Paixão às Cegas.

CAMILA

– Você está se sentindo bem? - encarei a menina que estava meio deitada meio sentada na cama posta na sala de casa.

Aali acabou de chegar em casa da sua segunda sessão de radioterapia e aparentava estar cansada. Exausta, seria a palavra correta.

Ela sorriu e procurou se ajeitar na cama.

– Eu deveria estar perguntando isso a você... não sou eu quem está prestes a expulsar um ser humano pela vagina. - um sorriso brincou em seus lábios e eu não pude não gemer em medo e cansaço.

– Eu quero saber se você está com dor, Aali, e eu estou falando sério com você, não faça gracinhas.

A questão é que, desde o começo de todo esse caos, Aaliyah se fez muito forte.

Ela não aparenta ter medo da morte. Está sempre sorrindo e esbanja tanta esperança com sua "careca pelada" que só me faz querer parecer um pouco mais com ela a cada dia.

Aaliyah não se esconde, martiriza ou gosta de parecer cansada. Ela ama estar livre, sorrindo e se divertindo até onde seu corpo a permite, ou mais do que ele permite.

– Mila. - me chamou. – Essa foi a minha última sessão. - franzi a testa.

– Por que? Acha que já vai poder fazer a cirurgia? - não pude me olhar no espelho naquele momento, mas soube que meus olhos brilharam em excitação.

– Não, Mila... eu estou pronta pra ir.

Sua voz não soou triste ou chateada, ela me deu a notícia como se estivesse me dando um cachorrinho sem ter certeza de que eu queria um. Feliz, mas desconfiada.

– Você não pode! Não diga bobagens. Eu preciso de você, Shawn precisa! Alya precisa de você. - levei sua mão até minha barriga e ela sorriu quando Alya respondeu ao toque com um chute.

– Eu sempre estarei aqui com vocês! E, olha bem pra mim! Eu estou bem, estou feliz. Sinto que já completei tudo o que tinha pra fazer por aqui. - ela suspirou e pegou minha mão dando um aperto de conforto. – Me promete, que não vai deixar o Shawn enlouquecer?

Como posso prometer isso a ela se sinto que eu vou enlouquecer?

– Aali, não diga bobagens! Já disse que você vai sair dessa. Já disse que é só mais uma história de superação pra você contar! Você... você precisa ver Alya. Precisa acompanhar a Oli, eu preciso de você pra não surtar com seu irmão. - quando me dei conta já estava em lágrimas.

Ela suspirou e me puxou para um abraço apertado.

– Tudo bem, eu estou aqui agora. Eu estou aqui e prometo a você que verei nossa Alya nascer. Até porque, não posso perder o nascimento do meu clone... preciso esfregar na cara de todos que eu estava certa mais uma vez!

Ela riu. Tentei a acompanhar mas meu coração estava entristecido demais com todas as palavras da minha cunhada.

– Shawn comentou comigo que você estava sentindo dores... acha que está chegando a hora? - seus olhos brilharam em expectativa.

– Eu acredito que sim... não veja a hora de tê-la em meus braços. Sinto que estou grávida a mais de dois anos.

Ela gargalhou como se estivesse em um circo com o palhaço mais engraçado do mundo.

– Não acho que faça tanto tempo assim...

– Claro que não, a sua parte é a parte gostosa no meio de tudo isso. Você paparica a barriga, recebe chutes fofos em troca e não sente as dores da mãe que não ganha um chutezinho em forma de agrado.