CAMILA

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– Não sei porque estou com medo. - ele realmente estava com o semblante preocupado.

– Medo?!

– A frase "precisamos conversar" - fez aspas com os dedos. – Não me parece muito convidativa. Sei lá... - balançou os ombros. – Nos filmes, geralmente, vêm seguido de uma briga ou divórcio. - vi seus olhos se tornarem cada vez maiores. – Você sabe que, se quiser fazer essa graça vai ter que me levar na justiça né?! Eu não assino esse papel assim com tanta faculdade. Nunca!

Procurei brincadeira ou gozação em seu rosto mas não encontrei qualquer resquício disso. Ele não podia estar, realmente, pensnado algo assim. Poderia?!

Ri e o vi soltar o ar preso em seus pulmões. Ele estava falando sério...

– Meu bem, eu jamais iria te fazer esse tipo de proposta. Minha mãe sempre me ensinou que casamento é pra sempre e... bem, isso inclui superar crises. - mais uma vez ele se assustou.

– Estamos em crise?

– Oh meu Deus, não! Mas... eu quis dizer que faz parte de um casamento superar os momentos difíceis também.

– E... estamos em um momento difícil? - ele estava confuso.

Me aborreci. Ele não pode estar falando sério.

– É sério isso?! - meu desapontamento ficou claro, pelo menos eu tentei deixá-lo bem expresso na fala.

– Meu amor, eu adoraria dizer que estou brincando com a sua cara mas... - estreitei os olhos esperando pela sua fala seguinte, que parecia ser meticulosamente calculada. – Eu não faria isso com você assim, tão perto do seu período menstrual.

Mais uma vez precisei gargalhar.

Meu pai deu alguns conselhos para Shawn pouco depois que casamos. Um que meu marido levou bem a sério foi o de baixar um aplicativo que "prevê" minha menstruação. O melhor de tudo isso são os chocolates que eu ganho nos dias certos.

– Eu sinto muito mas... caramba, você estragou tudo!
 
– Estraguei tudo o que? - me mantive em silêncio esperando ele formular um palpite.

Me aproximei mais dele e peguei em sua mão. Ele apertou uma contra a outra em um sinal claro de ansiedade.

– Seu médico me ligou. - seu rosto se iluminou e se apagou repetidas vezes, ele estava em um conflito entre criar esperanças e desfazê-las. – Ele me disse pra perguntar se... se você acha que está pronto para um transplante. Surgiu um possível doador. Não entendi muito bem, parece que é um desses universais...

Ele se manteve em silêncio, sem que nenhum ruído fosse expelido de sua garganta. Nem mesmo sua respiração fazia barulho.

– Eu, não sei... sabe em quanto tempo tenho que dar a resposta a ele? - ele parecia perdido, isso me assustou.

– Aparentemente a resposta tem que ser dada ainda hoje. Não temos muito tempo para essa cirurgia. - ele coçou a cabeça. – Quer ligar para ele? Pergunte você mesmo como vai funcionar. Não quero que tome essa decisão baseado apenas no que eu estou te dizendo.

– É, pode ser. Deve ser melhor não é?!

Murmurei um sim e logo fui em busca de um celular, procurando o número do médico e entregando o aparelho ao homem aflito na minha frente.

– Alô, boa noite doutor... isso, é o Shawn. Camila me disse sobre a conversa que vocês tiveram hoje mais cedo.

Ele é um ótimo ator. Se não o conhecesse tão bem quanto conheço, poderia jurar que ele está realmente
calmo e passivo.

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora