Prólogo

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Este na foto acima é Merlin, meu pai

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Este na foto acima é Merlin, meu pai. Não, não é biológico, mas se pai é quem cria, esse é o meu. Esta foto foi tirada em um fim de tarde comum em nossa cabana na floresta, onde eu mostrava mais um dos meus desenhos — provavelmente mais um pássaro mal feito — para ele. E ele, como sempre, fingia interesse e encontrar muito o que admirar naqueles rabiscos.

Ele foi quem me ensinou tudo que sei, cada magia, cada feitiço. Eu estava me tornando realmente boa com a varinha. Com cada pequeno acerto ele me dizia o quanto eu o enchia de orgulho. Oh, como sinto sua falta.

Mas tudo que é bom dura pouco. E parece que principalmente quando se trata de mim.

Em uma tarde, estávamos estudando criaturas aquáticas à beira de um lago próximo, quando, de uma caverna submersa, emergiu uma bela fada chamada Viviane. Com suas lindas asas que brilhavam com gotículas de água refletindo a luz do Sol, seus longos cabelos negros, e seu corpo escultural moldado para a pura sensualidade, ela cantava no ritmo da maré, e se divertia com as algas que fazia crescer sob seus pés. Por ela o grande Merlin se apaixonou perdidamente, e passou a chamá-la de A Dama do lago.

Durante um bom tempo, assisti meu pai sair todas as manhãs para deixar uma vitória-régia florida às margem do lago para ela, como presente de seu amor. Ela parecia gostar, já que minutos depois já não estava mais onde era deixada. Ah sim, como era doce o amor por aquela doce flor. Maldita flor.

Fadas são extremamente observadoras, e por um tempo apenas nos observava e assistia às discretas declarações de meu pai. Até que se sentiu confiante para aparecer para nós, e conversar com ele. Ela entrou algumas vezes em minha casa, onde tomava o chá que eu preparava e ouvia com atenção as histórias das aventuras de Merlin. Encantada. Encantadora.

Ela, enfim, aceitou viver um romance com ele, mas, como toda fada costuma fazer, havia uma condição. Fadas são completamente desapegadas, e estar com ele seria como um favor, ele lhe devia algo por isso. Ela pediu que ele lhe ajudasse a melhorar e aprimorar seus conhecimentos e habilidades com magia. Ele aceitou, e começou a encontra-se com ela todo início de noite para ensina-la. Por quê pensar um pouco sobre quais poderiam ser suas intenções, não é?

Era um fim de tarde chuvoso no dia em que ele, antes de sair para encontrar sua amada, decidiu e me notificou da necessidade de fazermos um pacto de sangue. Pacto este onde ele faria de mim a única e eterna guardiã de todo seu poder e conhecimento, após sua morte. E toda essa herança morreria comigo. Eu tinha apenas dez anos e sabia exatamente do que se tratava aquilo, mas o que eu poderia fazer? Questionar o maior e mais sábio bruxo de todos os tempos? Eu não tive outra opção senão estender minha mão e sentir a varinha cortar minha pele.

Hoje o corte se disfarça perfeitamente entre as linhas naturais em minha mão, mas, se eu pensar bem, consigo me lembrar da ardência daquele corte com tanta clareza quanto me lembro da paz que senti quando ele apertou sua palma ensanguentada contra a minha e jurou que ficaria tudo bem. E enquanto ele proferia as palavras do feitiço, eu, com os olhos bem fechados e marejados, podia sentir como se seu sangue se misturasse com o meu e, tornando-se um, corresse pelas minhas artérias. Minha mente infantil me convenceu de que com aquilo ele estaria para sempre comigo, não importava o que acontecesse.

A filha de MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora