Capítulo 1

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Aurora Ambrosius

Dia primeiro de setembro, o Sol está nascendo ao fundo da paisagem montanhosa. Na Rua dos Alfeneiros tudo ainda estava adormecido, mas eu sequer havia pregado os olhos. Estava a mil, ansiosa com a nova aventura que me esperava às portas. Esperei por anos pela carta de Hogwarts, e agora ela estava esperando por mim. Era simplesmente impossível dormir.

Corria de um lado para o outro em meu quarto, passei a madrugada arrumando minhas malas e estavam prontas, mas eu ainda cismava de que havia me esquecido de algo. Não poderia correr o risco, não sabia quando voltaria a colocar meus pés ali outra vez, então repassava minha lista mental. Minha escova de dentes!

Me apresso para o banheiro e volto correndo para guarda-la na mala. Sentada sobre a bagagem lotada, forço e zíper para fechá-la, e apenas quando consigo fazê-lo reparo em minha furão entrando aos saltos pela janela com algo na boca.

— Pronta para ir, babi? — Ela pula em minha cama, parando sobre as duas patas, e eu me curvo para ficar na altura dela.

Da boca, ela solta um galho de onde arranca frutinhas pequenas, redondas e vermelhas que em seguida ela põe em sua mine pochete. Reconheci as frutinhas como as da horta da Sr. Rodwell, as mesmas que já pedi que não voltasse a roubar de nossa rabugenta vizinha. Mas do que adiantava argumentar com Babi? Ela passa o corpinho pela alça e veste a pochete como uma tiracolo, abanando o rabo em seguida. Pronta. Eu acaricio suas orelhas.

— É melhor irmos. Quanto mais cedo chegarmos lá, melhor. — Ponho uma mochila nas costas e subo a alça de duas malas de rodinhas que vou arrastando ao meu lado.

Tão rápida quanto possível, Babi sobe em meu ombro e se aconchega ao redor do meu pescoço. Suas pelagem branca como a neve faz parecer que estou usando um cachecol. Adoro quando ela faz isso, é tão macia quanto aparenta ser.

Quando fecho a porta de minha pequena casa alugada percebo o quanto estou feliz de sair daquele lugar monótono e dou um suspiro, que é uma mistura de felicidade e alívio. Jamais gostei da rotina repetitiva e tediosa das pessoas daquele lugar. Meu medo era nunca ser chamada e acabar tendo que me tornar uma contadora, uma telefonista, ou algo tão chato e normal quanto.

Inicio minha caminhada até o ponto de ônibus que me levará até a estação, e no caminho avisto o Sr. Dursley sentado em frente à sua casa e seu filho, um garoto muito mimado, mostrando em uma revista todos os presentes que exigia ganhar em seu próximo aniversário. Apesar de não parecer, sei que naquela casa morava mais um menino, meu melhor amigo. 

Quando eu tinha nove anos conheci ele, tínhamos a mesma idade. O nome dele era Harry, Harry Potter. Ele sofria muito naquela casa e quando nos conhecemos logo nos tornamos amigos, melhores amigos. Nos víamos escondidos e mantemos nossa amizade por seis anos, mesmo que com onze ele tenha passado a ir todo ano para um colégio interno bem longe. Ele nunca me falava nada sobre esse lugar, e eu entendia que era porque ele não gostava de lá e preferia não tocar no assunto. Mas ele sempre voltava. Até que um dia ele sumiu e nunca mais voltou. Simplesmente não aparecia mais no nosso esconderijo onde nos encontrávamos. Jamais soube o que ouve com ele, mas nunca mais o vi. Até que, um dia, fui na casa e perguntei por ele, e os Dursleys me disseram que ele havia de fato morrido. Isso já tem um ano, mas a perda do meu primeiro e único melhor amigo ainda dói.

- Tenho certeza que o Sr. Dursley vai ficar feliz em não nos ver mais por aqui. - Digo e Babi olha para o homem com o focinho franzido.

Dou uma coçadinha em sua cabeça e olho para a casa. Ao me ver, o mini Dursley me manda uma piscadela. Reviro os olhos e sigo andando. Sempre odiei o jeito que ele continua dando em cima de mim mesmo já tendo o rejeitado milhares de vezes durante os sete anos em que moro aqui. Ele é tudo que eu considero ruim em um cara. Definitivamente não é o meu tipo, se é que me entende. Mesmo assim ele continua insistindo, insistindo e insistindo, e confesso já estar sem paciência para ser educada com ele. 

Dou uma olhada pelo canto do olho e vejo ele vindo em minha direção. Ele atravessa a rua arrumando o cabelo com as mãos. Imediatamente aperto com força as alças das malas e inicio passadas largas.

- Bom dia, senhorita Aurora. - O garoto disse enquanto puxava a gola de sua camisa, que notei estar suja de chocolate.

- Bom dia. - Digo apenas.

- Você está linda hoje. Como sempre, na verdade. - Ele sorri e vejo a segunda prova de que ele estava se esbaldando em chocolate momentos antes entre seus dentes da frente.

- Obrigada, Duda. Mas estou com um pouco de pressa hoje. - Acelerando meus passos.

- Então, eu estava ali pensando se você não gostaria de.... - Ele quebra o silencio mas eu o interrompo.

- De sair com você? Sério Duda? Não consegue pensar em nada novo? - Eu digo e deixo ele sem saber o que dizer. - Se não se importa, eu preciso chegar ao ponto de ônibus. - Volto a andar.

- Ah, eu posso te acompanhar. - Ele diz acelerando o passo até o meu lado e tenta pegar na minha mão.

Eu recolho meu braço e paro olhando pra ele.

- Meu deus, será que você não entende? Eu não quero que me acompanhe, e não quero sair com você. Quero que me deixe em paz e pare de me abordar sempre que saio de casa. - Digo brava e volto a seguir meu caminho.

- M..Mas.... - Ele tenta dizer algo ainda surpreso com o que eu disse.

Eu me viro com raiva e, de propósito faço meus olhos mudarem de cor para vermelho. Ele arregala os olhos, assustado com minha revelação. Sempre me preocupei em não usar meus poderes na frente dos trouxas mas agora eu não estava ligando. Estava indo para Hogwarts e não voltaria tão cedo. E além disso, quem acreditaria em histórias contadas por um menino assustado sobre uma simples menina de 16 anos que mora ali a anos e nunca deu suspeita de nada? Eu me aproximo dele e faço meus olhos voltarem ao normal aos poucos diante de seus olhos. Dou um sorriso sem mostrar os dentes e digo: - Eu vou seguir o meu caminho e te aconselho a não tentar me seguir. - Devolvo uma piscada acompanhada de uma sorriso sarcástico e dou as costas seguindo o meu caminho. Percebo ele voltando correndo pra casa e me sinto extremamente satisfeita.

Finalmente chego no ponto de ônibus e lá encontro a Srt. Bolton, uma viúva de meia idade. A mulher que me alugou a casa. Entrego as chaves e agradeço. Nos despedimos e logo ela segue seu caminho. Não demora para o ônibus chegar, me sento no fundo perto da janela. Observo todo o caminho até a estação de trem com a ansiedade e curiosidade crescendo no meu peito.

A filha de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora