Pensei em ir embora pra deixar que Sofia dormisse agarrada com Camila como eu sei que elas sempre faziam mas minha cunhada não deixou. Sei que não está tudo bem com ela, sua voz está chocha e parece meio embargada, como se ela fosse chorar a qualquer momento. Sei que depois, quando for a hora, Camila vai me contar por isso não preciono para saber o contexto real da história.
– Vou ao banheiro. - estávamos na sala assistindo a um filme qualquer, não que eu estivesse prestando real atenção no que os personagens falavam, mas o carinho que eu recebia em meu couro cabeludo estava maravilhosamente agradável.
– Eu vou dormir, Mila. Boa noite. - Sofia se levanta e da um beijo estalado na irmã e um em minha bochecha.
– Boa noite, Sofi. - dissemos em sintonia.
– Bem, eu vou ajeitar a cama pra gente poder deitar. - seguimos os dois para o quarto que já estava gelado. Camila tem a mania de não desligar o ar condicionado e depois ficar reclamando do frio do quarto. – Acho que estamos no inverno. - sua voz era tediosa e eu ri.
– Você realmente faz isso sempre ou só quando sabe que eu venho pra cá? - ela soltou uma gargalhada enquanto eu ia em direção ao banheiro procurar por minha escova de dentes como quem diz "tá bom, você me pegou agora".
– Confesso que quando você vem pra cá eu ligo um pouquinho mais cedo... - apalpei a pia em busca do porta escova que tinha lá enquanto ouvia sua movimentação pelo quarto.
– Sempre soube que você gostava de dormir agarrada em mim, mas não imaginei que fosse tanto assim. - entrei na sua brincadeira, que eu não sabia ao certo se era, realmente, tão brincadeira assim.
– Você acha mesmo que eu não gosto? Eu falei sério, não estou brincando.
Sorri e senti minha mão apalpar algo duro, no entanto, não se tratava do porta escovas.
Apalpei a caixinha em minha mão em busca da escrita em braille.
"Teste de gravidez".
Congelei. Não sabia o que pensar, não sabia o que falar. Ao fundo ouvia a voz de Camila me dizendo algo de maneira descontraída só não consiga entender ou ouvi-lá com clareza.
Caramba. Eu tinha nas minhas mãos um teste de gravidez. O que eu faço com isso? Com essa informação, com essa possibilidade? É estranho eu não saber decifrar o que sinto?
Não sei, eu estou me julgando agora. Eu quero ter filhos, quero ter filhos com a mulher que eu amo mas, eu tenho plena certeza de que nós nos protegemos todas as vezes. Não é possível que aquele 0,01 tenha caído, justamente, no nosso colo.
Com um clik saí dos meus devaneios. Camila estava ao meu lado estalando os dedos nos meus ouvidos. Virei em sua direção.
– Estou falando com você a um tempão e você parece não me ouvir, tá tudo bem? - sua voz era preocupada mas também irritada.
– Desculpa, eu estava tentando por meus pensamentos em ordem. - tomei o seu silêncio como um sinal para prosseguir. – Eu achei isso. - ergo a caixa em minhas mãos e ouço seu suspiro pesaroso.
– Você já fez? Já sabe o resultado? É por isso que Sofia pareceu tão estranha quando eu cheguei? - sei que são muitas perguntas mas, qual é, eu estou perdido nisso tudo.
– Respondendo em ordem, sim, já está feito. Não, ainda não olhei. Sim, Sofi está apreensiva.
– E... por que você não em contou? - acalmei minha voz, mesmo estando claramente apreensivo com a possível resposta. Só de pensar que minha noiva não confia em mim me deixa com o sentimento de imponência.
– Não te contei porque não é meu. - soltei o ar que eu nem se quer sabia que tinha prendido em meus pulmões. – Você não estava acabando que é meu, estava? - ela riu. Ou melhor, gargalhou. – Isso é da Sofia.
– Oh meu Deus, eu esperava que fosse até da minha mãe mas da Sofi? - ouvi seu "uhum" e soube que a história não acabava aí. – Não é do...
– Não sei nem se existe bebê, amor. Mas, se existir, e Deus queria que não exista, é dele sim.
– E você já olhou o resultado? - eu estava apreensivo e confuso. Sofi smepre foi esperta e sagaz, não é possível que ela tenha cometido uma burrada dessas.
– Vou olhar agora. - o silêncio que se instalou foi quebrado pelo seu puxar de ar engasgado. – E-ela... ela... ela está. Meu Deus, Shawn, minha irmãzinha está... minha irmãzinha está grávida. - ela estava chorando, não sei se por decepção, medo, emoção ou por tudo junto. Só sei que eu a abracei e a levei para a cama, deitei ali com ela sem ter escovado os dentes mesmo e a acalentei. Sei que se fosse o contrário, ela estaria fazendo o mesmo.
Só me levantei da cama para, finalmente, escovar os dentes quando tive certeza de que ela estava dormindo mas logo me deitei ao seu lado também pegando no sono.
Quando amanheci já estava só na cama. Rapidamente fiz o que tinha que fazer pela manhã no banheiro e, quase que lireralmente, corri para a sala em busca não só de Camila, mas também de Sofia.
Cheguei à cozinha e elas conversavam.
– Eu não tive coragem de olhar. - a voz baixa denunciava sua vergonha e medo.
– Sofi, eu estou aqui com você. Shawn está aqui, mamãe e papai também estão. Não se preocupe com isso! Você não vai ter falta de apoio. - não sei em qual parte da conversa eu cheguei, mas não me parecia o início.
– Soso, você quer saber o resultado? - intervi no diálogo das irmãs, eu precisava saber um pouco mais sobre isso.
– Não sei, Shawn. Tenho medo da resposta.
– Você sabe que, você olhando ou não, a gente contando ou não, a resposta não vai mudar. Não sabe?!.
– Você tem razão. Eu só... eu só tenho medo. Muito medo.
Estendi minhas mãos por cima da mesa da cozinha e Sofia prontamente as apertou.
– Nós estamos aqui. Nada de mal vai acontecer. Nem a você, nem ao bebê. - sorri.
Ambas as irmãs permaneceram em silêncio. As mãos de Sofia suavam contra as minhas e eu pude ouvir um leve soluço irromper o silêncio ali presente.
– Você, está falando sério? Eu estou grávida? Tem um bebê aqui? - ela retira uma de suas mãos da minha. Acredito que tenha levado a mesma em direção à sua barriga.
– Tem, irmã. Tem sim. - me surpreendo quando percebo a voz de minha noiva firme, sem nenhuma oscilação ou seja, sem choro ou indício dele.
– Eu deveria estar triste, não é? - franzi o cenho.
– Não, você não deveria estar triste. É o seu filho. Não era o momento mas... é o seu filho.
– Que bom, porque eu me sinto, estranhamente, feliz.
– Eu também, irmã, eu também.
– Mila. - sua voz já não era mais tão animada quanto antes. Camila murmurou um breve "hum" em sinal para que a menor continuasse. – Será que eu vou estar muito gorda no casamento? - ela estava realmente preocupada mas eu não podia pensar em outra coisa se não que Sofia esta grávida.
A família vai aumentar e não e por minha causa. Como o mundo é louco. Eu vou ser tio porque vou casar com a irmã da Soso. Só preciso me lembrar de uma coisa manter o bico fechado.
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Paixão às Cegas.
Fanfiction- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.