CAMILA

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Obriguei Shawn a não dizer absolutamente nada sobre a carta. Não quero que ninguém fique sabendo já que Aali não quer que saibam.

– Que loucura! O que deu em você, minha filha?

Meu pai estava perplexo por eu ter assinado o termo de responsabilidade e saído do hospital antes do tempo.

– O senhor sabe que ninguém para essa mulher...

– Esse era o seu papel, Shawn! Meu Deus, eu tinha certeza que você teria mais juízo quando virasse mãe, minha filha.

– Não, papai, depois que uma mulher se torna mãe, ela fica mais doida que o comum. Aprendi isso assim que peguei Alya no colo pela primeira vez.

A adrenalina de ter a responsabilidade de outra vida nas mãos é tão grande que a gente fica, de fato, louca.

– Vamos, sua mãe está pirando em casa.

Papai fechou a porta assim que terminou de prender minha filha no bebê conforto. Sentei ao seu lado e deixei que Shawn sentasse ao lado do meu pai.

Minha cabeça não parou de girar desde que terminei de ler aquela carta, a última carta.

Que Aaliyah não estava 100% eu já sabia mas que ela estava em fase terminal. Como eu deixe isso passar diante dos meus olhos?

– Como você deixou? - Karen pareceu estar nos esperando na garagem de casa.

– Seja mais clara, mamãe. Quem deixou o que? - Shawn suspirou, ele sabia exatamente do que e com quem ela estava falando.

– Estou falando com você, seu desnaturado! - esbravejou. – Como você permitiu que elas saíssem de lá antes do tempo?!

– Desde quando eu mando na Camila?

Ela virou em minha direção.

– O que deu em você?

– Não me deu nada, eu estava me sentindo bem, Alya está bem. Só... quis vir embora. - ela suspirou.

– Entrem, estão todos lá dentro esperando por vocês.

– Por Alya... - Shawn retrucou.

Suspirei me virando, novamente em direção ao carro para tirar minha filha de lá e me deparei com Shawn seguido as instruções que meu pai lhe dava, bem baixinho, para que ele tirasse a bebê de lá.

– Não quer que eu a pegue? - não tenho medo que ele a derrube ou algo assim mas seu medo e desconforto são nítidos enquanto ele, com toda a cautela do mundo, tira Alya do carro.

– Enfrentar meus medos, não é? - pegou ela a agarrando como se fosse o bem mais precioso desse mundo e, de fato, ela é. Sorri pela sua coragem, pra quem não queria pegar nela no hospital, tirá-la de dentro de toda aquela amarração e seguir para casa com ela nos braços é mais que um ato de vitória. – Agarra no meu braço e não deixe que eu tropece com ela, pelo amor de Deus.

Apesar de as chances de ele tropeçar serem quase nulas, afinal estamos em nossa casa, fiz o que ele pediu e nos dirigi com calma até a porta de casa.

A porta estava escancarada, meus sogros tinham ido na nossa frente para dentro. Adentramos e, finalmente, soltei o braço do meu marido.

– Pensei que teria que ir buscar vocês. - mamãe resmungou antes de dar um beijo em minha bochecha e cumprimentar meu marido. – Oi, meu amor. - tirou minha filha dos braços do pai que suspirou aliviado. Prendi o riso.

– Eu consegui! - sussurrou para mim em um tom de voz orgulhoso.

– Vocês pelo menos comeram? - meu sogro se dirigiu a nós com um beijo na bochecha.

– Comemos sim, não permitiram a saída da Camila antes que ela comesse.

Olhei em volta buscando por Aaliyah e não a achei na sala.

– Ela está no quarto. Não se sentiu muito bem hoje, disse que estava cansada. - Sofi disse assim que todos prenderam totalmente a atenção na bebê, inclusive Oli. – Vem, vamos lá. - pegou minha mão me direcionando ao quarto, quase como se eu não soubesse onde ele ficava.

Bati na porta e ouvi sua permissão.

– Chegamos. - disse assim que coloquei a cabeça pra dentro do quarto. Ela sorriu. - O que está fazendo aqui, sozinha?  

– Estava apenas descansando um pouco. Nada que você precise se preocupar.

– Eu sei da verdade, Aali. - Sofi suspirou atrás de mim. Ela também sabia.

– Eu nunca escondi de você nem de ninguém que eu estava pronta pra ir, Mila. Na verdade, acho que eu sempre soube que estava pronta.

– Pra quem você contou?

– Apenas para o Gus.

– Nem pra sua mãe? - Sofi questionou.

– Não, mas eu sei que ela sabe.

Observei o rosto dela. Um sorriso alegre e verdadeiro, pele pálida, olhos brilhantes, dentes perfeitos, bochecha corada por um blush e seu inseparável lenço colorido.

– Nunca te perguntei porque você usa o lenço dentro de casa... - disse baixinho.

Ela sorriu e nos convidou para sentar na cama ao seu lado.

– Eu gosto da minha careca mas a mamãe... ela sente muita dor quando me vê sem cabelo. Pensei em usar uma peruca ou algo assim mas aquilo me pinicou no momento em que eu olhei para uma. Então escolhi os lenços e os escolhi coloridos por que a vida já é triste demais pra usar cores claras e sem graça.

Meus olhos derramaram as lágrimas que estavam presas e observei minha irmã morder o lábio inferior contendo a sua.

– Mila, Sofi. - ela pegou em nossas mão. – Só não esqueçam de falar de mim para as meninas, sempre diga que eu as amei demais nesse mundo e... por favor, não chorem por mim, sejam diferentes! Quero que façam festa na primeira oportunidade. Não lamentem minha partida mais que um mês, eu não quero isso.

–  Você não vai contar, mesmo, para os outros? - ela balançou a cabeça em negação.

– Não, Sofi. Não quero ver toda a família com lágrimas nos olhos como vocês estão agora e, no fundo, todos acabam percebendo. De uma forma ou de outra... Agora, chega desse assunto. Sofia, como anda seu problema com as finanças? - Sofi se jogou para trás deitando na cama e cobrindo o rosto.

– Melhor seria voltar para o assunto anterior. - bufou provocando um riso em Aali. – Tonny é pior que velho. Não quer que eu trabalhe de modo algum.

– Ele não está sendo machista. - ressaltei. – Bom, pelo menos ao que eu entendi, ele só não quer te sobrecarregar.

Sofia riu.

– Eu sou mulher, mãe, estudante e esposa. A única coisa que eu não sou é... - fez uma pausa, pareceu estar vasculhando a mente. – o contrário de sobrecarregada. - revirou os olhos enquanto Aali e eu ríamos dela.

– Aliviada, talvez? - Aali sugeriu.

– Parece se encaixar bem. - suspirou. 

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora