CAMILA

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– Você está muito brava? - girei meus calcanhares para encarar seu rosto. Esperava ver medo ou algo assim mas encontrei decepção e constrangimento. Era o mínimo.

– O que você acha? - cruzei meus braços por cima do peito e ele se encolheu como se precisasse entrar dentro de uma caixa muito pequena e apertada.

– Acho que está zangada... - entortou a boca. Bati com as mãos na lateral do corpo.

– Você... você, ai meu Deus, Shawn. Você se lembra do que fez hoje? - arregalei os olhos para não explodir mais do que devia.

Se tem uma coisa que aprendi enquanto exercia minha profissão é que nosso corpo sempre nos ajuda a expressar nossos sentimentos mais ocultos e a aliviá-los também. O corpo é uma máquina que funciona perfeitamente se deixarmos.

– Você sabe melhor do que ninguém que eu não estava falando sério.

Procurei me acalmar pra ser totalmente racional e coerente, mas o ruído que saiu pela minha garganta foi incontrolável. Acho que soei como um leão, ou um urso, talvez já que, mais uma vez, seus ombros foram escolhidos.

Sempre soube que homens são levemente desgovernados e até mesmo desmemoriado para a parte que não os ajuda em uma discussão. Mas Shawn não pode estar falando sério. Eu estou pouco me lixando para o que ele disse sobre bebês, sei que não passou de provocação. Esse é o ponto, a provocação.

– Eu não estou falando sobre filhos, Shawn.

– Meu bem. - ele se sentou e pediu, com as mãos, para que eu sentasse também. – É mais que perceptível que você está brava e tudo mais... mas eu preciso de mais clareza. Preciso que você me diga o que quer dizer. O que eu fiz de tão errado.

– O seu ciúmes bobo, infantil e desconfortável, Shawn. Esse foi seu erro. O menino não fosse nada demais. Fez uma pergunta, uma brincadeira e você parece ter surtado ou algo assim.

Meu coração pulsava rapidamente conta meu peito. Suspeito que Shawn possa o estar ouvindo agora. Ele está descontrolado, quase sem ritmo. Mas eu não me importo.

Meus olhos pareciam querer saltar do meu rosto, fui p rocurando relaxar para que ele pudesse ao seu tamanho natural. Até consegui, mas meu coração parecia apenas bater mais rápido ainda. Eu estava ansiosa.

– Eu não surtei, meu amor. - a mudança em seu tom de voz disse muita coisa. Ele não gostou da minha fala. Mas quem estava gritando com um adolescente no meio de uma festa de onze meses da primeira sobrinha não era eu. Era ele.

– Pois bem, vejamos, quando pergunta a um casal "quando vocês terão filhos?" O casal responde, sem gritos, sem implicância, sem ameaças. Resposta normal, para uma pergunta normal. Ainda mais vindo de alguém da família. - sua boca se entortou.

– Ele não é da família. - me joguei pra trás encostando no sofá.

– Engraçado, eu era da família antes mesmo de me casar com você! - acusei. Ele recuou, visivelmente na defensiva.

– É diferente...

– Diferente como?

Ele permaneceu em silêncio. Jogava os lábios de um lado para o outro em um bico lindo. Seria mais que lindo se eu não estivesse tão irritada.

– Esquece. Eu nem sei o porquê disso. - bati as mãos no sofá e me levantei.

Sua mão agarrou-se à minha por pura sorte. Um segundo a mais de demora e ele não a teria alçando.

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora