SHAWN

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– E... como anda a situação da lista de espera?

Ouvi seu comprimir de lábios.

– Olha, Shawn, vou ser sincero com você. ‐ irrigeci. – A lista de doações de dos olhos nunca foi muito grande. Não sei... as pessoas não sentem necessidade em doar essa parte do corpo, doam coração, fígado, pulmão... mas os olhos, tendem a ter receio.

Suspirei e Camila apertou com força minha mão.

– E por que isso acontece? - sua indignação ficou aparente.

– Bom, Camila. Não posso te afirmar com total certeza mas... ao meu ver, tem a ver com toda essa questão de identidade. As pessoas tendem a associar seus entes queridos com tudo aquilo que é exterior. Olhos, boca, nariz e por aí vai. Se torna muito mais fácil a autorização de doação daquilo que não se vê.

– Então é isso? Por enquanto não temos novidade? - meu desapontamento era um misto de pensamentos tão intensos e emaranhados que eu não sei descrever o que estou sentindo.

– Por enquanto não, eu sinto muito.

– Mas a situação dele está estabilizada, não é?! Não houve regressão ou algo assim. - Camila parecia estar tão desapontada quanto eu.

– Está sim. Totalmente estabilizada.

- Bom, se isso é tudo, até a próxima. - me levantei sendo acompanhado da minha esposa.

– Até a próxima. - apertou minha mão que estava estendida.

Segui em direção à porta sendo guiado por Camila.

– Shawn! - parei na porta e virei em sua direção apenas por educação. Não faria diferença. – Não se preocupe. Garanto que você verá sua garotinha!

Pousei minha mão em sua barriga e sorri.

– Não tenho dúvidas, doutor. O problema... é que minha luta contra o tempo não é apenas por ela.

°•°●°•°


– Meu bem?! - Camila me chamou de algum lugar da casa.

– Estou no quarto. No quarto da Aali.

Nomeamos o quarto de hóspedes como quarto da Aali. Camila deixou ela redecorar todo o quarto para se sentir ainda mais em casa.

– O que faz aqui, meu amor? - ouvi sua voz baixa e levemente preocupada.

– E se... - pisquei meus olhos com força, não sei se deveria dizer, de fato, o que estou sentindo. – E se não der tempo, Camz? - meus olhos pesaram em lágrimas.

Eu, de fato, não queria ter verbalizado meu medo mas eu precisava desabafar com alguém. Ela é a minha melhor opção para isso e tudo mais.

– Não der tempo de quê? - senti sua não em minha bochecha limpando a atrevida lágrima que caiu.

– Se não der tempo de eu ver Aali? Sei que eu deveria estar pensando de maneira positiva mas... eu sinto que ela não está melhorando, amor. E, se o que eu sinto for verdade, ela não vai ficar com a gente por muito tempo. Isso me assusta, me aterroriza. Eu estou apavorado! E se não der tempo de eu vê-la ao vivo? Não quero vê-la apenas através de fotos. Eu não quero...

Segurei o máximo que pude as lágrimas insistentes que tentavam escorrer de meus olhos mas falhei miseravelmente quando o primeiro soluço escapou de meus lábios e eu não as consegui controlar mais.

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora