Quanto tomamos decisões precipitadas há cinquenta por cento de chances de estarmos errados, no entanto, o que fala mais alto são aqueles cinquenta por cento de chances de estarmos corretos.
Eu podia jurar que as cartas misteriosas eram de Aaliyah mas não cheguei a perguntar a ela se, de fato, eram.
– "Oi, como vão vocês? Espero que bem! - meus pensamentos foram interrompidos pela doce voz de Camila. – Fiz minha primeira sessão de quimioterapia semana passada, não sei, acho que reagi bem, pelo menos foi o que o médico me disse. - se ela, de fato, for minha irmã, está mentindo! – Tive que contar a minha família sobre o câncer, não teve mais como esconder. Senti que fosse morrer quando vi o desespero nos olhos da minha mãe. Mas agora estamos todos bem. Atualizações felizes? - elas existem? – Bem, estou noiva! - Aaliyah não teria a audácia de me contar isso através de uma carta quase anônima, teria? – É, eu sei, parece meio mórbido, pelo menos eu achei, quer dizer... a menina diagnosticada com câncer foi pedida em casamento pelo seu namorado com quem iniciara o namoro a menos de um ano... o que eu posso fazer? Nós nos amamos. E... sim! Vocês serão convidados.
Um mix de emoções tomou conta de mim. Eu tinha plena certeza de que minha irmã era a autora de todas essas cartas. Mas essa, em específico, me fez duvidar.
Aali não reagiu tão bem assim com a quimioterapia. E ela não pode estar noiva. Na verdade ela pode. Mas ela não pode me contar assim. Definitivamente ela não me contaria dessa forma.
– Meu bem? - Camila me chamou. – Se essas cartas não de Aali... de quem são?
A grande dúvida.
– Eu adoraria saber, amor. Eu adoraria...
Deixei minha mente trabalhar por mais alguns minutos atrás de respostas. Encontrei algumas.
– E se Aali estiver fazendo uma perssonagem, alguém pra ela se sentir mais forte.
– Não sei... me carece muito louco pensar assim. - receber cartas como as que gente recebe são loucas...
– E se... nós perguntarmos a ela? Ela pode saber de alguma coisa.
– Se ela sabe, não quer nos dizer... ela teve oportunidades de assumir, e não o fez. Ou ela é uma ótima atriz ou não sabe de absolutamente nada.
– Quem não sabe de nada? - a voz de Aali se fez presente.
– Nós, Aali. Nós não sabemos de nada. - antes mesmo de eu pensar se deveria ou não perguntar a ela sobre as cartas, Camila deu início ao assunto. – É que... bom, é que Shawn e eu pensamos que você era a autora das cartas misteriosas... Mas estávamos enganados, não é? - minha irmã riu de forma bem divertida. Meu coração se aqueceu.
Senti o sofá se afundar levemente e o cheiro da minha irmãzinha ficou mais forte em minhas narinas.
– Não, não sou eu. Mas seria inteligente... Não! Seria divertido. - riu mais uma vez. – O que diz a carta?
– Diz que a mulher está noiva. Maria. Maria está noiva.
– Se vocês sabem quem ela é, por que acharam que era eu? - a confusão ficou mais que nítida em sua voz.
– Ela se apresentou com esse nome... não sei é estranho. - expliquei e ela emitiu um som anasalado em concordância.
– Sinto muito, irmão. Não posso te ajudar... não são minhas.
– Fico feliz. Seria muito chato saber que minha filha está noiva através de uma carta. - mamãe contestou.
– Você está noiva? E nos contou através de uma carta?
Meu pai sempre teve o péssimo hábito que não prestar atenção em todo o enredo da conversa, pegar um mínimo pedaço e interpretá-lo de modo distorcido.
– Não, papai, não estou noiva.
Parte de mim ficou aliviada. Acho Aaliyah muito nova para enfrentar um casamento no entanto, outra parte diz que eu estou apenas sendo chato e protetor com excesso. Sofia e minha irmã tem a mesma idade e, quando Sofi e Tony resolveram juntas as escovas eu achei genial, lindo, feliz, e maduro. A questão é: eu não posso basear esse pensamento apenas em "é minha irmã" e "se trata da irmã dos outros".
– Venham jantar, crianças. - meu pai chamou.
A mania de chamar a todos de criança meu pai nunca perdeu. Às vezes me pergunto se eu serei assim... Também me pergunto se meus filhos serão como eu e não vão achar chato, feio, invasivo e infantil uma fala como essa.
– Camila, meu bem. Está comendo pouco, não acha?
– Mamãe, deixe a Mila em paz. - Aaliyah ralhou. Camila riu baixinho ao meu lado.
– Eu estou bem, sogra. Acredite! Seu netinho tem bastante nutrientes. É que eu não tenho muito espaço. Ela me faz comer o tempo todo, mas parece comprimir meu estômago o suficiente para que eu não coma tanto. - sua voz demonstrava satisfação e insatisfação ao mesmo tempo. Se não a conhecesse tão bem quanto conheço, diria que ela está confusa em relação ao seu sentimento. Mas ela só queria poder comer mais.
– Eu te entendo, querida. Quando fiquei grávida de Shawn foi exatamente assim.
Me interessei. Qualquer oportunidade que surgia de provocar minha esposa em relação ao sexo do nosso filho eu agarrava.
Não que eu de fato me importe, mas ela parece se importar.
– É, amor. Talvez tenhamos que pensar na lista de nomes masculinos. - sugeri em um tom brincalhão.
Camila soltou o garfo no prato e respirou tão profundamente que senti o ar saindo de perto de mim e indo direto ao seu nariz.
– Olha, não é que eu não queria um menino. É que esse bebê - enfatizou. – é uma menina. Eu sei que é. - ela quis chorar. – Pare de duvidar da minha palavra. - a puxei para um abraço.
Camila sempre foi emotiva. Ela costumava chorar por coisas pequenas antes de estar grávida mas ela não choraria por isso na frente dos meus pais. Ela é durona e não deixaria transparecer seu desapontamento comigo ali, na frente de todos.
Deixei para pedir desculpas depois, quando estivéssemos deitados e assim eu fiz.
Coloquei Aaliyah na cama como se ela fosse uma criança de cinco anos, passei no outro quarto para saber se meus pais estavam confortáveis e segui em direção à minha fera barriguda.
– Amor? - a chamei assim que pisei no quarto. – Me perdoa? Prometo que não vou mais te provocar com o sexo do nosso bebê. Da nossa bebê. - não tardei em corrigir.
Ouvi o seu fungar de nariz. Eu fiz uma merda tão grande assim? A ponto de ela ainda estar chateada?
– Por que está chorando? - soei calmo e terno mas me sentia em um completo desespero por dentro.
– Acertar o sexo do nosso bebê é importante pra mim. Na minha família... todas as mães acertaram. É como se... Eu sinto que se eu errar, já vou ter falhado antes de começar o serviço. - ela fungou mais uma vez. – Eu só quero ser boa nisso...
Me aproximei mais dela e a apertei em meus braços. Ela deitou a cabeça em meu peito e eu passei a acariciar seu couro cabeludo.
– Você será a mais perfeita das mães. Eu tenho mais que certeza disso!
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Paixão às Cegas.
Fanfiction- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.