Carla
Talvez a ideia de Poliana não tenha sido uma das melhores ou Victor e Gabriel disseram alguma bobagem que deixou Tomás ainda mais inseguro enquanto eu e a ane recebíamos as fãs. Subo as escadas apressada, batendo na porta incessantemente, eu temia que seja lá o que fosse que falaram poderia ser um gatilho para lembranças e sempre que tem lapso de memória ele acaba passando mal, então não gosto muito de deixa-lo sozinho.
O chamo várias e várias vezes. Quando meu marido abre a bendita porta, seu olhar demonstra uma decepção e tristeza profunda, sinto que ele sabe sobre Michelle. Meu peito sobe e desce. Quero chorar.
Uma mulher grávida não deveria passar tanto estresse! Por deus, peço perdão mentalmente ao meu bebê e tento parecer calma.
Mordo os lábios trêmula, ele surpreendentemente entrelaça nossos dedos me puxando para um abraço. É a primeira vez que ficamos tão próximos desde que descobrimos a amnésia.
— Por que você mentiu de novo? – Sua voz sussurrada chega aos meus ouvidos como uma bomba.
Não sei se consigo passar por tudo isso outra vez. Lágrimas quentes escorrem pela minha bochecha enquanto tento encontrar a voz para explicar.
— Eu não menti, eu omiti! O Alberto disse recomendou que evitássemos qualquer tipo de estresse e bom, até uma semana atrás você nem falava direito comigo. Toda vez que tocávamos nesse assunto, você ficava muito nervoso e agressivo. Era horrível! Escolhi ficar com você, nossa família e planos. Só queria deixar tudo no passado. Mas tudo virou de cabeça pra baixo e... – Engasgo com as lágrimas.
— Eu não me lembro bem o que houve, mas sei que também errei e julguei mal todo esse tempo as suas atitudes sejam elas boas ou ruins. Preciso confiar mais no que diz meu coração.
— E... o que seu coração diz? – Minha voz quase não saiu.
— Preciso reaprender a amar você e me livrar do eu do passado sem esquecer das nossas lembranças mais do recuperar a minha vida, eu preciso da nossa de volta. – Suas mãos subiram para meu rosto banhado por lágrimas numa tentativa de seca-las. Quanta falta esse simples toque me fez. Em um ímpeto de coragem. Decido contar toda verdade sem esconder nenhum detalhe.
— Sendo assim, você precisa me escutar do início ao fim e sem tirar conclusões precipitadas e vai acreditar em mim não importa o quão absurdo pareça, ok? – Nervosa e com muito pesar, me afasto para trancar a porta. — Olha esse não era o momento ideal pra falarmos disso, mas já que lembrou, senta ali – Digo a apontando para cama.
— Lembrei de uma conversa em que você tentava me convencer a deixar um possível amante viver aqui no apartamento. Quem e por que? – Pela primeira vez ele parecia firme e decidido à enfrentar o que quer que eu dissesse.
— Era a Michelle e porque ela está esperando um filho seu. – Despejo tudo de uma vez.
— Como a amante era sua e ela está grávida de mim? – Vejo confusão em seus olhos e se não estivesse tão tensa me divertiria.
— Resumidamente: Ficamos bêbados, você me pediu uma razão pra ter sido traído e eu convidei a Mih para passar a noite conosco em um iate. Foi bom, uma pena que teve consequências sérias.
— Por que você me traiu?
— Não foi minha intenção: antes de tudo acontecer nós dois estávamos tentando restabelecer nossa relação, passamos muito tempo longe um do outro e logo nos aproximamos de novo, tivemos a Cat e tudo se acumulou e foi demais para eu assimilar. Neste meio tempo, a Michelle se confessou apaixonada por mim e percebi que me sentia da mesma forma. As coisas foram mais longe do que eu imaginava antes que eu pudesse te contar. – As lágrimas se intensificaram, a cada palavra minha garganta parecia se fechar. Estava difícil respirar.
Flashes de todas as brigas dos meses anteriores. O trabalho excessivo. A Catarina, os bebês, Michelle e tudo que restou de nós se dissipando descontroladamente pela minha cabeça.
Não tenho dúvidas de que dessa vez estamos acabados. Antes Tomás me amava. Agora sou apenas um esboço de um passado esquecido.
— Por que eu tenho certeza de que reagi muito mal da primeira vez que você me contou? – Fez uma careta estendendo a mão pra mim. Como sempre. Um gesto familiar que me fez sorrir um pouco. Involuntário, mas ainda me trazia um pedacinho do meu amor.
— Você gritou comigo, chorou e fugiu com a nossa filha por dois dias, os piores da minha vida. - Entrelacei nossos dedos sentando na cama também.
— Podemos cancelar a ideia da Poliana e ir buscar a Cat no parquinho e tomar sorvete? Acho seria mais divertido do que deixar fãs histéricas me atacarem na minha própria casa. – Envolve os braços em volta de mim.
— Acho uma boa, ideia ótima. Vamos? E me abrace mais vezes, eu gosto disso e você também costumava gostar. – Levantamos juntos.
Escapulimos para o meu closet. No fundo de uma das gavetas encontro os disfarces que costumamos usar.
Uma peruca Channel para mim, um sobretudo preto e uma bota de cano alto e para ele, um óculos escuro e um casaco escuro com capuz fechado bastava.
Agradeci aos céus por nosso quarto ter uma saída para área da piscina do apartamento e conseguirmos chegar a saída sem que ninguém nos visse.
Entramos no carro, e ele até tentou me impedir de dirigir, porém logo se deu conta de que não se lembrava o caminho para a sorveteria.
A escolha da vez foi o drive da mil frutas café, para mim eu peguei um sorvete de melancia e para Tomás, sem precisar perguntar, de açaí com chocolate.
Ele pegou o potinho da minha mão e com a outra ligou o som, parecendo se assustar quando escutou a própria voz:
— Por que você escuta minhas músicas no carro? – Seu olhar assumiu um brilho travesso.
— Porque gosto de ouvir sua voz enquanto dirijo. – Minha bochechas esquentaram e agradeci por ter que olhar para a rua e ele não percebesse meu embaraçoso repentino.
— Hum, bom saber.
Dirigi até a praia. Estava perto do sol se pôr e eu queria assistir ao lado dele.
Aquele foi o primeiro momento de paz que tivemos em muito tempo: sentados na areia, nos enchendo de açúcar e rindo de qualquer bobagem. O sol se despediu e a minha cabeça estava repousada em seu ombro esquerdo e seus dedos faziam movimentos circulares em meu ventre coberto pelo vestido.
— O que você tá fazendo? Dá cócegas! – Tentei conter uma risadinha pelo nariz.
— O que parece que estou fazendo? Conversando com meu filho, oras! – Fez careta.
— Olha, as pessoas normais conversam com a boca, sabe? – Aproveitei que seu cabelo estava ao alcance da minha mão para acaricia-lo.
— Todo mundo sabe que o jeito certo de conversar com bebês dentro da barriga é com os dedos – Ele riu de olhos fechados.
Meu celular vibrou, era uma mensagem de Michelle, no mesmo instante senti toda a alegria que eu estava sentindo evaporar.
— O que foi? – Indagou depois de perceber que me calei.
— A Michelle quer que eu vá visitá-la, porque comprou coisas novas para o bebê e quer que aprove. – Entortei os lábios, seguido de um suspiro.
— Vai soar estranho se eu disser que também quero ir? Afinal, o novo eu e a Michelle ainda não se conhecem.
SIM
SIM
SERIA CAPAZ DE SURTAR SE TIVESSE QUE FICAR NO MESMO CÔMODO QUE VOCÊS DOIS!!!
Mas espera, tenho que dar um voto de confiança pra ele, certo? Nas últimas horas, tinha se esforçado e muito para compreender esta nova realidade sem julgamentos.
— Eu espero que o Tomás versão 2 e a Mih se dêem melhor! Vamos lá, então.
O trajeto para o apartamento de Michelle foi silencioso, talvez porque estou nervosa e o homem ao meu lado não sabe o que o espera.
Mas, ninguém me preparou para o que aconteceu quando chegamos.
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Todo Dia
Hayran KurguUm músico e uma bailarina que namoram há 7 anos começam a enfrentar problemas para conciliar a carreira e o relacionamento. Uma viagem à Salvador e a chegada de uma filha pode ser a solução para tudo ou o início do fim