Como se apaixonar pela sua professora (em pausa)

Part 3

Abri minha boca como quem quer falar alguma coisa, e de fato queria, mas não sabia como começar

- Pode falar So! Não precisa ter medo- Bia falou percebendo minha vontade.

- Posso te pedir uma coisa? - ela fez que sim com a cabeça- Você se importa de manter isso entre nós? É que eu não contei isso nem pra minha melhor amiga ainda, é tudo muito novo...

- É claro Sofia!! Nunca contaria pra ninguém sobre um assunto seu. Mais do que isso, se você quiser, óbvio, me coloco a disposição pra quando você quiser conversar com alguém aqui na escola, ainda mais se você estiver no meio de uma crise. É só você ir até a inspetora de corredor e pedir para que ela me chame. Como eu só dou aula pro seu ano, tenho a maior parte dos períodos livres, então dificilmente estarei em aula.

Na hora senti meus olhos brilharem e minhas bochechas corarem. Por que ela faria isso por mim? Será que ela faria isso só por mim ou por todos os meus colegas?

- Obrigada, de verdade- foi a única coisa que consegui responder. Nunca tinha sentido esse cuidado comigo, ninguém nunca tinha se preocupado tanto comigo. Nem mesmo meus próprios pais.

Minha relação com meus pais era, no mínimo, complicada. Sabe quando dizem que coração de mãe não tem favorito? Então, não era assim que funcionava lá em casa... a atenção que meus pais davam ao meu irmão era muito maior do que a atenção que eu ganhava, isso que nossas idades tinham apenas dois anos de diferença. Ele agora tinha 15 anos, não precisava de toda essa atenção. Meus pais demoraram mais de um semestre pra perceber que eu realmente não estava psicologicamente bem. Sempre foi assim, já estava acostumada.
Lembro uma vez que eu estava tendo uma crise de ansiedade dentro do carro. Estava eu, meu irmão, minha mãe e meu pai. Eu estava aos prantos, tremendo, sem ar. Então meu pai vira pra trás, olha pro meu irmão e pergunta: você tá bem? Essa situação doeu, e muito. Nunca consegui esquecer.
Outra vez, lembro que meu pai chegou no quarto do meu irmão e falou: filho venha, vamos ver um filme em família, todo mundo junto. Fiquei esperando ele me chamar pra ver o filme em família. Não, não aconteceu.

- Imagina querida! - disse ela, me tirando dos pensamentos. - Agora vai pro banheiro, lava o rosto e desce pro pátio lanchar. Você precisa se alimentar e ainda tem 15 minutos.

Nessa hora, a voz dela voltou a ser como a professora impaciente que da ordem aos alunos. Ela me deu uma ordem: vá comer. E eu não sou nem louca de dizer não, apesar de não ter fome (outro sintoma da minha ansiedade).

- Pode deixar, Bia! De novo, obrigada! - falei já saindo da sala enquanto ela apenas acenou com a cabeça, satisfeita que cumpri sua ordem.