Part 22

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Agora já era tarde demais pra sair correndo. Minha mãe já tinha agarrado minha orelha e me arrastava até o meu quarto.

- ARGHHH... mãe!!!! Não foi nada demais, eu só perdi a hora e já pedi desculpas!!! - Eu implorava enquanto era arrastada pela orelha até meu quarto.

- CALA A SUA BOCA, SOFIA! ISSO É PRA VOCÊ APRENDER A SER MAIS RESPONSÁVEL- ela disse levantando a mão

PAFT- uma palmada acertou na minha bunda

- AÍ MÃE!

Ela finalmente soltou minha orelha, fechou a porta do quarto e agarrou meu cabelo, forçando minha cabeça pra baixo enquanto batia novamente na minha bunda e nas minhas costas. Tudo acabou acontecendo muito rápido. Só lembro de berrar de dor algumas (muitas) vezes, e da minha mãe pegando o meu celular e dizendo segundos antes de bater a porta do meu quarto ao sair com raiva:

- Vai ficar o resto do final de semana sem celular pra aprender a me obedecer!! - Ela ainda berrava.

Então me encontrei sozinha aos prantos no meu quarto, tentando entender quais partes do meu corpo estavam bem e quais estavam doloridas. Eu me sentia um lixo. Sentia que não merecia nem o olhar dos meus pais, quem dirá seus amores. Me sentia como a pior pessoa do mundo. Como se eu tivesse sido apenas um erro e nada mais.
Depois de finalmente conseguir entender a minha situação, lembrei da única ordem que Bia tinha me dado: mandar uma mensagem quando der. Ótimo! Agora sem celular não tinha nem como eu avisá-lá, a não ser que...
Abri meu computador, loguei no e-mail da escola e comecei a escrever para Bia:

Olá, professora Beatriz.
Como combinado, queria dizer que está tudo bem com o exercício que me passou durante aula.

Obrigada pela ajuda,
Sofia!

Pronto, enviado. Eu só torcia para que ela entendesse o que queria dizer com tudo isso. Não estava a fim de decepcionar meus pais e a Bia no mesmo dia.
Após tomar um bom banho frio, percebi que precisava de curativos pois haviam lugares das minhas costas que estavam em carne viva por conta da surra da minha mãe. Peguei os curativos de uma caixinha escondida no meu banheiro que tinha separado justo para ocasiões como estas e colei-os nos lugares mais marcados.

A próxima semana, na escola, era lotada das provinhas impostas pela coordenadora. Eram duas por dia, o que tornava tudo ainda mais intenso. Eu tinha estudado apenas para as três primeiras, então resolvi distanciar tudo da minha cabeça e apenas focar nas matérias. Passei sábado e domingo inteiros assim, e consegui estudar até as provas de quinta feira. Apenas domingo à tarde voltei a me lembrar de Bia, então abri meu e-mail à procura de uma resposta, e lá estava ele:

Olá, Sofia

Fico aliviada em saber que conseguiu realizar o exercício.
Até quarta-feira, Bia!

A felicidade em saber que ela tinha realmente compreendido o que queria dizer me aliviou. Ainda não tinha conversado com a minha mãe desde o acontecimento, eu precisava me sentir acolhida e amada por alguém, não conseguia fazer isso por mim mesma. Bia fazia eu me sentir assim, por isso não consegui deixar de sorrir ao ler seu e-mail.
Já eram 23:30 quando minha mãe finalmente me devolveu o celular. Não estava mais nem com energia suficiente pra ler tudo que tinha acontecido no último dia, só ativei meu despertador e capotei.

Acordei com apenas dois objetivos em mente: arrasar nas provinhas e ver a Bia! Sim, eu precisava dela, precisava sentir que era amada por alguém do mundo, que fazia alguém feliz.
Como de costume, fiz minha higiene pessoal, me arrumei e fui pra aula. Ambas as provas ocorreram nas duas primeiras aulas, seria assim pelo resto da semana: as provas vão acontecer nas primeiras aulas e o resto do dia continua normalmente.

Por incrível que pareça, não estava nervosa com as provas, minha cabeça estava muito mais focada em acabar rápido e encontrar a Bia do que as consequências caso eu não fosse bem em alguma delas... Acho que pela falta de nervosismo, acabei indo melhor do que o esperado. Resolvi a maioria das questões com facilidade em ambas as provas, só uma ou outra que empaquei um pouco mas acho que me dei bem. Quando eu entreguei a prova, ainda faltavam 15 minutos para o término da segunda aula. Falei para o professor, que estava aplicando a prova, que não me sentia muito bem e queria ir até a enfermaria. Após uma leve insistência (e um bom teatrinho) ele, por fim, me liberou.

Fui até a sala 302, no terceiro e último andar. Na minha escola, o andar de cima era mais voltado para recreação, contava com uma quadra, biblioteca, sala de informática e umas 2 ou 3 salas de aula "reservas". Era exatamente em uma delas que eu me encontrava. Preferi chamar Bia até o último andar pois era mais isolado e nos dava mais privacidade. Claro, ainda tinham câmeras por toda a parte, mas pelo menos não corríamos o risco de sermos pegas por algum aluno. Acabei com toda a espera e mandei uma mensagem:

Oi Bi! Tudo bem? Eu to na sala 302 aqui no 3º andar, poder vir aqui rapidinho?  Se não der, entendo totalmente!

Assim que a mensagem foi enviada, Bia já tinha visualizado e começou a digitar mas parou em seguida, deixando até de ficar on-line. Estranhei, mas não encasquetei muito com isso, deve ter sido algum aluno tirando dúvida ou algo do tipo...

Sabia que assim que ela entrasse na sala ao meu encontro, eu teria que contar tudo o que tinha acontecido, então comecei a relembrar
fato por fato, a partir do momento quando ela me pegou pela orelha até a angustiante falta de amor que tinha ficado bem clara entre a gente. A surra não doía mais, só os pedaços que antes estavam em carne viva. O que sobrou foi a sensação humilhante que eu me sentia, literalmente como lixo, indigna até do olhar da minha mãe, quem dirá seu amor. Relembrando disso tudo, deixei cair as primeiras lágrimas.
Minha situação só piorou quando começou a se misturar com uma crise de ansiedade. Eu me perguntava: e se a Bia achasse que é tudo um grande drama? E se ela achasse que eu não gosto de apanhar de nenhum jeito e quisesse cortar relações? E se ela estivesse brava que eu tinha a tirado de uma aula só pra isso?
Todas essas indagações pararam no segundo que a vi entrando na sala 302.

Como se apaixonar pela sua professora (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora