capítulo 25

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Tomás

Viajei há 3 dias para a gravação da minha nova música e clipe, apesar de não estar com cabeça para isso. Minha mente vagava de volta para a casa, os pensamentos totalmente voltados para minha esposa podendo dar a luz a qualquer momento. Porém aqui estou eu com meu violão nas mãos caminhando por uma praia com várias câmeras apontadas para meu rosto. Não entendo como tenho suportado isso por tanto tempo, tudo que eu queria era fazer meu som, porém ultimamente Mauro só pensa em explorar a minha imagem e estragar a minha vida conjugal.

Três dias atrás, tivemos uma discussão porque o empresário queria expor a gravidez da Carla, mesmo sabendo que a mesma não se sentia segura para tal e ainda marcou essa maldita gravação sabendo que não podia deixá-la sozinha justamente agora que faltava tão pouco para o nascimento de Catarina.

No fim do  dia de filmagem decido ligar para ela de novo, mais cedo parecia estar muito mal. 
Caiu na caixa postal, liguei para desmiolada da minha cunhada e deu no mesmo, então decidi ligar para a Alice, aquela ali não desgruda do telefone com certeza ia atender. Dito e feito!
— Alice, como está a Carlinha? Porque ela não me atendeu?
— Cê tá sentado? – Perguntou nervosa.
— E o que isso tem haver? Facilita, ô minha filha.
— A Carla não atendeu porque nesse exato momento está em trabalho de parto desacordada.
— COMO É QUE É? MEU DEUS O QUE ACONTECEU?
— Eu não sei direito! Sai pra pegar o pedido do jantar, a Becky foi comprar um remédio pra dor de cabeça que a Carla pediu e quando voltamos ela tava desmaiada... Chamamos a ambulância e  ela está lá já faz umas 5 horas, mas isso é normal! Talvez a Catarina só nasça realmente amanhã, ou seja, dá tempo de você chegar aqui. ELAS PRECISAM DE VOCÊ AQUI!
— E-eu Nnão Deveria ter viajado! É tudo culpa minha. Vou tentar voltar hoje mesmo – As lágrimas desceram pelo rosto.
O coração batia acelerado, as mãos frias e suadas, boca seca, o estômago embrulhado e a cabeça explodindo. Não era a hora para um ataque de ansiedade, mas não pude controlar meu corpo naquele instante de desespero.  O ar faltou e eu me sentia preso entre as paredes do quarto.
— Cara, você tá bem? – Vitor e Luis entraram.
— Tomás? Você ainda está aí? – pude ouvir a voz de Alice ao longe no telefone.
Vitor o tirou da minha mão e falava algo que eu não conseguia prestar atenção, enquanto Luis tentava me acalmar.

— Cara, escuta: Nós vamos com você de volta para Rio primeiro porque queremos conhecer a mascotezinha da banda e segundo que sem nenhum de nós aqui, o Mauro não vai ter como continuar com essa palhaçada – Vitor decidiu.

Fizemos as malas (eles ajudaram também) e fomos para o aeroporto, apenas conseguimos um vôo às quatro e meia da manhã. Desembarcamos às 6 no Rio, estávamos entrando num táxi rumo ao hospital quando recebi uma áudio de Alice eufórica: A CAT ACABOU DE NASCER. ELA ESTÁ BEM, ASSIM QUE FOR ENCAMINHADA PARA O BERÇÁRIO EU ENVIO FOTOS!! CADÊ VOCÊ? AH SOBRE A CARLA, ELA ESTÁ VIVA, MAS BEM FRAQUINHA E CANSADA, TBM DEPOIS DE QUASE VINTE QUATRO HORAS DE PARTO, PUDERA!

ÓTIMO,eu tinha perdido o nascimento da minha filha e minha Carlinha estava mal por culpa total e exclusivamente minha! Sou péssimo pai e um péssimo marido, não me espantaria que me largassem, merecia aquilo. Mas eu ainda necessitava vê-las urgentemente!

Todos os acontecimentos seguintes foram no automático pra mim até o momento em que eu a vi pela primeira vez, ainda dentro da encubadora. Tão pequeninha, tão frágil. De longe, ou melhor, através do vidro do berçário, já dava para perceber sua pele branquinha, os cabelos bem pretinhos, os lábios largos como os da mãe, o formato dos olhinhos meio puxadinhos.
Cat é ainda mais perfeita do que imaginei e não via a hora de segura-la no colo e poder levá-la para casa. Eu poderia passar horas ali admirando-a, mas a preocupação com Carla falou mais alto e embora, eu tivesse sido informado que ela não queria me ver nem pintado de ouro assim que cheguei aqui.

No instante em que entrei no quarto de hospital e a encontrei completamente pálida, rosto inchado e sem expressão
nenhuma, os braços conectados ao balões de soro e percebendo que respirava com ajuda dos aparelhos. Só pude me contorcer de culpa por dentro.
— Amor, eu sinto muito ter falhado com você, ter feito promessas que eu podia cumprir. Vou consertar tudo isso assim que pudermos sair daqui, ok?

Sua boca se abriu para contestar o que eu dizia, provavelmente, mas ao invés soluços misturados ao choro lhe escapam. Ela estava com medo, eu o sentia em mim mesmo.
— Sei que tudo que aconteceu deve ter sido muito difícil para você, mas vai ficar tudo bem, nós três vamos pra casa logo logo. Será tudo como planejamos – continuei, me aproximei começando a acariciar seus cabelos desgrenhados levemente para acalma-la.

Carla permanecia sem falar um A, aquilo me assustou. Insisti mais um pouco na tentativa de fazê-la dizer algo até que o médico apareceu junto a enfermeira lhe deu um sedativo e ela caiu no sono.

— Não se preocupe, sua esposa teve um parto complicado, é normal que haja algumas sequelas nesses primeiros dias,  ela ficará bem e voltará ao que era antes daqui alguns dias quando receber alta. A não ser que trate de depressão, mas cuidaremos disso e você também poderá colaborar para a cura ou a melhora dela.  – O Doutor Alberto orientou.

Aquilo só podia ser um pesadelo.

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