Capítulo 17 - Lembre de mim

48 1 0
                                    


Carla

Chorei até dormir na noite anterior, primeiro porque eu não aguentava mais as exigências de Mauro para cima de mim e por mais que odeie admitir, enciumada com a chegada de Michelle em casa. Eu não esperava que Catarina fosse ficar tão grudada nela ou que a versão desmemoriada de Tomás se desse tão bem com ela já no primeiro dia, demorei meses para conquistar a confiança dele! Ou talvez eu só estivesse exausta de todo o estresse dos últimos meses.

Enquanto tomava banho, as últimas palavras ditas por Tomás antes de eu adormecer não saiam da minha cabeça " quero que você volte a fazer o que realmente gosta sem mim " ele sugeriu apenas desvincular a nossa imagem profissional ou algo mais? Conversaremos depois, agora eu não tenho um ultrassom para finalmente descobrir o sexo do meu bebê, Catarina espera que seja uma menina como ela. Eu preferi não palpitar, escolhi uma roupa qualquer, visto que não precisava disfarçar a barriga, já que sequer cresceu nos últimos meses.

Dirijo devagar até o consultório, aproveitando para respirar observando o dia ensolarado e bonito que fazia e então meu celular conectado ao rádio tocou, revelando uma ligação de Mauro.

- Você ainda não apagou aquele maldito vídeo, Carla? Não vou deixa-la destruir a carreira brilhante e lucrativa de Tomás por causa dos seus chiliques? Já não basta faze-lo perder a memória e largar os palcos e todos os projetos? - Ele não se cansa de berrar, sua voz soava ameaçadora pelo ambiente. - Ouça bem, se não colaborar comigo, vai se arrepender, entendeu?

- Não vou continuar vendendo o meu relacionamento como um produto, porque você quer, Mauro, já falamos sobre isso diversas vezes, estou cansada! A carreira dele acabou faz tempo e o único responsável por isso é você, e não eu! Vá em frente, transforme suas ameaças em ações, eu definitivamente não me importo. - eu apertava o volante com tanta força que as unhas doeram, ia acabar causando um acidente se não desligasse essa maldita chamada.

- Ora, ora, ora, como ela está corajosa! Quero saber pra onde vai essa bravura toda quando o seu precioso " on beat " fechar as portas?! Porque é isso que vai acontecer quando eu te expor ainda mais.

- Vá em frente, eu tenho coisas ao seu respeito muito piores para mostrar para mídia e ao contrário de você, eu tenho provas! Dê um passo e não vai gerenciar nem cantores de barzinho. - esbravejei, desligando a chamada.

Respiro fundo tentando me concentrar apenas em meu bebê, como ele será? O que ele será? Como vai ser a relação dele com a Cat, com o pai, se conseguiremos viver tranquilamente com ele, posso decorar seu quarto em tons roxo e vermelho.

E o mais importante, a memória de Tomás voltará há tempo de seu nascimento? Eu precisava dele inteiro ao meu lado, precisava me sentir segura.

Assim que cheguei ao consultório de Poliana, fui chamada, substituí o vestido por um avental clínico e deito na maca reclinável e a obstetra passa um gel azul em meu ventre.

Conforme Poliana me orienta, consigo ver o rostinho arredondado,o narizinho arrebitado, como o meu,os bracinhos magros e as perninhas.

Céus, como eu amava aquele bebê e como podia, às vezes, em meio à toda essa confusão, esquecer de aproveitar cada segundo enquanto o carregava dentro de mim.

- É, parece que você será mãe de outra menina, Carlinha, meus parabéns - Poliana comentou, me tirando do transe.

Lágrimas finas rolam pelo meu rosto e um sorriso congelado se abre em meus lábios. Catarina tinha acertado, ganhou uma irmãzinha para crescer junto dela.

Agradeci à Poli, fiquei atenta às suas recomendações e vitaminas que eu precisaria tomar nessa fase da gestação.

No caminho para casa, acabei passando na minha confeitaria preferida e comprei cupcakes de maracujá sem açúcar, enfeitados com uma cobertura rosa para contar a " novidade " de um jeito mais lúdico para Catarina.

Todo DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora