Tomás
Começo a achar que ter amnésia pode ser uma chance para consertar os erros do passado e me tornar uma pessoa melhor. Depois de passar o início da noite conhecendo Michelle outra vez e perceber que ela não era, de fato, tão ruim assim, fiz o que julguei ser certo e a convidei para morar conosco até o bebê nascer. Nunca imaginei que seria pai de um menino, na verdade, nunca imaginei que seria pai, mas o antigo eu parecia querer muito isso.
Enquanto Michelle arrumava suas malas em seu quarto que ficava ao lado da sala, Carla andava de um lado para o outro na pequena varanda. Ela ficou muito quieta desde que chegamos aqui, só comentando uma coisa ou outra quando eu perguntava, evitando fazer contato visual com a ex amante. O que será que está incomodando? Será que fui precipitado em fazer esse convite? Quero perguntar, mas não sei se devo.
Por meio segundo, me recordo de que só estamos vivendo toda essa bagunça foi causada pela falta de diálogo e tempo um com o outro, então decidi tomar coragem para falar:
—Acha que foi um erro convidá-la? – indago, receoso e sussurrado.
— Não, na verdade, acho que era o que deveríamos ter feito desde o início, já que a Michelle está esperando um filho seu. – Vira a cabeça para me encarar, enquanto gira o anel nos dedos e morde os lábios com força a cada palavra que sai da boca.
— Isso te chateia? – Ergui uma sobrancelha.
— Não, claro que não.... – Uma risada amarga escapa de sua garganta – Eu causei toda essa situação.
— Ah, então você se sente culpada?
— Hummm – um bico se forma em seus lábios – Também não, só é novo, um pouquinho confuso e eu não esperava isso. Nem sei o que vamos dizer para a nossa família ou pior ainda, para o Mauro. Sinto vontade de vomitar só de pensar no que aquele asqueroso vai dizer quando souber dessa mudança.
— Achei que você tivesse dito que estava cansada do nosso produtor controlar a nossa vida...
— É, mas temos um contrato a cumprir e ainda mais agora que precisamos esconder a sua doença da mídia ou estaremos fritos. – Carla suspirou e encostou a cabeça em meu ombro direito.
— Queria que nossa vida fosse menos pública, sabe? Sem que milhares de pessoas estivessem me olhando prontas pra julgar qualquer erro meu. – Digo, Carla me encara, a culpa dançando em seu olhar cheio de lágrimas. Antes que ela possa responder, Michelle surge sorridente.
— Vamos? Acho que peguei tudo que vou precisar nos próximos dias – Eu pego a mala pesada dos seus braços e sigo para a porta.
Minutos depois, Carla dirige de volta para nossa casa, silenciosa como ela só. Abrimos a porta do apartamento e uma Catarina saltitante pulou no colo da madrinha.
— DiDi!!! – mordeu a bochecha de Michelle e eu ri
— Você sentiu saudade da madrinha?! Temos uma novidade pra você!! A Didi vai morar aqui com a gente agora, o que acha? – anunciei sorrindo e ouvi Carla suspirar atrás de mim.
Catarina comemorou com um gritinho e se agarrou ao pescoço da madrinha, Carla passou por nós três, com uma expressão fechada no rosto enquanto mexia no celular. Eu não sabia o que estava a aborrecendo e talvez seja melhor que não saiba mesmo.
Jantamos brincando com Catarina, Carla continuava em silêncio e comia como se estivesse fazendo um esforço enorme.
Apenas na hora de dormir que eu me dei conta de que teria que ficar no quarto dela, já que Michelle ficaria no quarto de hóspedes.
Eu entrei, meio tímido, tentando reconhecer aquele espaço que costumava ser nosso. Sentei na cama e respirei fundo. Tudo tinha o perfume de Carla, os móveis em tons papéis só podiam ter sido escolhidos por ela, todos os seus pertences eram parecidos com sua personalidade. Não importava quanto esforço fizesse para me encaixar ali, eu não conseguia de jeito nenhum por mais que desejasse isso.
Escutei seu choro vindo do banheiro, por impulso, bati na porta e ela abriu,o rosto vermelho, os olhos inchados e as mãos trêmulas tentando continuar segurando o celular.
— Carla, o que aconteceu? – a abracei passando os dedos entre os fios do seu cabelo.
— Eu não aguento mais isso, os comentários de ódio dos supostos fãs do nosso canal desde que postei o último vídeo e o Mauro cobrando para apagar, por segundo ele, não fazer bem para nossa imagem como casal. Falando assim parece que a nossa relação é um produto a ser vendido. Eu não quero mais isso nas nossas vidas, Tomás, não quero – Sussurrou entre soluções, apertando meus ombros.
— E então não faremos mais nada disso, a nossa prioridade agora é a sua saúde mental e física para a chegada dos bebês. Talvez seja a hora de fazermos uma pausa para desvincular a nossa imagem mesmo, eu não pretendo voltar aos palcos ou a cantar tão cedo e.... Quero que você volte a dançar, escrever, o que você realmente gostar...Sem mim.
Ela com certeza, ficaria melhor sem a minha presença, desmemoriado sempre serei um peso a ser carregado. Sei que Carla se sente culpada pelo que me aconteceu, pela forma que eu age até pouco tempo atrás. Então, nada mais justo que a libertar desses contratos ridículos.
Deixei-a chorar por mais alguns minutos até que a carreguei para cama e ela adormeceu sem me soltar.
Nota da autora: QUEM É VIVO SEMPRE APARECE, MORANGUETES, ESTAMOS ENTRANDO NOS CAPÍTULOS FINAIS DE LEMBRE DE MIM, E EU TENHO UMA SUPER NOVIDADE PRA VOCÊS ASSIM QUE FINALIZAR!!! A POBRE DA CARLA SOFREU MAIS QUE A JULIETE, FAMÍLIA, MAS, TEREMOS UM FINAL FELIZ
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Todo Dia
Fiksi PenggemarUm músico e uma bailarina que namoram há 7 anos começam a enfrentar problemas para conciliar a carreira e o relacionamento. Uma viagem à Salvador e a chegada de uma filha pode ser a solução para tudo ou o início do fim