"O medo não está aí pra nos empatar de fazer as coisas, ele está aí para que possamos contar nossas histórias de superação ao mundo".
A voz do meu pai ecoou por meu cérebro o tempo todo antes de eu, finalmente, tomar minha decisão.
Precisei conversar com meu velho sobre meus sentimentos. Desde que Sofia anunciou sua gravidez e eu senti todos à nossa volta felizes e ouvi os planos que Tony fazia para ele e o bebê.
Não eram planos extravagantes, muito pelo contrário, eram coisas simples que, por sinal, eu também fiz com meu pai. Acho que essa é uma dessas coisas que a gente leva como tradição de família, mesmo sem perceber.
Descobri que eu queria fazer tudo com meu futuro bebê ainda inexistente. Queria ensiná-lo a andar de bicicleta. Ver seu primeiro dentinho nascer. Dar sua primeira fruta na boca e sim, essas são coisas que eu, sendo deficiente visual, poderia fazer com meu bebê. Teria dificuldade? Sim, muita, mas poderia fazer. No entanto, o que eu mais queria na vida, era construir. Desde um simples balanço de pneu até uma gigantesca casa na árvore com fiação elétrica e tudo mais e, isso, eu não conseguiria sem recuperar a visão.
– Afinal, o que vale mais pra você? Ouvir que não poderá recuperar a visão ou arriscar e, quem sabe, poder ver sua família?
– Não é disso que tenho medo. Não tenho medo do não. Tenho medo do sim. - ele ficou em silêncio. Eu sabia que nao tinha porque explicar pra ele meu pensamento. Ele me entendia completamente.
– Shawn, quando sua mãe engravidou de você, ela não fez surpresa antes de descobrir e essas coisas. - sorri. Isso é a cara da minha mãe. Ela ama compartilhar absolutamente tudo. – Quando eu estava lá, ansiando pela resposta, eu não queria ouvir um não mas também tive medo de ouvir um sim e, olha só... o sim me trouxe o meu primeiro melhor presente. Touxe pra minha vida aquilo que eu mais queria e precisava e nem se quer sabia. - ele colocou a mão sobre meu ombro.
– Eu só... tenho medo de não acordar.
– Não se trata de uma cirurgia perigosa, bobão. Qual é, você já enfrentou coisas piores. - suspirei e ele também. – Filho, o medo não está aí pra nos empatar de fazer as coisas, ele está aí para que possamos contar nossas histórias de superação ao mundo.
Acreditei nele e pedi que Brian me ajudasse a achar um oftalmologista que, segundo o Google, aceitasse pelo menos me consultar para, quem sabe, tentar modificar minha situação.
Agora, sentindo o calor de Camila, a mulher que eu amo, nos meus braços e o cheiro doce dos seus cabelos, só podia tentar imaginar como ela é, como se parece. Tento buscar na minha mente como são os traços latinos, tento imaginar a cor de sua pele, sei que não é branca mas, qual será o tom exato? Seus olhos são castanhos mas quão castanhos? Castanhos como dizem que o meu são ou são realmente castanhos? Senti-la não é o mesmo que vê-la. Definitivamente não é.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paixão às Cegas.
Fanfiction- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.