capítulo 14

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Tomás

Se passaram dois dias agonizantes, só fiquei sabendo que Carla recebeu alta do hospital através de Diego e Michelle, pois ela continua ignorando minhas mensagens e chamadas.

Eu não entendo o por quê, nunca foi do tipo que irrita facilmente e esconde o que sente. Só quero saber o que aconteceu para me evitar desse jeito e resolver tudo, o mais rápido possível.

Dei graças a Deus quando consegui estacionar o meu carro na entrada do nosso condomínio na segunda de manhã. Entrei no elevador, esperançoso de ainda encontrá-la em casa, são 8h40  e pelo que me lembro só saí para o estúdio de danças às nove e meia.

Estranho o silêncio no apartamento, sempre faz tudo com a JBL ligada nas alturas ouvindo John Mayer para começar o dia bem.

Abri a porta e não a vi na sala, rumei para cozinha e tudo está organizado e intocado. O tapete de meditação não está mais na área da piscina, o que é esquisito. Subo as escadas indo para o nosso quarto:
A cama devidamente arrumada, como nunca fica, e olhando ao redor percebo que os livros que ela adora ler antes de dormir não estão na cabeceira,
caminho até o banheiro abrindo os armários e vendo que seus cremes, perfumes e sabonetes perfeitamente organizados não estão mais lá também. 

Mas que porra essa mulher está fazendo? 

Volto para o quarto notando a porta do closet aberta, o que me espanta de início, me arrasto até o cômodo sabendo que não vou encontrar nada. 

A ficha de que Carla me deixou vai caindo aos poucos.

Como previsto, não há uma só peça de roupa no closet. Quero dizer, nada além do vestido que usou em nosso casamento, uma camiseta minha que usava pra dormir sem que eu estava fora.
As malditas lágrimas que já se tornaram minhas companheiras nos últimos tempos fazem-se presente (homem não chora é o cacete) Sem mais forças, vejo-me deitado no chão, me perguntando por que fez isso? Tudo estava tão bem, perfeito, do jeito que queremos e de repente puf...

Acabou sem explicação.

Aquela dor já era conhecida por mim, mas dessa vez não tinha cometido nenhum erro, na verdade, estou cansado de tentar ser perfeito para ela, dar o mundo em suas mãos, mas basta um pequeno deslize para fugir para longe e se isole. 

Chega disso!  

Pela última vez, estava dirigindo para o On beat, pela última vez estou correndo atrás dela. Pisando no meu orgulho e coração por ela.
É engraçado, mesmo com toda essa aflição e rejeição, ainda sinto necessidade dela.

Passo pelos corredores do estúdio, procurando por Carla, parece até que tomou chá de sumiço, ninguém viu, ninguém sabe onde está ou estão apenas cumprindo ordens da mesma. Por sorte, encontro Michelle por acaso e me diz que a minha esposa desaparecida está no escritório.

Depois de subir três lances de escada, estou ofegante, ansioso e nervoso, mas tudo some quando a vejo, o cabelo está preso em coque, está trajando um vestidinho floral meio soltinho, o batom vermelho acentua a beleza do sorriso, porém a tristeza em seu olhar não se deixa enganar. Alertando-me que algo estava errado.

Fosse o que fosse, eu resolveria! Se ela permitisse, pela última vez.
Antes que pudesse abrir a boca para questionar ou me expulsar dali, a abracei,  permaneceu estática e em silêncio.
— Amor, me perdoa! Eu tentei vir antes,mas... – Expliquei enquanto espalhava beijos por todo seu rosto.
Sem perder mais tempo, uni nossos lábios com certa urgência.
Para minha totalmente surpresa, ela retribuía com a mesma pressa e mesmo desejo. Não sei quanto tempo durou, ignoramos até a falta de ar para continuar nos saboreando.
— Eu não quero suas desculpas esfarrapadas, Tomás! Só precisava que você estivesse comigo, mas NUNCA ESTÁ E TO MUITO CANSADA DISSO!– empurrou- me bruscamente, chorando ao berros.
— Sua irmã não me avisou nada sobre você ter ido parar no hospital, quando eu soube já era tarde demais! E mesmo assim, eu tentei voltar, o Mauro não permitiu! Pergunta pra ele, se não acredita em mim! – Justifiquei, sentindo a raiva me tomar, ela não podia me julgar assim.
— SEI MUITO BEM QUE A MERDA DA SUA CARREIRA É MAIS IMPORTANTE DO QUE EU OU QUALQUER OUTRA COISA DA VIDA, PRECISA INVENTAR MAIS MENTIRAS! ACABOU!   – Gritou ainda mais, tremia e chorava como uma criança indefesa.
— Você enlouqueceu? NADA é mais importa além de você na minha vida, eu abria mão de tudo para ficar ao seu lado, amor! Nunca mais repita ou pense uma besteira como essa, entendeu  bem? Olha só, vamos dar um jeito nisso, okay? Calma.... – Me reaproximei tentando tranquiliza-la.
— NÃO! NÃO! ESSE CASAMENTO FOI UM ERRO E TERMINA AGORA!
— Meu amor, eu sei que está com raiva agora e tem todo direito de estar, mas pense bem antes de tomar uma decisão tão drástica, está bem?

De onde tinha surgido a calmaria? Bom se ela quer surtar, eu preciso ser racional e paciente. Certo? Embora eu não entendesse a razão de ela estar agindo agressivamente.

Descobria mais tarde, naquele momento desesperador, só tentei ampara-la enquanto só queria me afastar com gritos, tapas e choro.

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