Capítulo 12

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Flashback on

Quando eu tinha 15 anos eu já tinha um controle quase perfeito de meus poderes. Meu treinamento ia bem e eu estava ficando boa nisso.
Em um certo período bruxos das trevas e até mesmo comensais começaram a aparecer no mundo trouxa, estavam loucos ou entendidos. Eles começaram a voar sobre o céu trouxa em uma altura que era possível vê-los, tavam fogo em casas e lojas, e as vezes levavam crianças  apenas para deixá-las bem longe de casa completamente perdidas e sozinhas. Eles se divertiam vendo o caos e isso era muito perigoso. Então um dia eu me cansei disso e resolvi agir. Comecei a entrar em ação e eu sempre estava lá para impedir que fizessem algo. Apesar de não estar com meu treinamento completo eu conseguia dar conta e era confiante sobre mim. Eles me odiavam, afinal, eu estava acabando com a graça deles.
Em uma noite um incêndio suspeito aconteceu em uma fazenda da região e como era de se esperar eu fui até lá pois sabia que uma família morava lá. Eu consegui salvar a família, o pai, a mãe e um menino de uns 5 aninhos. Estava tudo bem mas eu comecei a ouvir um choro de bebê vindo de dentro da casa em chamas. Baixei a guarda e por um momento esqueci que aquela família não tinha outro filho. Corri pra dentro da casa para salvar a tal criança que chorava mas ao chegar lá vi que não tinha bebê algum e um bruxo saiu de entre as chamas. Era uma armadilha. Fui levada para fora com ele me escoltando com a varinha apontada em minhas costas. Quando cheguei ao lado de fora vi a família de três pessoas, cada um sendo ameaçando por um bruxo com uma varinha apontada em suas cabeças.
Eu fui jogada de joelho em frente a eles, tentei me levantar e me defender mas uma mulher surgiu ao meu lado e com um golpe me jogou novamente no chão.

- Você é corajosa querida, tenho que admitir. - Ela disse segurando com firmeza meu rosto com uma das mãos, olhando nos meus olhos.

Ela deu a volta em mim e me puxou pelo cabelo me forçando levantar.

- Dizem por aí que você é forte, boa. - Ela deu uma risada. - Vamos ver se é verdade. - Ela sussurra em meu ouvido.

- AVADA KEDAVRA! - Um bruxo gritou após receber um sinal da mulher que ainda me segurava.

Ficou em choque. Nunca tinha visto a maldição ser usada pessoalmente. Comecei a ficar muito assustada e minha expressão caiu por terra ouvindo a atual viúva gritar aos prantos.

- Hum, nada mal. - A bruxa ao meu lado olha o cadáver, procura meu rosto e da um sorrisinho.

Eu estava chocada, provavelmente pálida e com a respiração pesada. Pelos arrepiavam por todo meu corpo e lágrimas começaram a se formar.
Isso só fez ela abrir um sorriso ainda maior.

- AVADA KEDAVRA! - Um segundo bruxo acertou a mãe que caiu fria no chão.

Meu rosto começou a se preparar para chorar. Tentei virar o rosto para não ver mas aquela maldita me puxava de volta me obrigando a ver a cena toda.

Eles queriam me ver afetada, mal. Queriam me ver com medo deles e nos primeiros momentos conseguiram mas ao entender isso vesti minha máscara, tentando ser o mais fria possível e me proibindo de deixar uma só lágrima descer.

Ao perceber a mulher me olhou indignada mas ao mesmo tempo impressionada. Olhou em volta e logo o sorriso voltou se estampar em seu rosto.

- Oh, olha o que temos aqui, um menino. - Ela vira meu rosto para olha-lo.

Ele estava claramente confuso, não fazia ideia do que estava acontecendo. Ele estava sujo de cinzas e com a inocência estampada em seu rosto calmo.

- Qual é o seu nome pirralho? - Ela finge um sorriso bondoso.

Eu o olho e nego com a cabeça para que ele não diga. Ele obedece mas recebe uma cutucada da varinha do homem que estava atrás dele. Eu fecho os olhos implorando pra que um ajuda caísse do céu.

- Henry. - O menino diz com sua voz de criança que mexeu comigo.

Eu já havia entendido tudo. Ela queria que o menino se apresentasse assim me fazendo conhece-lo e sentindo mais quando o matassem. Infelizmente estava dando certo.

- Henry... - Ela diz vendo minha expressão e percebendo que estava conseguir o que queria. - E quantos anos você tem Henry?

Ele levanta sua mãozinha com cinco dedos levantados.

- Cinco?

Seu rostinho bochechudo acena confirmando.

- Oh.. tão novinho. Ainda tem tanto para viver. - Ela diz, vendo minha expressão desesperada. 

Ela da um sinal ao bruxo que o segurava, ele se prepara e abre a boca para lançar a maldição.

- NÃO! - Eu grito me jogando no chão. - Por favor... e..ele é só um menino, nunca fez nada pra que merecesse isso. - Eu imploro de joelhos, deixando todo meu orgulho e postura de lado. Estava desesperada.

Eu olho para o homem, meus olhos imploram por misericórdia. Ele me olha indiferente e tive a impressão de que até deu um pequeno sorrisinho ao me ver daquele jeito.
Naquele momento percebi que eles não pouparia a criança. Vi ele abrindo a boca novamente para em fim laçar a maldição, mas resolvi tomar um atitude. Eu um ato rápido lancei um feitiço que fez com que o menino dormisse na mesma hora.

- AVADA KEDAVRA! - O homem gritou pouco antes de perceber o meu feito.

Virei o rosto e fechei os olhos me recusando a ver o corpo morto da criança.

Colocar o menino para dormir foi a primeira coisa que pensei, pelo menos assim ele não sentiria nada. Isso aliviou mas não deixou de ser o assassinato de uma criança e isso me afetou profundamente. Mas isso também acabou com a graça deles o que fez com que a mulher, que parecia comandar todo o grupo, ficasse realmente brava.
Eu ainda estava ajoelhada com a cabeça baixa sentido a dor de tudo aquilo em quanto os bruxos apontavam as varinhas para mim.
Ela andou furiosa até mim, agarrou meu cabelo me forçando a levantar o rosto e em um movimento rápido puxou uma adaga e passou em meu queixo, um corte não fundo mas foi o suficiente para que sangrasse.
Arfei, sentindo minha primeira dor física da noite. Ela me soltou e eu levei minhas mãos até o local que eu sentia arder, vi minhas mãos ensanguentadas. Meus olhos se encheram de água, eu piscava rápido e meu coração estava acelerado. Me obriguei olhar pra ela que sorria satisfeita.

- Tão fraca e inútil.. - Ela dizia, me olhando com reprovação.

Com um feitiço de levitação ela trouxe o corpo do pequeno Henry e o jogou em meu colo, me obrigando a abraça-lo chorando.

- Lembre-se do dia em que você falhou, filha de Merlin. - Ela desdenhou enquanto seu corpo se transformava em uma fumaça negra. Ria. Sua risada era aguda e alta, muito alta.

Logo em seguida os outros fizeram o mesmo e em quanto os via sumir pude ouvir a risada que me dava arrepios.

Olhei para o rosto da criança que agora tinha gotas do meu sangue escorrendo por ele. Eu estava acabada.

Tudo que tive força o suficiente para fazer foi gritar. E gritei o mais alto que pude. Aquela dor estava me consumindo e eu não tive mais forças pra nada, permiti meu corpo cair de costas ao lado do corpo da criança. E ali eu fiquei.

Essa com certeza foi a experiência mais assustadora da minha vida. Ainda me lembro daquela noite com perfeição, com todos os detalhes, como se tivesse sido ontem. E quando por algum minutos eu consigo esquecer, ao me olhar no espelho ou tocar um meu queixo sinto ela lá. A cicatriz. A lembrança perfeita daquela noite. A noite que continua a assombrar nos meus piores pesadelos. E aquela voz volta a soar em minha cabeça me dizendo o quanto sou fraca.

Essa é marca do meu fracasso.

A filha de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora