Abri a porta de casa e segui direto para o quarto em busca de alívio. Aquelas roupas estavam me apertando muito ou eu só estava muito frustrada comigo mesma. Talvez os dois, tanto faz.
Quando eu e Shawn decidimos "encomendar" um bebê, não imaginei que fosse tão frustrante olhar para o negativo de um palitinho cheio de xixi.
- Tudo bem, você pode me contar. - Shawn disse assim que passou pela porta do nosso quarto.
- Contar o que? - eu sei exatamente sobre o que ele quer falar.
- O que aconteceu! Você ficou tensa e estranha do nada na festinha. Sei que tem alguma coisa te incomodando.
- É que... é que... - eu simplesmente não consigo dizer a ele. Nós dois sabemos que não é fácil essa coisa de engravidar. Mas pra mim é frustrante demais ver que minhas suspeitas não foram confirmadas.
- Alguém te disse alguma coisa enquanto eu não estava? Você sabe que pode me contar absolutamente tudo, não sabe? - ele sempre foi muito preocupado e isso sempre me encantou demais nele. - Eu sou seu esposo mas também sou seu amigo. Quem aborreceu você? Eu prometo que não vou brigar com ninguém se você quiser que eu não brigue. - ele levou os dedos cruzados até os lábios em sinal claro de mentira.
Ri de sua criancice.
- Pelo menos lhe tirei um riso. - suspirei puxando-o para se deitar ao meu lado na cama. - Agora me conta, por favor!
- É que, esses dias eu... - suspirei. - Esses dias eu suspeitei que já estivesse grávida e - vi acender em seus olhos um brilho esperançoso que me partiu o coração. - eu não estou. - seu desapontamento foi notório e não o julgo, eu também fiquei assim.
- Tudo bem, até porque nós estamos tentando há pouco tempo, não é... nem todos tem a sorte que Sofi teve. - ele me puxou para um abraço e eu me aconcheguei em seu peito inalando seu cheiro.
- É só que... quando mamãe disse aquilo me senti mal, frustrada e, bem... eu me senti incompetente. - ele me afastou quase como se pudesse me encarar nos olhos.
- Nunca mais diga isso! Você não é incompetente, você é a pessoa mais competente que eu já conheci em toda minha vida. Não se esqueça que colocamos tudo nas mãos de Deus, meu amor. Quando Ele decidir que é a hora, nosso bebê virá. - sua mão pousou sobre meu ventre vazio e eu sorri.
É estranho pensar que a responsabilidade de gerar a vida é toda minha, é toda da mulher. Quer dizer, em quase todo o reino animal é assim que funciona. O macho libera as minhoquinhas poderosas, a fêmea seu ovinho mais poderoso ainda, um encontra com o outro, se unem e então formam um novo ser.
Pelo menos não somos como os cangurus... quer dizer, talvez nós só sejamos um pouco mais espertos que eles. A bolsa que a fêmea carrega se torna um carrinho ou os braços de mais de uma pessoa (todo mundo quer pegar um bebê enquanto ele se mantém calolado). É um peso a menos por um bom tempo da vida.
Mas, bom mesmo seria se os homens dividissem com a gente essa sensação que eu imagino ser mágica.
Não vou ser hipócrita. Sei que os homens tem um papel super importante durante uma gestação, desde o primeiro momento. Eu só queria poder dividir a parte dolorida da coisa. Entregar a ele quando eu já estivesse no meu limite.
- Chegou mais uma carta pra você. - sai dos meus devaneios assim que minha mente fez o download do meu dia.
- Da mesma pessoa? - virei em sua direção, ele estava com o cenho franzido.
- Sim, da mesma pessoa.
Ele ficou bastante agitado dois meses atrás com a primeira carta, mas acho que ele tem que saber da nova que chegou. Espero que não seja nada ruim, tenho a sensação de que isso vai nos surpreender positivamente.
- Eu queria muito dizer pra você não ler mas... eu não consigo. Sou curioso demais pra isso.
- Tudo bem. Vou pegá-la.
Levantei da cama já me praguejando mentalmente por não tê-la deixado no quarto. Tudo o que eu queria nesse momento era permanecer deitada e aconchegada na minha cama.
Avistei na mesinha de centro da sala o envelope branco com uma grafia bonita. Tenho certeza que é letra de mulher.
– Pronto? - ele balançou positivamente a cabeça. Rasguei o envelope retirando o papel de dentro. – Oi, Camila de novo, não é?! Dessa vez eu quero falar com você, especificamente com você. - uni as sobrancelhas em confusão.
– Pelo menos sabemos que não é alguém que me queira... - ele fez graça.
– Estava pensando esses dias e... já reparou como a vida é passageira? Hoje a gente tem dezoito anos e, do nada, amanhã temos trinta. Eu acho tudo isso muito louco. Resolvi que queria deixar memórias registradas. Por isso as cartas... prometo que um dia tudo fará sentido mas, por enquanto, prefiro continuar anônima. P.S. não se preocupe com o tempo, viva o hoje, Deus está no controle de tudo e, eu garanto que quando você menos esperar, seu presente chegará.
– Seu presente chegará? - o encarei. – Que presente?
Busquei em minha mente o que poderia ser mas não há nada que eu precise ou queira no momento. A não ser...
– Você contou a alguém sobre, você sabe... estarmos tentando engravidar?
– Definitivamente não, não deixei escalar nada nem mesmo para meus pais ou Brian. - ele fez uma pausa colocando o dedo no queixo. – Você disse a alhuém?
– Não, a ninguém mesmo! - encarei o papel em minhas mãos. – Essa pessoa, seja lá quem for ela, nos conhece.
– Ou está apenas jogando verde... - ele, de fato, estava despreocupado.
– Ou está nos observando o tempo todo. - Shawn riu. – Ei, é sério, não quero mais brincar. Como faz pra parar?
– Não sei, talvez... se a gente parar de ler, elas parem de chegar.
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Paixão às Cegas.
Fiksi Penggemar- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.