SHAWN

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Acordei feliz, mas também intrigado.
Me disseram uma vez que é impossível para nosso cérebro criar um novo rosto, mas o meu conseguiu esse feito. Bem, mais ou menos conseguiu.

Sonhei com minha família, com o futuro dela na verdade.

Pude ver, em meio à escuridão a silhueta de Camila. Assim que bati os olhos nela, sabia quem era. Não pude formar olhos, nem cores na minha cabeça. Mas ela estava lá, eu a sentia e via aquela silhueta feminina em um tom cintilante em meio ao escuro.

Sei que nós estávamos bem, que estávamos felizes. Também sei que estávamos casados, já que, em meu dedo anelar havia um anel e pude sentir outro, aparentemente, igual no dedo dela.

Havia uma criança. Era uma menina. Tinha cabelos longos e rosto redondinho. Ela eu pude apenas sentir, e meu coração se aqueceu quando ela me chamou de papai.

Essa é a parte feliz, não que houvesse uma triste mas, eu soube que nem tudo estava completo.

Era natal, estávamos todos na grande sala da minha casa, no sonho, apenas dos meus pais, mas Aaliyah não estava ali e, toda vez que meus pensamentos iam nela, meu coração se apertava juntamente com os meus olhos que se fechavam em uma ação involuntária.

Não sei exatamente o porquê de a minha irmãzinha não estar ali, mas o presente dela  para minha filha estava embaixo da grande árvore com luzes instalada no canto da sala de estar da minha casa. Sei disso poque Camila chamou a menina dizendo que "tia Aali deixou o seu presente desse ano, Alya".

Alya. Meu cérebro se desfocou de todos os burburinhos presentes ali na sala e focou apenas no nome da minha criança. 

Porque escolhemos um nome tão parecido ao da minha irmã? Porque Aaliyah não estava ali? Algo realmente não estava certo.

Em meio a um desespero depois de despertar, fui direto para o quarto da minha irmãzinha. Ela estava dormindo, afinal era domingo, dia de dormir até mais tarde. Acariciei a bochecha da minha menininha, minha visão no escuro.

Aali  tem apenas oito anos, eu nunca a vi mas ela me vê e me mostra tudo o que há ao nosso redor. Minha vida sem esse pequeno ser humano não seria tão feliz quanto é hoje.

Deixei-a dormir e sai em silêncio do seu quarto de princesa com aroma infantil.

Mamãe estava na cozinha, tão silenciosa que parecia não estar. O clima no ambiente não estava muito agradável. Ela está preocupada, tenho quase certeza.

– Mamãe? Está aí? Bom dia.

– Bom dia, querido. - senti seus lábios encontrarem na minha bochecha como todas as manhãs mas, sua voz vacilou ao me responder dessa vez.

– O que há de errado? Onde está o meu pai?

– Não há nada de errado, meu filho. Seu pai foi ao mercado comprar algumas coisas para o café da manhã, já estará de volta.

De fato, em pouco tempo a porta da frente se abriu e pude ouvir a voz do meu pai.

Mamãe mentiu para mim, ele não foi ao mercado. Voltou com uma sacola, papel, não sei direito, mas voltou com algo na mão, algo que não era nem um pouco alimentício, não tinha cheiro de alimento.

Papai e mamãe estavam escondendo algo de mim. Algo que parecia ser muito sério. Não quis fazer mais perguntas, apenas saudei meu pai e os avisei que estaria na vizinha.

Sofia já estava acordada e tagarelando por toda a casa, antes mesmo que apertasse a campainha pude ouvir sua animação matinal.

Ela quem abriu a porta para mim, creio que com alguém por perto, mas sei que ela quem abriu. Seus pequenos braços envolveram minhas pernas e eu, sorrindo, envolvi suas costas e a peguei no colo.

– Amor, está tudo bem? Desde quando acorda cedo assim? - ouvi sua voz doce e meu coração, antes muito aflito, agora estava um pouco mais calmo. Ela se aproximou de nós e me deu um selinho.

– Isso é nojento, Kaki. - Camila riu.

– Sofi, venha para cá, querida. Deixe-os conversar. - minha sogra tirou a pequena do meu colo. – Bom dia, querido.

– Bom dia, sogrinha.

Fomos para o jardim que fica no fundo da casa e nos sentamos no um banco em meio à grama.

– Você está bem, amor? Parece preocupado.

– Acho que meus pais estão escondendo algo de mim.

– Porque acha isso?

– Minha mãe mentiu pra mim. Hoje mais cedo ela disse que meu pai tinha ido comprar alguma coisa para o café mas... Bom, ele chegou e, tenho certeza que não foi ao mercado.

– Como assim? Porque sua mãe menritia?

– Ele chegou sem sacolas, Camz. Sem sacolas mas com alguma coisa na mão. Escutei ele dando para mamãe. Parece ser um papel e, bem, minha mãe estava preocupada. Acho que ela chorou antes de eu chegar na cozinha.

– Você acha que eles podem, não sei, estar se divorciando?

Isso explicaria alguma coisa, mas meus pais estão bem. Pelo menos até onde eu sei eles estão bem.

– Não acho que eles estejam se separando. Não há motivos para isso... Quer dizer, não ouço ou sinto nada que indique que minha família esteja se desfazendo.

– Você está bem? Digo, sem dores ou nada do tipo e Aaliyah?

– Aali vomitou ontem mas, é coisa de criança, não é? Quer dizer nós comemos pizza e, não sei, crianças têm dessas coisas não tem? De não se dar bem com alguma comida... - meu coração se apertou dentro do peito. Imaginar Aali em alguma situação de risco ou que a cause dor me machuca de uma forma tremenda.

– Bom, tem. Pode ter sido só impressão sua, meu bem. Não sei, às vezes seus pais tiveram alguma notícia do trabalho, ou de algum parente longe. Sua tia não estava doente?!

– Não sei, Camz mas acho que você tem razão!

– Vamos falar sobre coisas legais! O natal está chegando... o que quer de presente? - sua voz soou animada e o sorriso quase involuntário surgiu em meu rosto ao me lembrar do sonho que tive está noite.

– Me surpreenda... Tive um sonho essa noite. Sonhei com a nossa família.

– Nossa família? Parece ter sido um sonho feliz.

– E foi. Eu quase, não sei, era como se eu pudesse te ver. Cheguei a enxergar o contorno do seu corpo, Camz.

– Ual, isso é... Incrível. Você voltou a sonhar colorido? - ela soou entusiasmada.

– Não, mas sonhei que nós eramos casados. Estávamos comemorando o natal na minha casa. Mamãe, papai, eu, você e nossa filha. - sorri.

– Nós tínhamos uma filha?

– Sim. E ela parecia ser linda.

– O que aconteceu? Ganhamos muitos presentes ou fomos trocados por um mini ser? - ela trabalhou totalmente animada o que me fez rir junto a ela.

– Não sei se ganhamos muitos presentes. Mas nossa filha, Alya, ganhou um presente da Aali. Mesmo que ela não estivesse lá.

– Aali não estava em um sonho seu? Isso é inusitado mas, considerando que nós já tínhamos até mesmo uma filha, acho que ela poderia estar, não sei... talvez com o namorado em outro estado?

Concordei com a cabeça mas, a verdade, é que meu coração sabia que Aali não estava viajando com o namorado. Não por eu ser um irmão ciumento, quer dizer, eu sou. Mas havia outro motivo para a ausência da minha irmãzinha, eu sentia isso ardendo dentro de mim.

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora