Prólogo

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Março de 2010, México.

Abri a porta do apartamento e sorri ao ver Alfonso.

- Meu amor que surpresa. - o abracei e o beijei trazendo-o pra dentro do apartamento.

Alfonso me segurou pelos braços e me afastou dele. O encarei sem entender nada e vi que ele estava com uma cara de poucos amigos.

- O que aconteceu? Você ta com uma cara... Por que essa mochila? - sorri preocupada com ele.

Alfonso suspirou de cabeça baixa e vi seus olhos marejarem quando ele me olhou.

- Vim me despedir e terminar as coisas com você.

- Que? - o encarei achando que era brincadeira.

- Embarco pro Estados Unidos em duas horas.

- Co-como assim? Você vai viajar pros Estados Unidos? Como? Com que dinheiro?

- Um dinheiro que eu andei juntando a algum tempo. - ele respondeu de cabeça baixa.

Encarei Alfonso aos prantos e desesperada. Parecia que meu coração estava se despedaçando.

- Você não pode me dizer uma coisa dessas assim.

- Eu avisei à você que queria ir pros Estados Unidos. - Alfonso respondeu.

- Mas uma coisa é você dizer que tem vontade de tentar a vida lá... Outra é você aparecer na minha casa do nada e dizer que ta embarcando hoje. - enxuguei o rosto. - Eu sou sua namorada e você agiu sozinho, sem me falar nada... Não pode ir embora e me deixar pra trás.

- E o que você quer que eu faça? - se aproximou. - Levar você comigo? Seu pai me odeia porque eu sou pobre, nunca concordaria e mesmo que concordasse como vou cuidar de você em outro país se nem sei como vou cuidar de mim? Eu não tenho um tostão Any.

- Isso não me importa você sabe disso... E sabe que eu falei sério quando disse que um dia você terá tanto dinheiro quanto meu pai, você é talentoso, sabe lidar com pessoas...

- Mas agora é o que importa e eu não tenho nada pra oferecer pra você... Seu pai tem razão em me odiar, ele educou você com tudo do bom e do melhor, acha que ele quer te ver passando fome comigo? Seja aqui ou em outro país? - enxugou o rosto.

- Eu amo você, isso é o que importa pra mim não o dinheiro... Não me vale de nada ser rica se eu não tiver você. - solucei acariciei o rosto dele.

Alfonso fechou os olhos, aquilo estava sendo difícil pra ele também. Ver que ele estava sofrendo me deu esperanças e forças. De jeito algum eu ia desistir da gente.

- Me leva com você meu amor. - solucei o encarando.

- Não posso meu amor... O que eu vou fazer é uma loucura, não posso te colocar nisso comigo e seu pai nunca deixaria, com todo poder que tem te buscaria a força. - ele acariciou meu rosto implorando com os olhos pra que eu o entendesse e aceitasse.

- Então vou te esperar. - respondi decidida. - Você vai pros EUA e quando as coisas melhorarem eu vou te encontrar lá ou então você volta pra cá... Eu vou morrer de saudades, mas posso dar um jeito de ir te visitar, é a única vantagem que eu vejo em ter dinheiro agora.

- Não, nada disso! - ele respondeu categórico e enxugou o rosto.

- Por quê?

- Porque não sei se as coisas vão dar certo pra mim e não quero que você fique aqui me esperando... Eu nem se quer vou escrever pra você.

- E eu posso saber por quê? - quase gritei com ele aos prantos.

- Porque se eu escrever vou estar te dando falsas esperanças, tanto pra mim quanto pra você... Eu quero que você me esqueça que siga com a sua vida e não que fique aqui me esperando.

- Por que você ta fazendo isso com a gente?

- Porque você não merece um cara pobre como eu que não pode dar um terço do que você já tem... Se as coisas darem erradas nos EUA eu não vou voltar pra cá, prometo pra você que se um dia você me vir de novo eu terei as mesmas condições financeiras que o seu pai... Por mais que eu ame você não é justo eu te pedir pra esperar por uma coisa que nem sabemos se vai acontecer... Tchau, meu amor. - ele se aproximou e beijou minha testa.

Fiquei parada vendo ele dar as costas e sair do meu apartamento. Eu queria me jogar no chão, me desfazer em lágrimas ou acordar daquele pesadelo. Mas ao invés disso eu corri pra fora do apartamento antes que fosse tarde. Sai do elevador aos tropeços no momento que vi Alfonso acenando e um táxi estacionando. Corri.

- Poncho espera!

Ele olhou pra trás e me joguei nos braços dele o beijando. Ouvi o baque da mochila indo pro chão quando os braços dele me envolveram e me ergueram.

Segurei seu rosto entre as mãos e o beijei com força, desesperada porque sabia que demoraria pra que eu o visse de novo, eu só rezava pra que algum dia eu o visse de novo. Acariciei a língua dele com a minha tentando guardar na minha memória todos aqueles detalhes que eu já conhecia: o encaixe perfeito dos nossos corpos, a sensação dos braços dele me envolvendo, o cheiro dele, o sabor dos lábios dele, a textura da pele dele diferente da região onde a barba crescia, a voz dele sussurrando meu nome, dizendo que me amava. Absolutamente tudo que fosse possível eu queria guardar pra mim, pra sempre.

O infeliz do taxista buzinou e só não o mandei pro inferno porque estava com a boca ocupada, mas infelizmente aquela foi a deixa para Alfonso me soltar e afastar seus lábios de mim.

- Eu preciso ir!

- Por favor, não me esquece. - o encarei nos olhos desesperada.

- Impossível esquecer você. - ele sorriu com os olhos marejados e entrou no táxi.

- Eu amo você. - respondi sem saber se ele tinha me ouvido.

Fiquei encarando o táxi até perdê-lo de vista e continuei parada na rua por um bom tempo encarando o mesmo ponto, a esquina onde o tal taxi tinha virado.

Eu esperei.

Dias, semanas e meses, mas Alfonso cumpriu o que dissera e nunca me escreveu.

No começo fiquei desesperada e por 03 anos paguei - escondida do meu pai - um detetive particular em busca de respostas para o paradeiro do Alfonso. Respostas que eu nunca encontrei.

Até que perdi as esperanças. Então comecei a sair com um cara por insistência do meu pai e me obriguei a seguir minha vida e parar de esperar. Porém eu ainda rezava todas as noites para que algum dia eu tivesse notícias dele de novo.

Por Ti ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora