esposa, porque Carla reuniu toda sua força para empurrar Lauren Michele contra a parede, a colombiana gemeu de dor escorregou para o chão e chorou. Eu corri para ampará-la, o que pareceu enfurecer Cara ainda mais.

— De que lado você está, afinal?– praticamente rosnou pra mim.

— Dos meus filhos! Você tem noção do que acabou de fazer? – Não dei tempo para ela responder, já voltando minha atenção para Michelle — Você está bem?

— Não, minha barriga está doendo e...– começou, mas logo se deteve. E foi aí que eu notei que um líquido transparente misturado com sangue escorria do meio das suas pernas.

Me desesperei sem saber se Michelle estava abortando ou dando a luz cedo demais. Chamei a Marilu e conseguimos entrar em contato com uma equipe médica, que veio ao nosso socorro na velocidade da luz.

Enquanto todo mundo tentava ajudar Lauren, Carla parecia estar presa dentro do próprio pesadelo: ela estava imóvel, os olhos fixos na parede e chorava sem ao menos perceber. 

Marilu notou e a tirou do quarto, também tirou Catarina dali, que apesar de todo barulho e confusão continuava a dormir . E eu? Eu fiquei ao lado de Michelle a noite inteira, rezando para que o meu filho sobrevivesse e tudo passasse de um susto. 


NOTAS DA AUTORA: Depois de muitos meses, eu resolvi voltar com os capítulos finais de Ldm, eles estão prontos guardadinhos no meu Docs, mas eu particularmente não gosto tanto do rumo que as coisas tomaram nessa história e tentei reescrever umas 500 vezes. espero que vocês leitoras, me perdoem pela demora e por tudo mais :( 


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