capitulo 8 - Lembre de mim

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Carla

Exausta é a palavra que melhor definia o meu estado quando acordei naquela manhã de sábado com a porcaria do celular tocando incessante e alto demais. Rolo na cama até conseguir esticar o braço até a mesinha de cabeceira para pegá-lo, atendo sem olhar de quem se trata.

— Alô – Digo entre um bocejo.

— Te acordei? Desculpa chefinha! É que temos uma sessão de fotos inadiável para vocês marcada para hoje, e não se preocupe! Eu dou um jeito de convencer o cantor desmemoriado. – A Voz agitada de Maria Luiza me fez querer gritar.

Eu não terei uma folga nunca? Maldito seja o dia que eu resolvi criar essa droga de canal e vender o desastre do meu casamento como se fosse perfeito e ter uma câmera apontada para minha cara doze horas por dia. Sério o que eu estava pensando? Agora preciso ir além dos limites para esconder uma gravidez e uma crise.

Praguejando até a última geração de Mauro e toda equipe junta digo ok para Marilu e levantei da cama indo até o banheiro tomando um banho rápido. Fez minha maquiagem leve, o babyliss nas pontas do cabelo.

Escolhi um macaquinho branco com decote coração para vestir e desci para a cozinha.

Me deparando com a cena mais fofa do mundo: Catarina e o pai tomando café da manhã juntos. A risada da Moranguinho ecoa pelo cômodo enquanto Tomás fazia aviãozinho com a colher das frutinhas. Assim que me viu parada na entrada, ela saiu da cadeirinha e veio até mim gritando:

— Bom dia, mama! BOM DIA, NENÊZINHO – Beijou minha barriga. Achei o gesto muito fofo até encarar a expressão de confusão estampada no rosto do homem a minha frente.

— Bom dia, minha princesinha linda! Quem te arrumou assim?

— papa e naclara, eu quero que a minha irmã nasça logo pra gente poder brincar, demora muito?

— Ainda demora um pouquinho, meu amor – Explico pegando-a no colo e levando de volta para sua cadeira.

Ignoro a fúria de Tomás, bebendo um suco de laranja. Ele abre a boca para questionar ao mesmo tempo em que a campainha toca, saio correndo para atender.

Deparo-me com Maria Luiza, o fotografo Edu e a banda (Luis, Victor e Gabriel) prontos para começar o trabalho enquanto eu surtava internamente por ter sido desmascarada por uma criança de 1 ano. Ao meu lado, surge um Tomás ainda mais confuso.

— Só siga as instruções da Marilu, fazemos as fotos e então eu conto tudo que você precisa saber, ok? Por favor, colabore! – Digo em um tom desesperado de súplica.

Ele não tem tempo de negar ou implicar, pois Marilu prova sua eficiência o arrastando para o andar para a troca de roupa.

Edu é um fotografo que adora misturar todas as artes com fotografias. A sua escolha para nosso ensaio é transformar nossos corpos em telas de quadros.

As primeiras imagens serão feitas na área da piscina.

Retiro o macaquinho ficando apenas com as peças íntimas, sigo as instruções que dizem para derramar a tinta rosa sobre a pele. O líquido colorido e gelado causa arrepios.

Mantenho os olhos fechados e um sorriso congelado nos lábios. Mãos trêmulas envolvem minha cintura e vão subindo para a barriga conforme os comandos do fotografo. Sei que se trata de Tomás, a decepção chispa em minha mente, pois nunca recebi toques tão tímidos vindos dele.

Estamos de frente um para outro. Minha palma suja da mistura das duas cores: Roxo alcança o rosto dele, que desvia o olhar para o chão.

— Olhe nos meus olhos, me diga o que enxerga neles! Eu te amo e preciso que você confie em mim para te ajudar a recuperar a memória e voltarmos a trabalhar juntos como sempre fizemos. – Quero chorar.

Por um momento, esqueço que estamos sendo fotografados e a equipe tinha total atenção focada em nós.

— Eu...

— Tomás, preciso que você espalhe a tinta agora roxa pelos pontos do rosto dela que ache mais bonitos. – Edu orientou.

Timidamente, fez um círculo roxo na ponta do meu nariz, seguida de linhas ligando as pequenas covinhas da minha bochecha, desenhou pequenos corações nas pintinhas do meu pescoço. Seu olhar estava em minha boca, mas pressionou meu queixo.

Chegou a minha vez e decido mudar as cores: Começo com a tinta vermelha no lóbulo de sua orelha esquerda, porque eu gosto de morder ali, troco para amarelo em seus ombros, é lá que minhas ficam na maioria dos nossos beijos. Laranja para a nuca por conta do perfume de frutas cítricas, branca para o cabelo, vamos envelhecer juntos com certeza.

Peço para fechar os olhos, assim eu posso pintar suas pálpebras de cinza, eu adoro assistir seu sono, a tinta preta foi espalhada nas costas, porque amo a forma que contraem quando está prestes a gozar.

A tinta verde vai para o nariz e o lábio inferior. Saboreando cada reação sua aos meus toques, ora se afastava, ora abria meios sorrisos de satisfação, as sobrancelhas arqueadas quando não entendia a minha escolha.

Neste curto período, não somos os fantasmas de nós dois e isso traz paz.

As fotos seguintes são na piscina: Em uma estamos nadando, na seguinte esperamos a decisão do fotografo

— Quero vocês o mais próximo possível. O objetivo é capturar o olhar da Carla, Tomás fica de costas para a câmera, certo?

Enlacei as pernas em volta de seu quadril, apoiando o queixo e as mãos em seu ombro esquerdo.

O restante das fotos, eu não me lembro muito bem, entrei em modo automático por conta do cansaço.

Despedi-me da equipe, depois de conferir todas as fotos e selecionar as que usaremos em breve.

— Eu acho que é hora de termos uma conversa, por que você me escondeu que estava grávida?

— Eu tentei, mas VOCÊ resolveu me evitar e se afastar de mim! Como ia ter coragem de contar para um homem que me odeia que estou esperando um filho dele? Ia contar assim que você estivesse mais seguro ou lembrasse de algo. Só não contava que Catarina fosse revelar tudo, ela está feliz ter um irmão. – A Verdade me escapa como um grito.

Subo as escadas para cortar a continuidade daquela conversa.

Tranco a porta do quarto me permitindo chorar enquanto tomo banho.

Por que está tudo tão difícil pra mim? 

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